"Putin não tem plano B", diz ex-assessor do presidente russo
23 de fevereiro de 2023Um ex-redator de discursos do presidente russo, Vladimir Putin, afirmou, em entrevista à DW que o líder do Kremlin não possui um "plano B" para sua ofensiva na Ucrânia.
Na véspera do aniversário de um ano da invasão russa no país vizinho, Abbas Gallyamov disse acreditar que Putin não possui uma estratégia alternativa para a resolução do conflito, mesmo que a resistência ucraniana às tropas invasoras tenham superado as suas expectativas de uma vitória rápida.
O ex-redator afirmou que "100% das elites russas e metade da população em geral compreendem, de modo geral, que a situação caminha em uma direção errada. Está cada vez pior." Isso, segundo afirma, representaria uma ameaça à reeleição de Putin nas eleições de 2024.
Gallyamov disse que havia uma grande expectativa entre os russos sobre quais seriam as novidades a serem anunciadas por Putin em seu discurso no Parlamento, na última terça-feira.
Muitos acreditavam que haveria uma "declaração de uma grande guerra" ou uma "mobilização total" dos reservistas, ou ainda, um anúncio sobre negociações de paz. No entanto, nada disso aconteceu.
"Ele continuou insistindo que tudo está bem, que tudo está perfeito, e que estamos indo na direção certa. Dessa forma, não há um plano B. Essa é a conclusão principal", sublinhou Gallyamov.
"Golpe seria muito arriscado"
O ex-redator de Putin avalia ainda que a possibilidade de ocorrer um golpe de Estado na Rússia estaria praticamente descartada.
"Os militares russos, que, teoricamente, poderiam elaborar isso através dos serviços especiais russos, estão literalmente arruinados. Suas identidades estão arruinadas, suas autoestimas estão arruinadas pelos ucranianos, pelo Exército ucraniano."
"A derrota que os russos estão sofrendo impede que os militares pensem que devem dar um golpe", avaliou Gallyamov. "Não se pode fazer um golpe de Estado contra um ditador. É algo muito arriscado."
Gallyamov acredita que, se a situação na Ucrânia continuar no rumo atual, Putin enfrentará um forte desafio nas eleições presidenciais de 2024. "Se ele não vencer a guerra, se não conquistar essa vitória, enfrentará graves problemas. O povo compreende isso", afirmou.
"As pessoas já discutem sobre o que aconteceria se ele cancelasse as eleições. Nesse caso, acho que a possibilidade de um golpe aumentaria muito em um período de um ano, após março do ano que vem.
"É por isso que ele mencionou as eleições em seu discurso no Parlamento. Ele disse que as eleições ocorrerão no tempo previsto. Ele quer apenas mostrar às elites, que poderiam, teoricamente, tentar derrubá-lo, que ele não é um ditador, mas sim, um presidente eleito, e que a nação está a seu lado."
rc (DW, INA)