Quarteto do Oriente Médio quer retomar "road map"
9 de maio de 2006O chamado "Quarteto do Oriente Médio" – formado por representantes da ONU, União Européia, Estados Unidos e Rússia – debate nesta terça-feira (09/05), em Nova York, os destinos da região. A longo prazo, espera-se poder retomar o curso do plano internacional de paz, o road map.
A curto prazo, cabe resolver o problema urgente da ajuda financeira da comunidade internacional à Autoridade Nacional Palestina. No momento, a ajuda está suspensa, como forma de pressão contra o grupo radical islâmico Hamas, no poder desde janeiro último.
Do ponto de vista dos norte-americanos e da UE, o Hamas se trata de uma organização terrorista, pois tanto nega o direito de existência ao Estado de Israel, como apóia o uso da violência como meio político. O reconhecimento do Estado israelense é condição sine qua non para que as verbas voltem a fluir.
Wolfensohn critica
Até o momento, nem Israel, nem os EUA nem o Hamas se mostravam dispostos a ceder um milímetro, mesmo em face à situação cada vez mais precária nos territórios autônomos. Porém, antecipando este encontro em Nova York, pelo menos algo começou a se mover no cenário.
No início de maio, James Wolfensohn renunciou ao cargo de embaixador especial do Quarteto para o território palestino. Ele apelou para que o Hamas revisse sua posição quanto a Israel a ao terror.
Por outro lado, o ex-presidente do Banco Mundial acusou implicitamente os israelenses e o Ocidente de praticar uma política"devastadora" para o Oriente Médio: suspender radicalmente a ajuda financeira é arriscar o caos e a fome.
Jogo mortal de paciência
"Eu me espantaria, se chegássemos a algum resultado expulsando as crianças das escolas e permitindo uma catástrofe de fome", comentou Wolfensohn. Ele recorda que os palestinos dependem inteiramente das verbas da comunidade internacional. Contando com apenas 30 milhões de dólares por mês, a Autoridade Nacional já está, de fato, falida.
Segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional, seriam necessários 45 milhões de dólares, apenas para manter o atendimento básico nos campos social e medicinal. Há dois meses, os salários do funcionalismo público não são pagos. Várias organizações confirmam a ameaça de uma catástrofe humanitária.
Pelas costas do povo palestino se desenvolve um cruel jogo de paciência. Simplificando, há duas possibilidades: ou o Hamas sai lucrando, ao se apresentar como vítima de uma "política de fome"; ou os palestinos optam pela moderação, congregando-se em torno do presidente Mahmud Abbas.
Moscou paga
Enquanto isso, a Rússia aproveita a ocasião para se destacar como potência autônoma dentro do Quarteto do Oriente Médio. Uma atitude semelhante à adotada durante o conflito sobre o enriquecimento de urânio pelo Irã.
Moscou considera o governo do Hamas como resultado de uma eleição democrática, há muito desejada, e com o qual é preciso viver, bem ou mal. "A posição russa não é razoável", critica Alexander Bahr, perito em assuntos russos da Fundação Alemã de Política Externa.
Em questões centrais, como abandono da violência, o direito de existência de Israel ou o road map, continua havendo consenso. Porém a intenção da Rússia é impedir que os norte-americanos tomem o leme no Oriente Médio, afirma Bahr.
Ignorando a oposição dos EUA, Moscou acaba de entregar oito milhões de dólares ao governo palestino, como ajuda imediata. E não exclui a possibilidade de novas verbas.
UE vai cedendo
Também o Japão e a Noruega anunciaram disposição de manter a ajuda humanitária, independentemente da ascensão do Hamas ao poder. E, ao mesmo tempo, a linha dura da UE começa a se fragmentar.
Louis Michel, comissário da UE para o Desenvolvimento e Ajuda Humanitária, anunciou 34 milhões de euros para fins sociais, pois o auxílio humanitário não está incluído no embargo do bloco europeu.
A comissária das Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner, exigiu que Israel pague os 50 milhões de dólares mensais de impostos devidos aos palestinos segundo o direito internacional. Além disso procura-se um "mecanismo internacional" para fazer chegar as verbas congeladas às mãos dos palestinos, sem passar pelo Hamas.
No meio tempo, discute-se nos Estados Unidos a criação de um fundo para os palestinos, onde se depositariam os 450 milhões de dólares originalmente planejados. Um porta-voz da Secretaria norte-americana de Estado declarou: "Vamos conversar a respeito". Quando? "Quando o tema vier à tona".