Rastros de Luke Skywalker levam a deserto na Tunísia
15 de dezembro de 2015Até que enfim, fregueses! Salem Ben Said corre para dentro de sua caverna. Retornando à luz do sol, ele tem na mão um fenek, uma pequena raposa-do-deserto de orelhas gigantescas. Uma foto com o amedrontado bichinho custa o equivalente a 0,50 euro.
Mas François e Yvonne Boisson recusam amistosamente a oferta. Eles não vieram até Mos Espa por causa dos feneks: eles estão à procura de uma galáxia alienígena.
"Sou fã de Guerra nas Estrelas desde criança. E a atmosfera toda aqui... é super impressionante." Os olhos de François cintilam, ao admirar a localidade no deserto: algumas casas amarelas, com telhados em cúpula e sem janelas; no meio da aldeia, dois foguetes de madeira que sobraram das filmagens. E muita areia.
Esta é Mos Espa, no planeta Tatooine, lugar natal de Anakin Skywalker, aliás Darth Vader. No filme, a praça, onde fica a estação aeroespacial da cidade, está repleta de criaturas fantásticas e de trapaceiros. Hoje não há viva alma em Mos Espa, que na realidade se chama Onq Jmel e se situa no extremo sudoeste da Tunísia.
Suvenir da saga de ficção científica
Três vendedores de suvenires defendem o posto. Salem tenta convencer os turistas franceses a vestirem uma "capa Jedi original". A túnica de lã está exposta numa armação de madeira: o próprio Anakin Skywalker a usou, enfatiza o vendedor. François Boisson ri, preferindo fazer um passeio pelas dunas ao redor da aldeia.
Foram essas formações arenosas que quase engoliram Mos Espa em 2014. Porém, numa ação de resgate de larga escala, as autoridades locais e fãs de Guerra nas Estrelas de todo o mundo arrecadaram dinheiro, transportaram escavadeiras até o deserto e removeram toneladas de areia.
"As somas maiores de fãs vieram da Alemanha. De algum jeito nós tocamos a comunidade alemã, como a nossa ação", comenta Abderrahman Ameur, acertando o boné de beisebol. Ele tem uns 35 anos, mas aparenta o charme de um garoto, sobretudo quando fala de Star Wars.
Abderrahman fundou o primeiro e único fã-clube tunisiano dedicado à franquia de ficção científica. Ele reúne à sua volta um monte de "malucos" – como define os que partilham sua paixão. Juntos, eles se impuseram a missão de preservar os locais de filmagem.
"Para mim, eles estão à porta de casa, mas nem todo fã tem a mesma sorte. Eu tenho que cuidar deles, é o nosso patrimônio nacional." No total, são 12 locais de filmagem. Durante um ano Abderrahman pesquisou e os localizou, todos. A maioria só é encontrável no deserto usando-se parâmetros de GPS.
Quem paga mais
Mas Matmata, na região central do país, é possível de achar mesmo sem GPS. Ela fica a cerca de cinco horas de carro de Mos Espa, sendo a locação da saga mais distante de todas. O hotel Sidi Driss é parada obrigatória em qualquer peregrinação dedicada à Guerra que se preze: lá nasceu Luke Skywalker, filho de Anakin.
Mesoud Barshid tem que vasculhar um pouco debaixo do balcão. "Ah, está aí: esta é a espada laser de Luke Skywalker." O hoteleiro retira com a mão a poeira sobre o pequena vara de plástico, e tenta acioná-la com um movimento rápido. Mas ela emperra. "O Luke fazia com mais elegância", admite. Pelo menos o som ainda funciona.
Mesoud está no pátio interno do hotel que dirige há anos. É uma espécie de buraco redondo no chão, os quartos, a que se chega a partir do pátio, são escuros e frescos. Em meados da década de 70, o criador da saga, George Lucas, rodou aqui, onde Luke viveu com o tio e a tia.
Quando a equipe retornou no ano 2000, Mesoud estava lá, ao vivo. "Eles produziram Ataque dos clones, durante um mês e meio. Ninguém podia entrar, porque eles mudaram toda a decoração." Ele bate numa caixa marrom cheia de botões, que está presa na parede. Um adereço de cena da época, cuja tinta está descascando. Fotos amareladas de Lucas e equipe povoam as paredes.
Mas isso foi muito tempo atrás. Quase nada sobrou do glamour da saga. Também a equipe de filmagem voltou as costas à localidade e a todo o país: oficialmente, o sétimo episódio foi filmado em Abu Dhabi, pois a Tunísia não é suficientemente segura.
Mas Mesoud Barshid supõe que o motivo real seja outro: "Os xeiques simplesmente ofereceram mais dinheiro."