Quem são os fãs de Erdogan na Alemanha?
8 de março de 2017"É irracional o que está acontecendo por lá", assim fala Gökay Sofuoglu quando se encontra com apoiadores de Erdogan. Como presidente das Comunidades Turcas na Alemanha, ele faz campanha contra a emenda constitucional que poderá transformar o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, num governante quase autocrata. Sofuoglu conversa com muitas pessoas que apoiam o controverso caminho seguido por Erdogan. A sua impressão é que, racionalmente, não se pode explicar o entusiasmo por Erdogan.
Pelo contrário, o que importa é a emoção. "Para muitos turco-alemães, Erdogan passa a sensação de que são mais poderosos, maiores, mais fortes", disse Sofuoglu, explicando que, com palavras enérgicas, determinadas, o chefe de Estado turco elimina o sentimento de inferioridade. Erdogan – essa é a opinião também de outros observadores – vê os turcos no exterior como irmãos e irmãs que pertencem à Turquia. O voto deles conta.
Forte apoio ao conservadorismo islâmico
O fato é que, na Alemanha, vivem por volta de 1,4 milhão de pessoas com um passaporte turco ou com a dupla cidadania e que poderão votar no referendo em abril. O voto dessas pessoas poderá definir o resultado da consulta popular – mesmo que, como nas eleições parlamentares de novembro de 2015, somente 40% deles compareçam às urnas. Pois, a maioria desses eleitores ativos apoia a política islâmica conservadora de Erdogan – em 2015, eram cerca de 60%. Mais do que na Turquia.
Mas por que Erdogan deve contar com tantos votos de apoio à sua emenda na Alemanha? Como é possível que alguns turco-alemães protestem de forma tão veemente devido ao cancelamento de comícios eleitorais em Gaggenau, Colônia e Hamburgo – enquanto aceitam que em sua antiga pátria a liberdade de reunião e de expressão seja restrita tão severamente? Quem são esses apoiadores de Erdogan?
Dissonância cognitiva é como os psicólogos denominam a sensação desagradável de uma pessoa viver com contradições, que na realidade não são coerentes. Uma parcela da verdade é então atenuada e amoldada, para que se possa suportar mais facilmente a outra parte.
Algo semelhante deve se passar com muitos turco-alemães que apoiam completamente o desmantelamento da democracia por Erdogan, e, ao mesmo tempo, desfrutam de todas as liberdades de uma democracia em seu país adotivo alemão.
Ao menos é isso o que pensa o psicólogo Haci Halil Uslucan, diretor do Centro de Estudos da Turquia e Pesquisa de Integração na Universidade Duisburg-Essen. "Após a proibição dos comícios, muitos apoiadores de Erdogan dizem agora: 'Olhem só, até mesmo a Alemanha está tentando suprimir vozes críticas", diz.
Visão de mundo conservadora
A maioria dos migrantes turcos chegou à Alemanha nos anos 1960 e 1970, na condição de trabalhadores convidados. Eles são considerados conservadores, religiosos, provincianos. Justamente a sociedade liberal alemã lhes permitiu passar para seus filhos essa visão de mundo tradicionalista, aponta o especialista Uslucan. Erdogan encontra grande aprovação entre esses tradicionais trabalhadores convidados provenientes da região da Anatólia.
Mas também há fiéis defensores de Erdogan entre turcos alemães mais jovens. Segundo Uslucan, eles não se sentem devidamente considerados pelos políticos alemães. "A vivência do 'não pertencimento' leva as pessoas a partidos como o AKP, que lhes promete grandeza, orgulho e identificação."
É preciso novamente recorrer à tese da integração fracassada como explicação? "Seria uma interpretação muito simplista dizer: somente os perdedores votam em Erdogan", afirma Uslucan.
Segundo ele, entre os apoiadores do presidente turco também há acadêmicos e empresários, pessoas bem integradas em termos econômicos e linguísticos. Mas falta participação política, critica Uslucan.
"Quando não se tem a sensação de fazer parte da grande Alemanha, se recorre à outra coletividade forte", disse o especialista. Com sua retórica, Erdogan proporciona a sensação de pertencimento a uma Turquia poderosa.
Imagem da Turquia
Além disso: muitos turco-alemães fecham os olhos para o que está acontecendo no Bósforo. Eles também não se importam com as violações dos direitos humanos e do Estado de Direito. Eles conhecem a Turquia somente como um destino de férias – e a partir da mídia turca.
Ali, na televisão estatal, pode-se ver em todos os canais uma imagem adoçada de Erdogan: o presidente que inaugura um túnel, o presidente que impulsiona a economia, o presidente que está perto das pessoas. Embora eles também fiquem cientes das duras críticas à Turquia na mídia alemã, ataques contra a figura de identificação Erdogan resultam, muitas vezes, numa espécie de reflexo: agora é que se deve apoiar o presidente.
Na opinião de muitos especialistas, Erdogan é visto de forma positiva. Como alguém que proporciona à Turquia um crescimento econômico e assegura a estabilidade política no país. De qualquer forma, o seu partido AKP já está no poder há 15 anos. Diante das crises atuais – da tentativa fracassada de golpe, da guerra na vizinha Síria até os atentados terroristas – muitos consideram Erdogan a pessoa certa na hora certa.
O turco-alemão Talat Kamran teme que o processo de democratização na Turquia seja interrompido completamente. Como diretor do Instituto para Integração e Diálogo Interreligioso, em Mannheim, ele está sempre em contato com membros da comunidade turca. Kamran enfatiza repetidamente que, ao menos para os turcos tradicionais, Erdogan personifica principalmente pátria e identidade.
O especialista também vê as constantes críticas ao presidente turco como excessivas e afirma que muitos teriam, em primeira linha, medo de uma guerra civil na Turquia. "Portanto, não se observa do ponto de vida do Estado de Direito e da liberdade, mas da estabilidade", diz.
É difícil prever o resultado final do referendo. Nem todos os apoiadores do AKP deverão votar automaticamente num Estado de um homem só. E algo não se deve esquecer em meio a todas as emoções em ebulição: a maioria dos turco-alemães não tem nada a ver com política.
Eles não são nem contra nem a favor de Erdogan, são completamente indiferentes, aponta Uslucan. "A maioria dos turco-alemães aptos a votar não vai participar do referendo", afirma.