1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Raios ultravioleta podem acabar com covid-19, dizem empresas

Magdalena Neubig
5 de setembro de 2020

Fabricantes das lâmpadas "UV germicida" já contam entre os vencedores empresariais da pandemia, prometendo desinfecção de superfícies, água e até do ar. Mas as autoridades têm sérias ressalvas.

https://p.dw.com/p/3hu9m
Robô desinfeta um escritório com radiação UV-C
Robô desinfeta um escritório com radiação UV-CFoto: picture-alliance/KEYSTONE/A. Reusser

Radiação ultravioleta contra germes de todos os tipos: essa é a ideia de negócio das empresas que oferecem sistemas de desinfecção baseados na radiação UV-C, de ondas curtas, também conhecida como "UV germicida".

Em vez de borrifadas de produtos químicos, eles irradiam superfícies, água e ar com luz UV-C. Apesar de invisível, ela é poderosa: vírus, bactérias e outros germes são destruídos em questão de segundos quando expostos à radiação, que danifica o genoma, impedindo que os patógenos continuem a se multiplicar.

Esse saber sobre a UV-C não é novo: a radiação tem sido usada há décadas para desinfetar água potável e água encanada, por exemplo. Superfícies de ambulâncias e esteiras rolantes industriais também são higienizadas com lâmpadas UV-C, que também ajudam a eliminar os germes do ar.

Raios UVC contra o coronavírus?

Desde que o Sars-Cov-2 se impôs como um novo tipo de patógeno, capaz de ser transmitido por aerossóis no ar, a desinfecção com UV-C tornou-se foco de interesse especial. Além disso, o outono está chegando, e com ele a pergunta sobre a melhor forma de manter o ar nas salas de aula ou escritórios livre de vírus, mesmo durante as estações mais frias.

Quem consultar os fabricantes de sistemas de desinfecção UV-C, certamente ouvirá: com os produtos deles. Do ponto de vista empresarial, desde já eles já contam entre os grandes vencedores da crise desencadeada pela covid-19.

Devido ao grande aumento da demanda, a empresa holandesa Signify, por exemplo, produz oito vezes mais do que antes da pandemia. No início de 2020, a empresa também lançou uma nova lâmpada UVC.

Até agora, lâmpadas em funcionamento em ambientes com público circulante eram vedadas por um denso invólucro. Já com a lâmpada Signify, a radiação é direcionada para cima por um refletor, formando assim um véu UVC sob o teto, através do qual o ar circula e é então desinfetado.

Lâmpadas UVC no teto de uma sala de espera
Segurança na sala de espera?Foto: Signify GmbH

Antes da crise, os sistemas de desinfecção por raios ultravioleta do tipo C, sobretudo para purificação do ar, eram vendidos principalmente na Ásia e na América do Norte. Na Europa, há maior preocupações de usar a tecnologia com segurança, explica Christian Goebel, especialista em UV-C da Signify.

Desde a pandemia, porém, lentamente se observa o desenvolvimento de um mercado também na Europa Ocidental. E isso apesar de não haver nenhuma recomendação do Instituto Robert Koch ou do Ministério alemão do Meio Ambiente para o uso de sistemas UV-C.

Riscos de lesão

A Departamento Federal alemão do Meio Ambiente também tem suas ressalvas quanto ao uso de luz UV-C em ambientes com presença humana. Heinz-Jörn Moriske, diretor da Comissão de Higiene do Ar Interior IRK), ligada ao órgão, frisa que a luz ultravioleta é prejudicial à saúde: "Se esses dispositivos são abertos pelos presentes na sala, pelo motivo que seja, e a lâmpada ainda estiver acesa, isso pode resultar em queimaduras graves na pele e nos olhos."

Apesar de estarem cientes dos riscos de radiação UVC, os fabricantes alegam não entender o parecer das várias agências e institutos. "A tecnologia foi testada. Todos sabem que ela ajuda. Agora é apenas uma questão de usá-la com segurança", afirma Goebel.

Segundo o especialista da Signify, quando os sistemas de desinfecção são instalados por profissionais, está garantido o uso seguro. Além disso, quem costuma ficar em salas onde é utilizada a tecnologia UV-C deve ser informadas sobre como proceder. Assim se descartaria a possibilidade de alguém entrar em contato com a radiação acidentalmente.

Entretanto, Heinz-Jörn Moriske alerta para outro ponto crítico: os estudos ainda são muito incipientes. A Signify de fato demonstrou recentemente, em colaboração com a Boston University, que a radiação UV-C mata o coronavírus presente em superfícies, em questão de segundos. No entanto quase não existem dados sobre desinfecção do ar empregando esse método.

Simulação de uma lâmpada UVC em funcionamento, com faixa ultravioleta na altura do teto representada em cor azul
Faixa de luz azul não é visível na realidadeFoto: Signify GmbH

O tamanho da sala, a frequência com que o ar passa pelas lâmpadas, a intensidade da radiação que emitem: tudo influencia enorme o impacto destruidor sobre os germes. Uma vez que a circulação de ar nos edifícios difere de sala para sala ,e até mesmo dentro de um único ambiente, é bastante difícil traçar conclusões gerais a partir de estudos científicos realizados em laboratório.

Além disso, prossegue Moriske, tampouco há estudos sobre se os sistemas UV-C funcionam com maior confiabilidade do que, por exemplo, purificadores de ar com filtros mecânicos. Por isso, ele sublinha que o uso de dispositivos de purificação de ar com lâmpadas UV-C ou outros filtros é, em última análise, apenas uma medida complementar à ventilação através das janelas.

"Não deve resultar em que simplesmente se diga: 'Agora está frio demais, não vou abrir as janelas, tenho meu purificador de ar ligado e ele vai fazer o serviço.' Essa é exatamente a falácia que precisamos evitar."

Christian Goebel, da Signify, desejaria mais "pragmatismo e abertura" por parte das autoridades, tendo em vista a "dimensão do problema". Em escolas e jardins de infância, em particular, é extremamente difícil evitar aglomeração humana num espaço confinado, afirma.

Por isso, a seu ver, os sistemas de desinfecção UV-C seriam um investimento absolutamente sensato nesses locais: "Se você me perguntasse: 'O senhor aceitaria se na creche do seu filho tivesse uma lâmpada UV-C?' Eu diria que sim."

Adaptação: Isadora Pamplona