Questionadas por Trump, doações a palestinos estão em queda
4 de janeiro de 2018O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a acirrar o conflito israelo-palestino nesta terça-feira (02/01) com uma mensagem publicada no Twitter: "Não é só ao Paquistão que pagamos bilhões de dólares para nada, é também a muitos outros países", escreveu Trump.
"Como exemplo, pagamos aos palestinos CENTENAS DE MILHÕES DE DÓLARES por ano e não recebemos nenhum reconhecimento ou respeito. Eles não querem nem negociar um tratado de paz necessário há muito tempo com Israel. (...) Com os palestinos não querendo mais falar sobre paz, por que deveríamos realizar qualquer um desses pagamentos maciços futuros para eles?", continuou o presidente americano.
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Os palestinos entenderam a observação como ameaça – e reagiram friamente. O grupo radical islâmico Hamas falou em "extorsão barata e política". Em alusão ao debate iniciado por Trump com o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel, a OLP disse não querer se subordinar a ditames financeiros. "Jerusalém e seus sítios sagrados não estão à venda, nem por ouro nem por prata", disse um porta-voz do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, na quarta.
O ativista humanitário Muhsin Abu Ramadan, da Faixa de Gaza, vê o debate de forma semelhante. "Trump é uma pessoa sem consideração, que não aposta em soluções políticas, mas abusa do dinheiro como instrumento de controle político", afirma.
Efeitos negativos de fim do financiamento
O especialista alemão Günter Meyer, diretor do Centro de Pesquisas do Mundo Árabe na Universidade de Mainz, avalia que a ameaça de Trump deverá agravar ainda mais a já complicada situação no Oriente Médio. Além disso, se cumprida, teria consequências dramáticas para os territórios autônomos palestinos.
"Uma paralisação do financiamento pioraria sobretudo a situação econômica. Os EUA são, de longe, o maior apoiador da Agência de Assistência a Refugiados Palestinos da ONU (UNRWA), com uma contribuição de mais de 370 milhões de dólares em 2016. Se o financiador mais importante para projetos de ajuda – escolas, serviços de saúde e programas sociais – faltar, isso será um grave retrocesso para os palestinos", explica Meyer. Segundo ele, essa lacuna não poderia ser compensada por outros financiadores, como os países europeus.
Os territórios autônomos palestinos dependem amplamente de apoio financeiro internacional. Ao lado dos Estados Unidos, os maiores financiadores são os europeus. As instituições e os países-membros da União Europeia transferiram 837 milhões de dólares em 2015. Desse montante, a Alemanha contribuiu com 92 milhões de dólares.
O maior apoio do mundo árabe vem da Arábia Saudita, com 240 milhões de dólares anuais. As Nações Unidas, por meio da UNRWA, destinaram 453 milhões de dólares aos territórios autônomos em 2015, ano em que os palestinos receberam um total de 1,8 bilhão de dólares em apoios financeiros.
Mesmo que o montante seja expressivo, o dinheiro serve apenas para aliviar a situação e garantir a sobrevivência dos territórios autônomos. "Basicamente, sem auxílio do exterior, é impossível manter a sobrevivência tanto da Faixa de Gaza quanto da Cisjordânia, que vivem sob restrições amplas e a interferência permanente por parte de Israel", afirma Meyer.
Apoio cai há anos
Além disso, as somas destinadas aos territórios autônomos caíram sensivelmente nos últimos anos. Apenas entre 2014 e 2015, a queda foi de 614 bilhões de dólares. Os motivos são vários. Uma série de países reduziu os orçamentos destinados ao desenvolvimento e cooperação. Nos últimos anos, várias crises mundiais acabaram entrando em foco, especialmente as ligadas à crise humanitária no contexto da guerra na Síria. Assim, o conflito no Oriente Médio acabou ficando em segundo plano para muitos países.
A situação complicada no Iraque e o contexto catastrófico no Iêmen também levaram à redução dos auxílios financeiros aos territórios autônomos palestinos. Nos Estados Unidos, esse financiamento vem caindo há anos, em parte devido ao lobby pró-Israel, segundo Meyer.
O especialista pondera, porém, que os palestinos também fizeram pouco para estimular a disposição de seus apoiadores em ajudar. "A falta de reformas na Cisjordânia no governo da OLP, sob Abbas, a não-realização de eleições há muito tempo necessárias e o consequente déficit para as condições democráticas contribuíram para que os países doadores não se disponibilizassem a manter o apoio financeiro no nível atual ou mesmo aumentá-lo", diz Meyer.
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