Prisão de bilionário pode ser alerta para a elite empresarial russa
18 de setembro de 2014O bilionário russo Vladimir Yevtushenkov ganhou destaque na mídia internacional após sua detenção nesta terça-feira (16/09). Acusado de lavagem de dinheiro na compra da petrolífera russa Bashneft, em 2009, o empresário de 65 anos cumpre agora prisão domiciliar e usa uma algema eletrônica. Segundo a revista Forbes, ele é a 15ª pessoa mais rica da Rússia, com uma fortuna de 9 bilhões de dólares.
Ao contrário da maior parte dos magnatas russos, Yevtushenkov não ganhou bilhões investindo em matérias-primas, mas principalmente no setor de tecnologia da informação. O centro de seu conglomerado AFK Sistema é a operadora de telefonia móvel MTS, uma das três líderes de mercado na Rússia.
Yevtushenkov também é dono de conjuntos hospitalares, empresas farmacêuticas, meios de comunicação e fabricantes de máquinas. Além disso, desde 2009 detém 80% da Bashneft, que opera na República do Bascortostão (também chamado Basquíria), uma unidade da Federação Russa.
A notícia da prisão do empresário atingiu Moscou como uma bomba: as ações da AFK Sistema perderam um terço do valor. "Tudo isso se assemelha muito a um caso 'Yukos número 2'", diz o presidente da União de Industrialistas e Empresários Russos, Alexander Shokhin.
Ele não é o único que faz a comparação com o antigo dono da petrolífera Yukos, Mikhail Khodorkovsky. O empresário, que era considerado o homem mais rico do país e visto como o maior rival de Vladimir Putin, foi preso em 2003, acusado de crimes financeiros, como fraude e evasão fiscal. Grande parte da Yukos foi, então, comprada pela estatal Rosneft.
Desde a prisão do magnata, não houve mais nenhum processo judicial polêmico envolvendo grandes empresários na Rússia. Para Shokhin, a semelhança entre os casos da Yukos e da Bashneft está no fato de, mais uma vez, o sistema judicial russo ter levantado acusações difíceis de se compreender.
"O chefe de uma empresa, que pagou 2,5 bilhões de dólares por ativos, é acusado de se apropriar dessas ações e lavar dinheiro", diz. "Se a privatização da Bashneft foi acompanhada de irregularidades, não há motivos para se fazer acusações contra um comprador que comprou ativos depois dessa etapa [a privatização]."
Ligações misteriosas
O ex-vice-chefe de governo e presidente da empresa de nanotecnologia Rosnano, Anatoly Chubais, considera um mistério o fato de a Justiça ter encontrado uma conexão entre Yevtushenkov e a privatização da Bashneft. "Eu li o texto da acusação e não consigo entendê-lo", afirma.
Em Moscou, observadores estão intrigados com o que deve estar por trás da acusação. Poucos acreditam que haverá uma investigação justa sobre possíveis violações da lei. Um ex-gerente da AFK Sistema, que pediu para não ser identificado, declarou à DW que a o atual chefe da Rosneft, Igor Sechin, uma pessoa próxima do presidente Putin, pode estar por trás do caso.
De fato, a Rosneft, maior petrolífera estatal do país, teria considerado a aquisição da Bashneft, mas o preço exigido foi alto demais. Pouco depois de o negócio não se concretizar, começaram as investigações que agora resultaram na detenção de Yevtushenkov e na consequente queda do valor de mercado da Bashneft. Em anonimato, um ex-gerente da AFK Sistema disse que, mais cedo ou mais tarde, virá à tona se a Bashneft mudou de mãos – e a que preço.
Negócios prejudicados
A prisão domiciliar de Yevtushenkov também pode ser um sinal político para a elite empresarial russa. Na época em que foi preso, Khodorkovsky havia apoiado ativamente a oposição no país, mas essa não foi a acusação pela qual ele foi detido.
Um novo processo contra um grande industrial poderia ser uma demonstração de poder do Kremlin. Ao mesmo tempo, poderia ser uma advertência para que os empresários do país não se oponham ao curso antiocidental de Putin.
"Esse ato da Justiça representa um duro golpe para o clima de negócios na Rússia, num momento em que a economia do país está entre a recessão e a estagnação", analisa Chubais.
Khodorkovsky também acha que não poderia ter sido escolhido um momento pior para a prisão de Yevtushenkov. Em seu "exílio" na Suíça, ele diz acreditar que Sechin possa estar por trás da manobra.