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ConflitosSíria

Rússia é capaz de apoiar Síria sem perder força na Ucrânia?

Grzegorz Szymanowski de Riga
7 de dezembro de 2024

Kremlin não quer abandonar o ditador Bashar al-Assad, um aliado sob pressão crescente dos rebeldes. Mas a guerra na Ucrânia já está drenando os recursos militares dos russos.

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Bashar al-Assad e Vladimir Putin sentados
Assad e Putin no Kremlin em julho de 2024: Rússia quer garantir influência no Oriente Médio com presença na SíriaFoto: Valeriy Sharifulin/IMAGO/SNA

Por algum tempo, Aleppo foi considerada um símbolo da força da Rússia. Foram os militares russos que ajudaram o ditador sírio, Bashar al-Assad, a tomar a cidade no final de 2016, após quatro anos de combates. Agora Aleppo caiu nas mãos dos rebeldes em menos de quatro dias – um revés para o Kremlin.

"A Rússia não está mais em posição de apoiar o regime de Assad como fazia há dez anos", avalia Ruslan Suleimanov, pesquisador da Universidade ADA em Baku, no Azerbaijão. Embora Moscou esteja novamente realizando ataques aéreos contra os rebeldes, isso não é suficiente para detê-los no momento, pontua.

A principal diferença: desde fevereiro de 2022, a Rússia tem se preocupado muito mais com seu ataque à Ucrânia. "É claro que a presença russa na Síria começou a diminuir depois disso", diz Suleimanov.

Ataques aéreos

O contingente de tropas russas na Síria sempre foi pequeno. Quando Vladimir Putin decidiu fortalecer militarmente Assad na guerra civil, em 2015, ele enviou principalmente sua força aérea para o país. De acordo com estimativas, foram enviados apenas de 2 mil a 4 mil soldados. É provável que esse número tenha permanecido praticamente o mesmo, apesar de dados oficiais nunca terem sido divulgados.

Entretanto, também havia à época quase o mesmo número de mercenários, como os do Grupo Wagner. Eles estavam envolvidos em batalhas terrestres na Síria com mais frequência do que os soldados regulares. Hoje, estão lutando na Ucrânia.

"A estratégia do Kremlin era que as milícias sírias, iranianas e xiitas lutassem e as forças russas dessem apoio. Não o contrário", escreveram os analistas americanos Michael Kofman e Matthew Rojansky sobre a intervenção russa. Agora, no entanto, o Irã e suas milícias aliadas, como o Hezbollah, foram enfraquecidos pelo conflito com Israel. E os rebeldes islâmicos do grupo Organização pela Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, ou HTS), que lutam contra Assad, aproveitaram a oportunidade para avançar.

Alguns soldados foram retirados da Síria

A Rússia pode preencher essa lacuna enviando mais tropas terrestres? "Será muito difícil aumentar a ajuda a Assad sem enfraquecer suas próprias tropas na Ucrânia", diz Pavel Luzin, especialista nas Forças Armadas russas.

Após o ataque em grande escala à Ucrânia em 2022, a Rússia negou que quisesse retirar suas tropas da Síria. No entanto, segundo relatos, ela teria transferido alguns jatos de combate de volta para suas bases de origem. O sistema de mísseis de defesa aérea S-300 também foi enviado para um porto russo próximo à Crimeia.

Os soldados na Síria foram reagrupados e transferidos de postos menores para bases maiores. E a transferência para a Ucrânia de mercenários experientes em combate enfraqueceu as forças russas na Síria. Embora existam outros mercenários do Kremlin naquele país atualmente, "eles não são especializados em operações de combate, mas no monitoramento de algumas instalações de produção de petróleo, por exemplo", de acordo com Suleimanov.

Moscou não quer abrir mão da Síria

Embora a guerra na Ucrânia seja uma prioridade clara para a Rússia, ela não desistirá da Síria. "O Kremlin certamente não abandonará Assad", acredita Suleimanov. Afinal de contas, Moscou também tem duas localizações importantes em jogo: a base naval em Tartus garante o acesso ao Mediterrâneo, e a base aérea de Hmeimim torna possível estar operacional em toda a região.

Cruzador russo Moskva no mar
Cruzador russo Moskva, ao largo do porto de Tartus, na Síria, em dezembro de 2015, afundou em abril de 2022 na guerra contra a UcrâniaFoto: Zhang Jiye/Xinhua/IMAGO

A Síria também é importante para o Kremlin cultivar sua imagem de superpotência. Após o fracasso das intervenções ocidentais no Iraque e na Líbia, o Kremlin queria se apresentar como um fator de estabilização na região e, assim, conseguiu se estabelecer com sucesso como um ator relevante no Oriente Médio.

É melhor negociar do que enviar novas tropas

As reações iniciais da Rússia à ofensiva rebelde indicam que ela prefere não enviar mais recursos militares para a Síria. No entanto, os ataques aéreos estão sendo intensificados. De acordo com o canal russo no Telegram Rybar, o general Alexander Tshaiko, que já liderou tropas russas no país no passado, viajou para a Síria.

Ao mesmo tempo, Moscou está buscando contato com outras potências envolvidas no conflito, sobretudo a Turquia, que é a que mais se beneficia com o avanço dos rebeldes. Putin conversou por telefone com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e representantes da Rússia, do Irã e da Turquia devem se reunir no próximo fim de semana.

"O Kremlin tem negociações muito difíceis e extenuantes pela frente, pois já está dedicando muitos nervos, energia e recursos à Ucrânia", diz Suleimanov. Agora o Kremlin terá que desviar parte desses recursos para a Síria.