Premiê húngaro visita Helmut Kohl na Alemanha
19 de abril de 2016O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, visitou nesta terça-feira (19/04) o ex-chanceler federal alemão Helmut Kohl em Ludwigshafen, no sul da Alemanha. A visita foi interpretada como uma crítica velada do antigo chanceler alemão à política de refugiados de Merkel.
Kohl raramente recebe visitas de chefes de Estado ou de governo, e Orbán é um dos maiores críticos da chanceler federal alemã e ferrenho adversário da sua política de portas abertas para os refugiados. Kohl era o antigo mentor de Merkel e é, desde 2000, desafeto dela por causa do escândalo de financiamento irregular da União Democrata Cristã (CDU).
Mas também é verdade que Kohl e Orbán se conhecem de longa data. Kohl tem um carinho especial pela Hungria, pois, em 1989, quando ele governava a Alemanha, o então país comunista abriu sua fronteira com o Ocidente, permitindo que milhares de alemães-orientais fugissem para a Áustria e, de lá, para a Alemanha Ocidental. Na época, Orbán era um líder da oposição anticomunista.
Os dois mantiveram contato ao longo dos anos. Em 2000, quando Merkel conclamou o seu partido, a CDU, a virar as costas para o velho líder, envolvido no escândalo de financiamento irregular, Orbán o condecorou por ter ajudado a Hungria a se livrar do comunismo e se aproximar da Europa. Em 2002, foi a vez de Kohl ajudar Orbán, pedindo votos para o amigo numa eleição.
Em Ludwigshafen, Orbán entregou a Kohl um exemplar da edição húngara do livro Aus Sorge um Europa (Por preocupação com a Europa, em tradução livre). O livro escrito por Kohl tem prefácio de Orbán e um novo prefácio do próprio Kohl.
No novo texto, o antigo chanceler incluiu um trecho que observadores afirmam ser uma crítica a Merkel. Kohl escreve que "decisões unilaterais devem pertencer ao passado", o que seria uma referência à decisão de Merkel de abrir as fronteiras da Alemanha aos refugiados sem consultar os demais países europeus.
Em comunicado conjunto, Kohl e Orbán disseram, porém, não ver divergências entre as suas posições e os esforços da chanceler alemã na crise dos refugiados. "Vemos unidade na definição dos objetivos. Trata-se de achar o melhor caminho para milhões de pessoas numa questão existencial, considerando os aspectos humanitários." A questão, segundo eles, não é se a Europa deve ajudar, mas como.
O governo alemão descartou ver o encontro como provocação. "O ex-chanceler federal é obviamente totalmente livre na escolha de seus visitantes ou das pessoas com quem se encontra. Alegra-nos saber que o seu estado lhe permite participar de forma ativa da vida política", afirmou um porta-voz.
KG/ap/dpa/afp