Refugiado da guerra síria vive o "sonho alemão"
25 de agosto de 2016"Meu guarda-chuva está como a Síria: arrasado", diz Nidal Rashow, com seu humor negro, enquanto luta para não se molhar na chuva.
Em março de 2015, Nidal ainda vivia num abrigo para refugiados em Bonn, no oeste da Alemanha – um dos vários criados pelas autoridades para lidar com a chegada de imigrantes. Esse curdo sírio de 30 anos aprendia alemão para conseguir um emprego e reconquistar sua independência o quanto antes.
Desde então, Nidal conseguiu se tornar completamente independente. "Finalmente, eu tenho tudo: um trabalho, um apartamento e uma namorada", diz, sorrindo, enquanto anda pela rua que leva para a casa de seu tutor alemão.
O caminho para a independência
O tutor se chama Wedig von Heyden e mora num subúrbio pitoresco de Bonn. Sua casa, rodeada por colinas, tem um jardim impecável com pinheiros. Nidal é esperado ansiosamente e recebe um abraço caloroso na porta da casa.
"Wedig sempre esteve lá comigo. Eu sou muito sortudo", afirma Nidal, enquanto se sentam para um bate-papo na biblioteca. "Sem ele, eu não teria terminado meu curso de alemão e ainda estaria vivendo no abrigo de refugiados. Nós dizemos que ele é nosso pai aqui na Alemanha", acrescenta o curdo sírio, referindo-se aos dois irmãos que vivem com ele em Bonn. Von Heyden tomou conta de todos.
O desespero de Nidal para achar um trabalho o levou a procurar vagas pela internet. Ele se candidatou para um trabalho na administração municipal de Bonn, e seus conhecimentos de árabe, curdo, inglês e alemão lhe garantiram uma posição. Agora, ele presta assistência e aconselha jovens refugiados que estão tentando encontrar seu caminho na Alemanha. "Alguns deles são da Síria. Quando me veem, eles vêm até mim, também porque eu falo a língua deles", diz Nidal.
Exceção à regra?
Mas o caso de Nidal parece ser mais exceção do que regra. De acordo com um relatório de junho de 2016 da Agência Federal do Trabalho da Alemanha, 297 mil imigrantes estavam desempregados. Desses, só 26% haviam concluído o ensino médio e apenas 9% tinham formação acadêmica. No entanto, os funcionários da agência ressaltam que a pesquisa não está concluída e que o resultado final pode ser diferente.
Von Heyden acredita que o número de refugiados qualificados da Síria pode ser muito maior. "O governo continua com o processo de recolhimento de dados. Mas eu tenho a impressão de que sírios, na maioria das vezes, apresentam algum tipo de formação profissional", diz.
Desde que começou a ser voluntário, em 2008, Von Heyden ajudou mais de uma dúzia de refugiados sírios a se adaptarem à vida na Alemanha. A maioria precisou de ajuda para encontrar um apartamento ou conseguir consultas médicas.
Agora, Nidal ganha cerca de mil euros por mês – o suficiente para pagar o seu próprio apartamento. Ele diz que já tem uma vida confortável, mas que está fazendo sua formação em serviço social. Ela aumentará seu salário quando concluída. "Mas isso está me custando noites de sono", diz, acrescentando que ainda tem dificuldades para acompanhar as aulas, ministradas em alemão.
Fora isso, Nidal parece ter resolvido sua vida. Ele conheceu sua namorada, Radka, da República Tcheca, há seis meses. "Ela é muito bonita, e eu gosto muito dela", afirma. Eles se conheceram num bar de narguilé em Bonn e já moram juntos.
Imigração e ataques terroristas
Como Nidal, muitos sírios gostariam de começar a trabalhar e se integrar na sociedade alemã o quanto antes. No entanto, eles reclamam que funcionários muitas vezes perdem seus documentos ou insistem em falar alemão mesmo com recém-chegados. As relações com moradores frequentemente se mostram superficiais, sinalizando que mais esforços são necessários para que refugiados e moradores se conheçam melhor.
Especialmente na esteira dos recentes ataques em Nice e Ansbach, a desconfiança tem criado um distanciamento entre moradores e refugiados. Felizmente, Nidal não sofreu qualquer discriminação em Bonn, mas está infeliz porque a guerra e o terrorismo seguem-no aonde quer que vá.
"Como sírio, eu acho que todos nós lamentamos que esses ataques estejam ocorrendo. Nós escapamos da guerra, do terrorismo e das violações para vir para um belo país, que nos recebeu de braços abertos. Quando eu vejo esse tipo de notícia na televisão, sinto vergonha", explica.
Para Nidal, sua vida é um exemplo de como os refugiados podem se integrar na sociedade da Alemanha. "Eu me sinto totalmente integrado, não recebo nenhuma ajuda estatal. Eu vivo como um alemão: estudo, tenho trabalho e uma namorada."