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Protestos devem ofuscar visita de Erdogan à Alemanha

24 de setembro de 2018

Visita de dois dias marca tentativa de reaproximação, que interessa tanto a Berlim como a Ancara. Mas passagem do presidente turco será acompanhada de protestos nas ruas e de críticas da oposição alemã.

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Erdogan
"Objetivo mais importante da minha visita é deixar totalmente para trás essa fase nas nossas relações", declarou ErdoganFoto: picture-alliance/AA/M. Kula

A visita de dois dias à Alemanha do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que começa nesta quinta-feira (27/09), marca uma tentativa de reaproximação entre os dois países, depois de os laços terem se desgastados devido, entre outras razões, à situação dos direitos humanos e à detenção de alemães acusados de terrorismo na Turquia.

"O objetivo mais importante da minha visita à Alemanha é deixar totalmente para trás essa fase que tivemos nas nossas relações nos últimos anos", declarou Erdogan.

Agora um presidente com plenos poderes, Erdogan tem dado passos de reaproximação com alguns países europeus, ao mesmo tempo em que se elevam as tensões com os Estados Unidos devido a várias questões, incluindo a prisão de um pastor cristão.

A disputa diplomática e comercial com Washington, também um aliado na Otan, desencadeou uma crise cambial na Turquia, com a lira turca perdendo quase 40% de seu valor em relação ao dólar desde o início do ano.

A Alemanha teme que um colapso econômico da Turquia possa respingar na Europa, pôr em risco um acordo europeu sobre refugiados e minar a unidade da aliança militar da Otan, levando Ancara a se aproximar de Moscou.

Instabilidade preocupa

O Banco Central Europeu manifestou preocupação de que bancos da zona do euro – especialmente em países como Espanha, Itália e França – sejam afetados pela instabilidade econômica na Turquia.

Ambos os lados ressaltaram que Ancara não pedirá ajuda financeira a Berlim, e Merkel disse que uma Turquia economicamente próspera também é do interesse da Alemanha. "Não devemos esperar um resultado milagroso desta visita", disse o economista Mustafa Sonmez à agência de notícias DPA. "Ambos os lados precisam um do outro apenas por certas razões."

Para o especialista, as conversas deverão ser dominadas pela guerra na Síria e, especialmente, a situação em Idlib – o bastião da oposição no noroeste da Síria, onde a Turquia e a Rússia chegaram a um acordo surpresa em face de uma invasão pelo regime sírio. "A Alemanha tentará deixar uma impressão amistosa durante a visita, tendo em mente planos para conter a questão dos refugiados com a ajuda da Turquia", acrescenta.

Também na agenda estarão as oportunidades de investimento e os casos de cidadãos alemães presos na Turquia, além de um possível retorno das negociações de adesão da Turquia à União Europeia.

Alemães presos

Um homem foi libertado da prisão na quinta-feira passada na Turquia, reduzindo para cinco o número de alemães que ainda estão presos pelo que Berlim classifica como motivos políticos.

A filha de Enver Altayli, de 72 anos, um dos alemães presos na Turquia, iniciou há pouco mais de uma semana uma campanha na internet pela libertação de seu pai. A petição online já conta com cerca de 18 mil assinaturas.

Manifestantes contrários à visita de Erdogan carrregam faixas durante protesto nas ruas de Berlim
Manifestantes contrários a Erdogan durante protesto em Berlim contra visita de presidente turcoFoto: picture-alliance/dpa/P. Zinken

Erdogan também deve tocar no assunto dos acusados de participar do golpe de Estado fracassado na Turquia, de dois anos atrás, que hoje vivem exilados na Alemanha. Desde 2016, a Turquia solicitou 848 pedidos de buscas de pessoas em solo alemão, de acordo com o Ministério da Justiça alemão.

A mídia turca pró-governo diz que o presidente também pode tematizar as atividades na Alemanha do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que é classificado como um grupo terrorista por Turquia, UE e EUA.

Boicote ao banquete oficial

Mas há um desconforto generalizado na Alemanha em torno da visita do presidente turco, que agora é chefe de Estado e de governo, com poderes que a oposição diz serem similares aos de um "governo de um homem só".

Erdogan será recebido com honras militares na Alemanha – mas também com protestos nas ruas, tanto em Berlim como em Colônia. Já na fim de semana passada houve manifestações contra ele em várias capitais alemãs.

Além disso, legisladores da oposição, como o líder do Partido Liberal (FDP), Christian Lindner, o deputado Sevim Dagdelen, do partido A Esquerda, e os líderes do Partido Verde, Annalena Baerbock e Robert Habeck, anunciaram que boicotarão o banquete de Estado oferecido ao político turco pelo presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier.

Embora não esteja previsto que Erdogan faça discursos públicos, ele deverá inaugurar a maior mesquita da Europa em Colônia, no sábado. Cerca de 3 milhões de pessoas de origem turca vivem na Alemanha, e a maioria delas apoia Erdogan.

O líder turco sempre foi uma figura polarizadora na Alemanha, sendo motivo de debates e de manifestações, mesmo quando ausente. No mês passado, apoiadores e opositores de Erdogan entraram em confronto por causa de uma estátua dourada do presidente turco de quatro metros de altura, construída em Wiesbaden, no sudoeste da Alemanha. A obra – recebida com surpresa e perplexidade por parte dos moradores da cidade – fazia parte da Bienal de Arte Contemporânea de Wiesbaden, cuja edição atual ocorre sob o slogan "Más notícias", e foi rapidamente removida após a controvérsia.

MD/afp/dpa/ard

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