Presidente alemão na polêmica do lenço
7 de janeiro de 2004Se o uso do lenço for proibido para as professoras nas escolas estatais, tem de ser examinada também a presença de símbolos religiosos cristãos, como o crucifixo ou o hábito de monge, disse o presidente alemão social-democrata, pouco antes da virada do ano.
Com isso Johannes Rau resvalou para o fogo de críticas dos partidários de uma proibição do uso do pequeno pedaço de pano por professoras nas escolas alemães. Seus críticos mais veementes estão nas fileiras dos partidos cristãos CDU e CSU.
O presidente social-democrata nunca foi distanciado da religião. Pelo contrário, é filho de um pastor luterano, ele próprio sempre se qualificou como um pregador leigo, e na sua carreira de 40 anos sempre mostrou como é importante a tolerância e o diálogo entre religiões e culturas diferentes.
Pouco antes de encerrar o seu mandato de cinco anos na Presidência, Rau observou, numa entrevista, que está ancorado na Constituição um tratamento igualitário das religiões no espaço público, incluindo as escolas. Com isto a herança cristã não é questionada, nem o futuro da Alemanha como país essencialmente cristão depende de quantas pessoas usam o lenço na cabeça nas escolas. "O futuro depende tão somente de quantos cristãos convictos e dignos de fé existem no país", destacou o presidente Rau.
Expressão da opressão da mulher?
- Em sete estados alemães, no entanto, políticos estão decididos a criar a base legal para proibir as professoras islâmicas de usar o lenço sobre a cabeça nas salas de aula, porque acham que o pedaço de pano seria uma expressão de conduta político-agressiva ou missionária, que não se coaduna com a neutralidade imprescindível nas instituições estatais.O impulso para a iniciativa foi uma sentença ditada pelo Tribunal Federal Constitucional, em setembro de 2003, que classificou como inadmissível a proibição do lenço na cabeça para as professoras, enquanto não existir uma base legal para isto. Quer dizer, primeiro tem de ser aprovada uma lei sobre a proibição.
Polêmica nacional
- A sentença da corte constitucional alemã foi uma resposta a um recurso impetrado pela jovem professora de religião, Fereshta Ludin, de origem afegã, que havia sido impedida de lecionar no Estado de Baden-Württemberg ante a sua recusa de deixar de usar o lenço na cabeça em sala de aula. Embora em outros estados alemães mais de uma dúzia de professoras dêem aulas com o tradicional lenço das muçulmanas, sem problemas, o caso Baden-Würtenberg gerou uma polêmica nacional.Para uns, o uso do lenço não invalida o princípio de neutralidade e o mais importante é o que uma professora tem dentro da cabeça e não sobre a cabeça. Mas para outros o pequeno pedaço de pano não seria apenas símbolo de uma religião, mas também de opressão da mulher, ao passo que o hábito dos monges e o crucifixo seriam expressão da cultura cristã de quase 2000 anos do Ocidente.
O debate parece absurdo para muitos, porque vivem na Alemanha aproximadamente três milhões de muçulmanos, mas a discussão às vezes deixa transparecer um certo medo de que uma professora com lenço na cabeça possa fazer do país um Estado talibã (regime radical islâmico do Afeganistão, derrubado pela guerra liderada pelos Estados Unidos). Parece igualmente absurdo que funcionários públicos e políticos alemães queiram lutar pela "libertação" das mulheres muçulmanas, tirando o lenço da cabeça de uma dúzia de professoras.