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Proibição da Irmandade Muçulmana acirra ainda mais os ânimos no Egito

Markus Symank (ca)24 de setembro de 2013

Cresce o temor de que a violência aumente após um tribunal do Cairo declarar a Irmandade Muçulmana ilegal. Islamistas criticam a decisão e falam em retrocesso.

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Foto: Reuters

Após a queda do governo de Mohammed Morsi, boa parte da liderança da Irmandade Muçulmana foi presa. Outros estão escondidos. Nesta segunda-feira (23/09) um tribunal do Cairo deu um novo golpe na organização islâmica mais antiga do Egito: num processo sumário, o juiz encarregado Mohamed al-Sayed declarou a Irmandade Muçulmana ilegal. A justificativa é que ela põe em risco "a segurança nacional". Ao mesmo tempo, o tribunal decidiu confiscar o patrimônio e os imóveis dos membros da Irmandade. Os ativistas islâmicos ainda podem apelar da decisão.

Desde a queda de Morsi, em 3 de julho último, as forças de segurança egípcias prenderam mais de 2 mil islamistas, incluindo quase toda a liderança da Irmandade Muçulmana. Muitos membros vivem agora escondidos, mal ousam sair de casa. Como um cirurgião que vive num bairro residencial de classe média no Cairo: o pai de família participa há anos da organização, e dá declarações apenas em condição em anonimato. Sobre o governo egípcio, ele disse: "Querem fazer o país retroceder 50 ou 60 anos, quando a Irmandade Muçulmana era uma organização proibida e não podia agir livremente."

"Um grande teatro"

Em 1954, após uma sangrenta luta de poder travada com o Exército, o presidente Gamal Abdel Nasser proibiu a Irmandade Muçulmana. Também na época do ditador Hosni Mubarak a organização enfrentou dificuldades: líderes dos islamistas passaram muitos anos atrás das grades. Mas, de modo geral, o autocrata deposto em fevereiro de 2011 concedeu mais liberdades aos membros da Irmandade Muçulmana. Eles foram autorizados a pregar nas mesquitas e políticos da organização puderam participar de eleições parlamentares como candidatos independentes.

Após a revolução de janeiro de 2011, a Irmandade Muçulmana criou um braço político, o Partido da Liberdade e Justiça. Em março do mesmo ano, ela se registrou como organização não governamental. Agora, com a decisão do tribunal, o status de legalidade da organização ameaça se tornar um breve interlúdio nos 85 anos de história da Irmandade Muçulmana.

Em frente a uma mesquita no sul do Cairo, conhecida como popular ponto de encontro de islamistas, há debates acalorados sobre a decisão do tribunal. Um estudante com barba longa e túnica branca diz ser simpatizante da Irmandade Muçulmana. Ele reclama do novo homem forte do país, o chefe do Exército, Abdel Fattah al-Sisi: "Isso tudo é um grande espetáculo, organizado pelo serviço secreto. Al-Sisi ofende nossa inteligência. Onde ficam a liberdade e a dignidade nas coisas que ele faz?"

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Apoiador da Irmandade Muçulmana carrega cartaz do presidente deposto Mohammed MorsiFoto: Mahmud Hams/AFP/Getty Images

Protestos continuam

No Egito, é grande o temor de que partes da organização islamista possam se radicalizar na clandestinidade. Nas últimas semanas já aconteceram dezenas de ataques sangrentos contra as forças de segurança, que ocasionaram a morte de mais de cem policiais. No início de setembro, um grupo jihadista radicado na Península do Sinai praticou um atentado a bomba contra o ministro do Interior, Mohamed Ibrahim.

Ao mesmo tempo, perduram também as manifestações pacíficas dos islamistas no Cairo e em outras metrópoles. O cirurgião e membro da Irmandade Muçulmana do Cairo se diz convencido de que tais protestos ganharão força após a proibição da organização islâmica. "Nós já estamos pensando em novos caminhos para pressionar os golpistas e forçá-los a conversar conosco. A revolução está crescendo. O golpe militar ganha novos inimigos a cada dia", diz ele, em tom confiante.

Danos à economia?

Alguns membros da Irmandade Muçulmana também acreditam que o veredicto prejudicará mais ainda a arrasada economia egípcia – fazendo com que a população se volte contra os novos governantes. No passado, as organizações de caridade da Irmandade, espalhadas por todo o país, serviram como uma rede de segurança social para as camadas mais desfavorecidas da população.

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Simpatizantes pró-Morsi no CairoFoto: Reuters

Refeições para pobres, agência de empregos, medicamentos gratuitos: durante décadas, a Irmandade Muçulmana preencheu as lacunas deixadas pelo Estado corrupto. Mas, desde a queda de Morsi, a organização teve de fechar muitos de seus inúmeros serviços de apoio.

Nem todos os egípcios acham isso ruim. Para muitos, os islamistas só queriam comprar votos. Mustafá Khaled, um muçulmano devoto, declara: "Mohammed Morsi não serviu para nada. Ele falou muito e fez pouco. Sou um homem pobre, tenho cinco filhos. A Irmandade Muçulmana não fez nada por mim".

Para a Irmandade Muçulmana, a proibição desta segunda-feira foi apenas o início de uma maratona jurídica: em outubro, dezenas de líderes da organização deverão comparecer perante o qadi (juiz), entre eles o presidente deposto Morsi. Além disso, em dezembro, um tribunal de Alexandria deverá decidir se a Irmandade Muçulmana será classificada como organização terrorista.