Caso Sarrazin
3 de setembro de 2010O debate sobre o livro anti-islâmico do social-democrata de Thilo Sarrazin suscitou uma ampla discussão sobre integração de imigrantes na Alemanha. Em entrevista publicada nesta sexta-feira (03/09) pelo jornal turco Hürriyet, a chefe de governo Angela Merkel declarou que este é um dos temas mais importantes da atualidade.
O governo pretende marcar ainda para este ano a quarta "cúpula da integração" da história da Alemanha. Segundo o jornal Saarbrücker Zeitung, a data do encontro será divulgada nos próximos dias.
Enquanto isso, o presidente alemão, Christian Wulff, terá que decidir o futuro de Sarrazin, político do Partido Social Democrata (SPD) e integrante da direção do Banco Central alemão (Bundesbank). O conselho executivo da instituição concordou nesta quinta-feira em solicitar a retirada de Sarrazin do Bundesbank, após a publicação de seu controverso livro, Deutschland schafft sich ab (A Alemanha extingue a si mesma).
"O conselho do Banco Central alemão decidiu por unanimidade pedir ao presidente federal que demita o Dr. Thilo Sarrazin", comunicou em nota. Pelo cargo que ocupa, o político em questão só pode ser removido de sua função pelo presidente. O pedido chegou nesta sexta-feira à presidência.
Contra Sarrazin, a favor da integração
Ainda em entrevista ao jornal Hürriyet, Angela Merkel disse opor-se às idéias expostas no livro de Sarrazin, como declarações antimuçulmanas e afirmações sobre a constituição genética dos judeus.
Segundo a chanceler, há muitos exemplos de integração na Alemanha, mas também problemas. Uma das soluções para resolver as questões, segundo Merkel, é o investimento em educação e formação profissional.
O ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, disse em Berlim que não há uma solução imediata para resolver esses problemas e que, em se tratando de comportamento humano, é preciso tempo. Ainda segundo o ministro, o governo federal não precisa do impulso de um "provocador" como Sarrazin.
Conforme publicou o jornal Mainzer Allgemeine Zeitung, o presidente Wulff observou que "a maioria dos [imigrantes] recém-chegados toma parte dos cursos de integração com sucesso". No entanto, ele também reconheceu haver algumas deficiências na política de imigração, e que as exigências feitas aos estrangeiros precisam de reformulação.
Opinião pública
Os cidadãos alemães mostram-se divididos em relação aos comentários publicados no livro de Sarrazin. Numa pesquisa feita pelo instituto Emnid, a pedido da emissora N24, 51% dos participantes não consideram suas controvertidas teses motivo suficiente para destituí-lo do cargo no conselho do Banco Central, e somente 32% querem sua demissão.
Além disso, 56% culparam os próprios imigrantes por sua dificuldade de se integrar, enquanto 11% consideram os alemães responsáveis pelas falhas.
Por outro lado, em outra pesquisa realizada pelo instituto YouGov para o jornal Bild, 42% dos entrevistados declararam ser inaceitável manter Sarrazin em seu cargo no Bundesbankl, 34% apoiaram o político e 25% se disseram indecisos.
NP/rts/epd/apn/afp
Revisão: Augusto Valente