Presidente ucraniano sob pressão depois de congelar acordo com a UE
28 de novembro de 2013Viktor Yanukovitch raramente faz uso de uma retórica muito floreada. Os discursos do presidente ucraniano costumam ser secos – mas neste caso foi diferente. Numa coletiva de imprensa em Viena, ele mencionou a recente decisão do seu governo de suspender um acordo de associação com a União Europeia (UE), dizendo que "talvez, neste ponto da caminhada e antes de chegar ao topo da montanha, o clima não tem sido favorável".
Mas Yanukovitch conseguiu passar a mensagem de que a Ucrânia deverá continuar tentando se aproximar da UE, mas que esse movimento precisa de uma pausa. O acordo de associação estava programado para ser assinado nesta quinta-feira (28/11), dia do início de uma cúpula de dois dias da iniciativa europeia para a Associação Oriental em Vilnius, capital da Lituânia. A parceria do bloco dos 28 quer aproximar países do Leste Europeu e do Cáucaso da UE.
Com a descrição deste clima "não tão favorável", Yanukovitch provavelmente quis passar duas mensagens. Primeiramente, seu governo justificou a decisão de congelar o acordo de associação com a UE com a pressão que vem sofrendo da Rússia – já que Moscou ameaça a Ucrânia com restrições comerciais caso a ex-república soviética assine o acordo e estabeleça uma zona de livre comércio. "Yanukovitch está certamente sob enorme pressão", disse o ex-embaixador alemão para a Ucrânia, Dietmar Stüdemann, à Deutsche Welle. Ele acredita que Moscou deve pressionar ainda mais daqui em diante.
Yanukovitch também deu a entender que a ex-primeira ministra e líder da oposição ucraniana, Julia Timoshenko, permanecerá sob custódia. A libertação dela é uma das principais condições estabelecidas por Bruxelas para a assinatura do acordo. No entanto, nem Yanukovitch, nem as instituições controladas por uma maioria no Parlamento ucraniano demonstraram interesse em resolver o caso de Timoshenko.
Há meses, políticos europeus bombardeiam o presidente ucraniano com apelos para a assinatura do acordo. Aparentemente, a pausa nas relações com Bruxelas deve aliviar as pressões e evitar que Yanukovitch passe vergonha em Vilnius, segundo os cálculos do governo em Kiev. Porém, de acordo com observadores, talvez esta lógica precise ser revista.
Manifestantes pedem mudanças
Há cerca de uma semana, milhares de pessoas protestam na Ucrânia a favor de uma maior aproximação com a UE. O epicentro das manifestações é Kiev, onde um mar de bandeiras azuis com estrelas, simbolizando a Europa, domina a paisagem.
Os protestos são chamados pela população de "Euromaidan", uma referência à chamada "Revolução Laranja" na Praça da Independência (Maidan Nezalezhnosti) na capital ucraniana, em 2004. Há exatamente nove anos, protestos em massa reivindicavam uma recontagem dos votos das eleições presidenciais, que muitos ucranianos acreditam terem sido manipuladas pelo governo de Yanukovitch.
Desta vez, porém, o clima parece ser outro. "Na época, havia grandes esperanças de mudança", disse à DW Florian Kellermann, um jornalista independente alemão que escreve sobre a Ucrânia há mais de dez anos. Agora, a esperança é "significativamente menor". Ele diz que, "as pessoas podem até protestar a favor de um acordo com a UE e contra as ações das autoridades políticas, mas não têm nada de concreto contra o governo." Kellermann acha que os atuais protestos são apenas simbólicos e que não terão qualquer efeito.
Divisão entre Leste Europeu e Ocidente permanece
O jornalista também alerta para o fato de que a Ucrânia não está necessariamente tomada pela febre europeia. Ele explica que a oposição ucraniana quer dar a impressão de que todo o país está a favor da integração com a UE, mas "pesquisas mostram que não é bem assim."
Segundo uma pesquisa do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev (de sigla original KMIS) realizada em novembro, o país está dividido. O resultado mostra que 39% dos ucranianos votariam a favor da adesão da Ucrânia à União Europeia num referendo – mesmo que a questão ainda não esteja sendo discutida.
Por outro lado, 37% dos ucranianos disseram ser a favor da integração com a Rússia e com outras ex-repúblicas soviéticas numa união aduaneira. Tal oferta de Moscou já está nas mãos do presidente ucraniano. Principalmente no leste e no sul da Ucrânia, muitos acham um acordo com a Rússia mais interessante do que um com a UE.
Um pesquisa conduzida pela DW também em novembro obteve um resultado parecido: 37% se mostraram a favor da Ucrânia juntar-se à UE nos próximos cinco anos. Em geral, mais do que metade dos entrevistados deseja que a Ucrânia seja, um membro com plenos direitos no futuro.
Exemplo da Moldávia pode aumentar pressão sobre Ucrânia
A pressão sobre o presidente Yanukovitch parece estar crescendo por todos os lados. Manifestantes conseguiram recentemente o apoio de Timoshenko. Na segunda-feira (25/11), a líder da oposição começou uma greve de fome, exortando o presidente a mudar de ideia sobre o acordo de associação.
A UE também não desistiu. Mesmo lamentando a decisão do governo ucraniano, Bruxelas sinalizou que ainda quer assinar o acordo rapidamente. "A União Europeia vai fazer de tudo para levar o acordo de associação até o final", disse o ex-embaixador alemão Dietmar Stüdemann.
Enquanto isso, em Vilnius, é provável que o presidente ucraniano – mesmo se sentindo desconfortável por causa da decisão de congelar as negociações – seja um dos convidados mais cortejados.
À luz da decisão da Ucrânia, é de se esperar que a Moldávia se torne o novo modelo de país pós-soviético do Leste Europeu. Se Bruxelas, como tudo indica, decidir suspender o requisito de vistos para a população moldava dentro de pouco tempo, o presidente ucraniano vai continuar pressionado. Quando o assunto é Europa, a liberdade de poder viajar livremente pela UE é um dos maiores desejos de muitos ucranianos.