Projeto do governo francês para liberalizar economia gera controvérsia
10 de dezembro de 2014O governo da França anunciou nesta quarta-feira (10/12) um pacote de reformas controversas para dinamizar a economia em crise do país e evitar sanções da União Europeia. Entre elas está um plano para expandir a abertura do comércio aos domingos, o que provocou indignação em alguns setores. Segundo sondagens, entretanto, maioria dos franceses é a favor das medidas.
As propostas também incluem um plano para abrir setores da economia tradicionalmente fechados, como o dos tabeliães, que têm monopólio sobre certas transações, por exemplo, as que envolvem o comércio de imóveis. Representantes das categorias atingidas anunciaram protestos.
"Lei visa eliminar obstáculos"
"Esta não é uma lei sobre as profissões protegidas ou sobre o trabalho aos domingos", diz o texto da proposta. "Esta é uma lei que visa eliminar, de forma pragmática, os obstáculos que identificamos em diversos setores, para liberar o potencial inexplorado para crescimento e atividade econômica."
Emmanuel Macron, ex-banqueiro francês de 36 anos que se tornou ministro da Economia, apresentou as medidas sob o olhar atento da União Europeia e da Alemanha, que reprovou recentemente seu vizinho por não fazer o suficiente para dinamizar sua economia. Macron tem tido papel fundamental na guinada do governo do presidente François Hollande rumo a uma política mais liberal.
Outras medidas incluem a abertura de concorrência para rotas intermunicipais de ônibus e a venda de entre cinco e 10 bilhões de euros em ativos estatais.
Mas é a proposta envolvendo a abertura do comércio aos domingos que desencadeou uma tempestade de críticas, mesmo entre os socialistas que governam o país.
Esquerda do PS é contra
Lojas de varejo atualmente podem pedir permissão para abrir em cinco domingos por ano, mas Macron quer expandir essa cota para 12. O comércio situado em "zonas turísticas internacionais" também será autorizado a abrir até meia-noite e aos domingos durante todo o ano. "Será que queremos que milhões e milhões de turistas, principalmente da China, que vêm à capital nos deixem e vão fazer suas compras em Londres, em um domingo?" questionou o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, em uma entrevista recente.
No entanto, membros da ala esquerda do Partido Socialista (PS) afirmaram que vão votar contra as medidas, quando elas forem levadas ao Legislativo, o que deve ocorrer em janeiro. Os deputados argumentam que elas "lançam dúvidas sobre todas as batalhas históricas da esquerda".
Uma esperança para Hollande, cuja política econômica é considerada ruim por quase 90% dos franceses, de acordo com uma pesquisa recente, é que quase 60% dos cidadãos são a favor dessa lei, como mostrou a mesma sondagem.
MD/afp/rtr/ap