Protestos no Brasil são principal assunto na imprensa alemã
18 de junho de 2013Nos últimos dias, as imagens de torcedores sorridentes e sambistas foram definitivamente substituídas no noticiário internacional sobre a Copa das Confederações. No lugar delas entraram imagens de lojas e carros em chamas, fumaça de bombas de gás, batalhas campais entre manifestantes e polícia.
Na manhã desta terça-feira (18/06), as manifestações nas maiores cidades brasileiras foram o principal tema em alguns dos maiores sites de notícias da Alemanha, como Spiegel Online, Süddeutsche.de e Tagesschau.de.
"O Brasil vive uma das piores ondas de protestos de sua história", afirma reportagem desta terça-feira (18/06) publicada na página do canal alemão de notícias n-tv. O texto lembra que os protestos, que começaram devido a um aumento de preço de passagens, agora se dirigem contra a "corrupção e os gastos milionários do governo com os megaeventos".
A página do tabloide Bild, jornal de maior tiragem da Europa continental, noticia que "200 mil brasileiros foram às ruas", acrescentando que a "revolta contra injustiças sociais é grande". Fotos de incêndios, policiais feridos sendo carregados e manifestantes mascarados depredando o prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro ilustram a matéria. Abaixo, a legenda "chamas e violência um ano antes da Copa do Mundo".
Os protestos são destaque também no site Spiegel Online, um dos mais lidos da Alemanha. "Brasileiros se levantam contra festas esportivas milionárias", titula o site. Além dos gastos públicos com a Copa e os Jogos Olímpicos, a matéria cita ainda a inflação, a corrupção e as remoções forçadas por causa de obras de infraestrutura como motivos para as manifestações.
Já o site Tagesschau.de, de um dos maiores telejornais alemães, traz como manchete "A causa são 10 centavos". A matéria do correspondente de Buenos Aires comenta que os brasileiros protestam contra os elevados custos da Copa do Mundo, e que tudo começou "com um aumento em todo o país do preço da passagem do transporte público em 20 centavos, nem mesmo 10 centavos de euro". Segundo um manifestante citado na matéria, esses 20 centavos "foram a gota d'água".
"Corruptos demais"
Na presença online do conceituado jornal Süddeutsche Zeitung, um dos maiores da Alemanha, os tumultos brasileiros eram o principal destaque na manhã desta terça-feira, chegando ao alto de página. No subtítulo da reportagem, o diário sentencia que "mesmo para os brasileiros, fanáticos por futebol, os custos [da Copa] são elevados demais, e os políticos e dirigentes [esportivos] corruptos demais".
O enviado especial do periódico ao Brasil escreve que, enquanto estádios condenados a virar "elefantes brancos" são construídos a preços milionários, setores como educação e saúde "sangram", citando um dossiê revelado pela equipe do deputado federal Romário, segundo o qual "entre 2002 e 2010 quase a metade das escolas foram fechadas, principalmente no interior".
O correspondente do Handelsblatt, diário alemão especializado em economia, vaticina que "os protestos inflamados podem ser o começo do fim da presidência" de Dilma Rousseff, embora o jornalista reconheça que ela ainda seja favorita para a eleição do ano que vem. Em seu comentário sobre os tumultos no Brasil, ele lembra das ondas de manifestações estudantis anteriores que começaram "difusamente", mas acabaram provocando "terremotos políticos", referindo-se indiretamente ao movimento que levou ao impeachment de Fernando Collor de Melo ou às passeatas pelas Diretas Já.
"Tapa na cara"
O repórter do suíço Neue Zürcher Zeitung também traça um paralelo com o fim da gestão Collor e explica, em sua reportagem, que os aumentos de preços de passagens foram apenas "a última gota", que fez transbordar as frustrações populares, representadas por "um ensino público sucateado, uma medicina de duas classes distintas, uma política de transporte orientada para o transporte individual e a violência nos estádios". São problemas que, segundo ele, contrastam "com uma arrecadação cada vez maior do Estado", que "gasta bilhões nos megaeventos esportivos", situação considerada por muitos "um tapa na cara".
O espanhol El País reflete a perplexidade do governo brasileiro com a revolta das ruas na matéria Brasil, um sonhou ou um pesadelo? A reportagem destaca que uns consideram o momento um "sonho de democracia, um despertar, depois de anos de silêncio", para expressar insatisfação com a "qualidade de vida oferecida pelo governo, com a corrupção e com o desperdício de dinheiro público", mas que pode acabar em pesadelo "pelos gestos de violência de alguns grupos extremistas". O periódico sublinha que a grande maioria dos brasileiros se manifesta pacificamente por uma "democracia mais autêntica, mais participativa".