RB Leipzig: antes odiado, agora respeitado
30 de abril de 2019Se ainda faltava alguma coisa para o RB Leipzig ser considerado uma força em ascensão no cenário do futebol alemão, agora não falta mais nada. O clube, fundado em 2009 como braço esportivo de uma empresa austríaca de bebida energética, conseguiu um feito extraordinário: chegou à final do prestigiado DFB Pokal (Copa da Alemanha) e vai disputar o título com o Bayern de Munique no fim de maio.
Vale lembrar que há dez anos, quando foi fundado, o Leipzig começou disputando o campeonato da quinta divisão, onde ficou uma temporada. Em seguida, subiu para a Liga Regional, que disputou durante três campanhas para, em 2013, chegar à Terceirona.
Daí em diante, sua subida foi meteórica. Depois de rápida passagem pela Bundesliga 2, chegou à divisão de elite em 2016 e, logo de cara, abocanhou o vice-campeonato, logo atrás do Bayern, além de obter uma vaga direta para a Champions League.
Foi uma campanha de fazer inveja a clubes tradicionais como Schalke 04, Hamburgo, Werder Bremen ou Borussia M'Gladbach que nem uma vaguinha para a Liga Europa obtiveram.
Há três anos, quando estreou na Bundesliga, o Leipzig era visto com desprezo pelo establishment do futebol alemão. As torcidas organizadas dos times históricos estendiam faixas nos estádios com dizeres ofensivos aos seus dirigentes e jogadores, além de questionar as origens empresariais da agremiação. A grande mídia chegou a estigmatizar o Leipzig como o clube mais odiado da Alemanha, justamente por ter sido fundado sem estar enraizado na cultura futebolística local.
Parece, contudo, que todos esses maus-olhados da concorrência causaram um efeito contrário àquele desejado pelos adversários. Nem diretoria, nem comissão técnica e muito menos os jogadores se deixaram intimidar e foram em frente. Seguiram à risca o plano traçado pelo diretor de esportes e atual técnico Ralf Rangnick, de levar o Leipzig a altos patamares do futebol alemão, mesmo não tendo nenhuma tradição. Afinal, apenas a tradição não conta, como já ficou demonstrado à exaustão na história recente de alguns clubes. É preciso competência.
Essa competência Ralf Rangnick tem, e não é de hoje. Em 2006, como técnico do Hoffenheim, em apenas duas temporadas, levou o time da terceira para a primeira divisão. Rangnick só saiu de lá em 2011 porque o mecenas Dietmar Hopp vendeu, à sua revelia, o volante brasileiro Luiz Gustavo ao Bayern de Munique, para fazer caixa. Pediu demissão e foi embora.
Desde 2015 no Leipzig, comanda a trajetória esportiva do clube, seja como técnico, seja como dirigente, com sucesso inegável. Depois da vitória do seu time sobre o Hamburgo pela semifinal da Copa da Alemanha na semana passada, dava para perceber nitidamente a sua satisfação por ter conseguido chegar pela primeira vez, em tão pouco tempo, à decisão de um título.
Visivelmente emocionado, declarou à imprensa logo depois da partida: "Se você, no seu terceiro ano de Bundesliga tem a chance de disputar um título, acho que não precisa dizer mais nada. Nas três temporadas disputadas, conseguimos nos classificar três vezes para competições internacionais, duas na Champions League e uma na Liga Europa."
O diretor executivo Oliver Mintzlaff acrescentou: "É inacreditável! Há dez anos estávamos na quinta divisão, e agora vamos para uma final. A nossa ficha ainda não caiu."
Uma semana antes da final contra o Bayern de Munique no Estádio Olímpico de Berlim em maio, o RB Leipzig vai completar dez anos e pode seguir o exemplo de antecessores ilustres da cidade que conquistaram o primeiro título justamente no seu décimo aniversário. Foi assim com o lendário VfB Leipzig, que foi campeão alemão em 1903, e com o Lokomotive Leipzig em 1976, quando venceu a Copa da DDR.
As manchetes da imprensa ainda pertencem a Bayern de Munique e Borussia Dortmund. Não será por muito tempo, opinam alguns jornalistas alemães. Jörn Meyn, do portal Spiegel Online, afirma com todas as letras: "O Leipzig é o time do futuro. Será um adversário à altura já nos próximos anos."
Paul Breitner, lendário campeão mundial de 74 e ex-jogador do Bayern de Munique, sentencia: "Não é bom para a Bundesliga não haver concorrência. O Leipzig tem potencial, especialmente se fizer maiores investimentos. Assim poderá se firmar entre um dos grandes da Liga."
A conquista do DFB Pokal poderá ser o primeiro passo nessa direção. Logo depois virá o jovem treinador Julian Nagelsmann, considerado por muitos um Jürgen Klopp melhorado. Vai assumir o comando técnico do time para concretizar os planos traçados pela diretoria do clube, visando posicionar o Leipzig na primeira prateleira do futebol alemão.
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
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