Projeto coordenado por brasileiro ganha prêmio na Alemanha
13 de junho de 2017Há sete anos, o projeto atualmente comandado pelo brasileiro Diego Soares tematiza a diversidade sexual e de gênero na escola Kurt-Schwitters, em Berlim. O reconhecimento a nível nacional do chamado Clube do Respeito veio neste ano. A iniciativa foi a grande vencedora da primeira edição do concurso fair@school da Agência Federal Antidiscriminação (ADS), que premiou iniciativas escolares de combate ao preconceito.
"O Clube luta pela valorização e aceitação da diversidade sexual e de gênero. Com vários projetos e ações criativas, alunos e professores são convidados a vivenciar situações, geralmente, vivenciadas por LGBTs. Trata-se de respeito e valorização, mas também de criatividade e diversão, que combinados contribuíram para melhorar o clima na escola toda", afirmou Christine Lüders, coordenadora da ADS, durante a cerimônia de entrega do prêmio, que ocorreu nesta terça-feira (13/06) em Berlim.
O Clube do Respeito reúne uma série de projetos que debatem a diversidade sexual e de gênero, com o objetivo de promover o respeito e valorizar essa diversidade. Entre as ações da iniciativa estão o Dia da Roupa Queer, no qual alunos e professores participaram de um desfile voltado a questionar o papel dos gêneros; exposições de cartazes sobre personalidades LGBTs; ou ainda a visita a um asilo para homossexuais em Berlim.
O Clube do Respeito surgiu da iniciativa de alguns professores que sentiram a necessidade de promover a questão da diversidade no ambiente escolar. Através de diferentes ações, alunos e os próprios professores são convidados a refletir sobre o tema por meio da experiência vivenciada no projeto. Há três anos e meio, o psicólogo brasileiro Diego Soares foi contratado na Kurt-Schwitters como assistente social e passou, então, a coordenar a iniciativa.
"A escola é um microcosmo da sociedade e eu sei o que é sofrer discriminação na mais tenra idade e o que significa poder proporcionar aos alunos e alunas algo que eu e muitas pessoas nunca tiveram e ainda não têm em suas escolas. Para mim ser valorizado e ser reconhecido, neste contexto e neste quesito, é muito importante", disse sobre o prêmio Soares, que vive há sete anos na Alemanha.
Respeito e liberdade
Desde que foi colocado em prática, o projeto trouxe mudanças positivas para o ambiente escolar. De acordo com Soares, a iniciativa ajudou a reduzir, por exemplo, o uso de palavras como "viado" ou "lésbica" como xingamento. "Percebi que isso quase não acontece mais, e quando acontece posso tematizar imediatamente e mostrar que há pessoas que não acham isso engraçado".
Soares diz que o Clube do Respeito contribuiu ainda para que alunos encontrem na própria escola um ambiente no qual podem assumir a sexualidade e identidade de gênero.
O estudante Samuel Bartelt, de 18 anos, afirma que o projeto foi importante para ele poder assumir a homossexualidade perante os familiares e a sociedade. "Estou muito orgulhoso de ter conseguido fazer isso com o apoio da escola e do Clube do Respeito", afirmou.
Para Bartelt, a iniciativa contribuiu também para que a diversidade fosse normalizada dentro da escola. "Acho que em outras escolas não teria a opção de mostrar abertamente como eu realmente sou", concluiu.
Fair@school
No concurso fair@school, que premiou projetos que combatem a discriminação no cotidiano escolar e que podem servir de modelo para outras escolas, o Clube do Respeito concorreu com outras 50 escolas da Alemanha.
Depois de ter sido selecionado entre os finalistas, Soares contou que outras escolas da Alemanha já entraram em contato para saber mais sobre o projeto, interessadas em desenvolver iniciativas semelhantes.
Além do Clube do Respeito, outros dois projetos ficaram entre os três finalistas do concurso. O segundo lugar ficou com um projeto multimídia promovido pela escola Nohfelden-Türksmühle, do estado de Sarre, que pesquisou sobre a história da comunidade judaica do município de Nohfelden e reuniu os resultados numa exposição.
O terceiro lugar ficou com o projeto Laut:::stark, da Escola em Goldberg, na cidade de Heusenstamm, no estado de Hessen. Durante uma semana, os alunos da escola especial treinam como reconhecer perigos e reagir em situações de emergência, com técnicas de jiu-jitsu, por exemplo. O treinamento parte das necessidades e experiências discriminatórias vividas pelos próprios alunos.