Mais do que o esperado
2 de outubro de 2010Quando os alemães do Oeste passeiam pelas cidades do Leste, costumam expressar admirados como as casas estão bem restauradas, como o asfalto está impecável e como a infraestrutura é moderna.
Não raro eles perguntam o quê, afinal, ainda há para ser reconstruído ou restaurado nos estados da antiga Alemanha Oriental. De fato, passados 20 anos da reunificação, é possível perceber muitos avanços.
Mas a reconstrução do Leste Alemão também não aconteceu de uma hora para a outra, como lembra o hoje ministro do Interior, Lothar de Maizière, que em março de 1990 foi eleito para ser o último primeiro-ministro da Alemanha Oriental.
"Na época, achávamos que tudo iria transcorrer mais rapidamente. Mas quem, hoje, não percebe a prosperidade dessas regiões, ou está cego ou não quer ver", diz De Maizière. "Me emociono ao passar por Görlitz, Quedlinburg ou vários outros lugares e ver o que aconteceu com essas cidades", diz o ministro. "Regiões prósperas" foi a expressão que o então chanceler federal alemão, Helmut Kohl, usou para descrever a situação a ser atingida em pouco tempo pelo Leste alemão após a queda do Muro de Berlim.
Economia falida
No total, os custos da reunificação alemã podem ser apenas estimados. O Instituto de Pesquisas Econômicas de Halle calcula que foram gastos cerca de 1,3 trilhão de euros entre os anos de 1991 e 2009. A maior parte desses recursos flui diretamente para os orçamentos dos estados do Leste do país. O governo federal investe apenas em projetos de transporte, como estradas, rodovias e vias fluviais.
No entanto, no fim das contas, o que extrapolou o orçamento inicial da reunificação não foi a reconstrução material dos novos estados, como os investimentos na precária infraestrutura ou o apoio financeiro às empresas, mas sim o completo colapso da economia da Alemanha Oriental, que levou rapidamente o desemprego no Leste às alturas e fez com que dois terços do 1,3 trilhão de euros fossem gastos com benefícios sociais. Mesmo assim, ainda hoje o desemprego é muito maior no Leste do país.
Essa situação certamente não estava prevista quando, em 1º de julho de 1990, a chamada União Econômica, Monetária e Social Alemã – e, com ela, o marco alemão – foi introduzida na Alemanha Oriental. Saudada com entusiasmo pelos cidadãos do lado oriental, ela gerou consequências fatais para a economia da região.
Aposentadorias e poupanças foram convertidas na proporção de "um por um" até o limite de 6 mil marcos orientais. Mas também os salários pagos pelas empresas do Leste tiveram de respeitar essa regra. Ou seja, da noite para o dia, elas foram desprotegidamente entregues à concorrência com as empresas do lado ocidental – e só podiam perder.
Mesmo os cidadãos da Alemanha Oriental não queriam mais gastar seus marcos com produtos locais. Alimentos, aparelhos eletrônicos, automóveis – tudo tinha de ser ocidental.
"Não havia outra alternativa exceto a união monetária"
Especialistas haviam previsto que a união monetária levaria a economia da Alemanha Oriental à ruína, mas o então ministro das Finanças, Theo Waigel, argumenta hoje que, diante da máxima "se o marco não vier a nós, iremos até ele", não havia mesmo outra alternativa.
"No Ministério das Finanças, debatemos todas as opções teóricas, planos por etapas e possibilidades de otimização, inclusive com o conselho de especialistas", recorda Waigel, que ocupou a pasta de 1989 a 1998. "Nada teria nos ajudado, a não ser que levantássemos de novo uma fronteira."
Na Alemanha recém-reunificada, a economia permaneceu discrepante. As empresas do lado ocidental vendiam seus produtos no lado oriental, mas continuavam produzindo no Oeste.
Só aos poucos começaram a surgir postos de trabalho na indústria nos estados orientais. Ainda hoje, a economia do lado oriental corresponde, em valores per capita, a apenas 71% da economia do lado ocidental. Considerando apenas a iniciativa privada, a proporção cai para 66%.
Um mau negócio?
Há alguns anos, Waigel ouviu do presidente de uma empresa dos Estados Unidos se a "compra" da Alemanha Oriental não teria sido um mau negócio. "Isso me deixou um tanto irritado e eu disse: 'certo, isso está durando e custando mais do que havíamos esperado. Mas 18 milhões de pessoas vivem hoje numa democracia. Se vocês puderem apresentar o mesmo balanço depois de dez anos no Iraque, então você pode repetir essa pergunta'", conta Waigel. "Hoje, quando o vejo, ele me diz: 'Theo, nunca mais vou fazer essa pergunta'", conta o ex-ministro.
Para Waigel, a reconstrução do Leste foi a maior ação de solidariedade que já houve em solo alemão. E uma ação que ainda vai perdurar por muito tempo. Da mesma forma que naquela época, hoje nenhum dos estados do Leste do país pode se autofinanciar. De acordo com os atuais planos do governo, o Pacto de Solidariedade deverá seguir até 2019, ou seja, também nos próximos anos muito dinheiro deverá ser transferido do Oeste para o Leste.
O que vai acontecer depois disso, ainda não se sabe. Talvez o Pacto de Solidariedade receba apenas um outro nome e o financiamento dos estados do Leste passe a ser garantido pelo mecanismo de equalização financeira regional existente na Alemanha. Por esse sistema, os estados ricos ajudam os mais pobres. Esse princípio já vigora hoje entre os estados do lado ocidental.
Autora: Sabine Kinkartz (as)
Revisão: Soraia Vilela