Centro artístico
23 de abril de 2011Ele faz parte do roteiro de muitos turistas que visitam Berlim. Tacheles é um centro cultural alternativo que ficou famoso no mundo todo como um lugar único para artistas independentes e como um símbolo do despertar criativo berlinense nos anos posteriores à queda do Muro. Agora, os artistas e o prédio que ocupam estão ameaçados porque investidores querem há muito construir ali apartamentos de luxo.
Na placa do restaurante de comida austríaca de luxo está escrito "Bisel – junto ao Tacheles”. Clientes de todo o mundo saboreiam aqui pratos caros e refinados próximo do prédio famoso mundialmente. Todos lucram com a marca Tacheles, os turistas, os artistas e o comércio. Este prédio, tomado e administrado por um grupo de artistas no centro histórico de Berlim, é único.
Tudo começou em 1990, após a queda do Muro, quando um grupo de artistas ávidos pela liberdade que não usufruíram na Alemanha Oriental ocupou as ruínas do que havia sido uma grande loja de departamentos antes da guerra. A parte dianteira, com entrada e escadaria, ainda estava relativamente intacta, ainda que bastante suja e cinzenta, assim como os prédios ao redor. A Alemanha Oriental havia deixado que o bairro caísse aos pedaços, pouco se importando com sua tradição judaica, literária e política.
Nick Cave e Peaches
Há 21 anos, vibra neste local a vida artística em suas muitas facetas. Nick Cave e Peaches tinham uma sala para ensaios no prédio, onde até uma orquestra sinfônica já se apresentara. Em 30 ateliês trabalharam centenas de artistas de todo o mundo, muitos japoneses, bielorrussos e italianos. Eles tomaram posse da casa, a pintaram, exibiram nela esculturas de metal e telas.
No piso térreo, foi aberto um dos primeiros bares da nova cena local. Berlim tombou o prédio como patrimônio público. Dentro e em torno dele se criou um mundo de diversões, com bar, palco, cinema, café e um pátio com fogueira. Assim, o local de cultura alternativa se tornou atração turística. O Tacheles se tornou, assim, um símbolo mundial da explosão criativa em Berlim.
"Ele é um ponto de referência para os visitantes internacionais da cidade porque existe uma necessidade da autenticidade do nosso mundo. Porque a pessoa que algum dia se torna um turista tem a sensação de que tudo está ficando igual no mundo. Em todo o lugar, vemos os mesmos jeans, os mesmos Starbucks, as mesmas cadeias de roupas de moda. E isso é quebrado pelo Tacheles", afirma o artista Martin Reiter, que faz parte do grupo que ocupa o prédio.
Em 1998, o terreno foi vendido, mas não recebeu uma nova construção. Há anos, investidores, bancos, artistas e a administração de Berlim estão em conflito por causa desta atração, localizada em um terreno valorizado da capital alemã. Recentemente, um leilão do imóvel foi cancelado. No dia seguinte, os donos dos restaurantes localizados no Tacheles venderam o ponto por um milhão de euros e deixaram o local, que hoje é uma relíquia. As ruas em volta se tornaram há muito tempo chiques e sofisticadas.
Artistas planejam greve de fome
Os perseverantes artistas não confiam nas promessas da prefeitura e se preparam para tempos de luta, com greve de fome e ações de protesto. Voluntariamente eles não querem sair. A cidade de Berlim não arriscaria um despejo forçado do edifício, que poderia manchar a imagem internacional da cidade como destino turístico e cultural. Essa é a esperança dos artistas que trabalham no Tacheles.
"Uma fundação pública deve assumir a casa, o que significaria que colocaríamos Berlim e as escolas de arte da cidade como parceiros do projeto, para poder desenvolver este centro artístico", afirma a porta-voz do Tacheles, Linda Cerna.
Autor: Kay-Alexander Scholz (md)
Revisão: Roselaine Wandscheer