Redes sociais como ferramenta do terrorismo
23 de junho de 2015Em dezembro do ano passado, a polícia indiana prendeu um homem de 24 anos, supostamente responsável por operar uma conta do Twitter ligada ao grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) a partir de Bangalore, centro de Tecnologia da Informação do país.
O jovem em questão, Mehdi Masroor Biswas, era um promissor engenheiro de software, com uma carreira brilhante pela frente. Ele é acusado de usar seu talento para angariar cerca de 20 mil seguidores para a conta do EI no Twitter.
As supostas atividades de Biswas e dos recrutadores do grupo extremista que operam via Twitter e Facebook evidenciam como terroristas estão usando as redes sociais para conquistar mais seguidores. Na segunda-feira (22/06), a Europol anunciou a criação de uma nova unidade policial com o objetivo de desativar contas nas redes sociais usadas pelo EI como propaganda e para recrutar estrangeiros.
Redes sociais são uma maneira extremamente efetiva de transmitir uma mensagem a um público alvo. O meio superou a pornografia como atividade número um da internet em julho de 2009, diz Maria Ressa, diretora executiva da Rappler, uma rede social de notícias.
Durante uma rodada de discussão na atual edição do Global Media Forum, Ressa citou um estudo da Universidade Stanford segundo o qual quando se está nas redes sociais, os níveis de certas substâncias químicas, como a dopamina e oxicitocina, o hormônio do amor, se elevam.
Tweets e posts no Facebook transmitem emoções ao leitor, e mensagens de grupos terroristas costumam ter algo de "divertido", afirma Gulmina Bilal, diretora executiva da Individualland, uma ONG no Paquistão.
Organizações extremistas se especializaram em estratégias de relações públicas. Elas usam o Facebook para alcançar adolescentes e donas de casa. E charges extremistas servem para familiarizar crianças com menos de oito anos de idade com a ideologia radical.
Vítimas típicas
Pobreza, solidão e ausência de vida amorosa são fatores que podem fazer com que pessoas comuns sejam vítimas de grupos terroristas, atraídas por suas ideologias, diz Bilal. Enquanto alguns recorrem a amigos, outros são conquistados por ativistas do terrorismo e recrutadores.
Militantes do Al Shabaab na Somália, por exemplo, frequentemente prometem mais dinheiro e um futuro melhor para atrair combatentes do Quênia e da Tanzânia, diz Bakari S. Machumu, editor da Mwananchi Communications, na Tanzânia. Jovens muitas vezes vão a campos de treinamento terroristas com a ideia de que poderão trabalhar por lá e enviar dinheiro para casa.
Recrutadores de terroristas no Afeganistão, por exemplo, costumam criticar regimes ou forças estrangeiras, como a Otan e os EUA, que estiveram no país, mas não conseguiram melhorar a situação. "Eles [os recrutadores] tentam recrutar ao oferecer ajuda financeira. Há muitas pessoas desempregas que se juntam a eles", afirma Lotfullah Najafizadah, diretor da Tolo News, no Afeganistão.
"Antes das redes sociais, não conseguíamos saber o que terroristas pensavam, as mensagens eram lineares. Agora não são mais", diz Fathy Mohammed Abou Hatab, da Al Masry Media Corporation, no Egito.
A batalha do governo e da sociedade civil contra extremistas nas redes sociais é diária, afirma Bilal. No Paquistão, o ataque a uma escola de Peshawar em dezembro passado, que deixou 160 mortos, a maioria crianças, abalou o país. Contas no Twitter e no Facebook estão sendo desativadas, mas ressurgem pouco tempo depois.
A luta contra o terrorismo quase sempre afeta as liberdades civis. Na Tanzânia, Machumu diz que a desconfiança da sociedade no governo aumentou depois que foram promulgadas leis contra crimes na internet. Uma nova lei permite que a polícia confisque computadores de jornalistas, por exemplo.
No entanto, ainda há esperança. Até mesmo em países como o Afeganistão, onde o medo do Talibã é grande, as pessoas estão começando a se manifestar contra terroristas e confrontar suas ideologias nas redes sociais.