Refugiados sírios na Jordânia esperam voltar logo para casa
24 de outubro de 2012Todos os dias, centenas de refugiados sírios chegam à Jordânia. Em determinados dias, chegam a ser milhares. No maior campo de refugiados, Zaatari, vivem 30 mil pessoas. Muitos sírios abrigaram-se também na casa de parentes e conhecidos ou alugaram um apartamento ou um quarto.
A Organização das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR) estima que até o fim do ano 700 mil sírios terão abandonado seu país.
Suas condições de vida na Jordânia podem ser diferentes, mas uma coisa os liga: todos esperam poder voltar em breve para a sua pátria – e seguir uma vida normal.
Um lar longe da terra natal
Yousof é pai de duas meninas. Rana tem quatro anos e Sahar, seis. Como seu pai, Yousof tinha em Damasco uma loja de aquecedores. Com o negócio ele conseguia economizar algum dinheiro, até o dia em que um canhão destruiu totalmente o seu negócio.
"Eu estava preocupado com as minhas crianças e com a segurança da minha família. Então usei as economias para subornar um funcionário público do aeroporto, e viemos para Amman", frisou Yousof.
Como chegaram de avião, eles não tiveram que ir para o campo de refugiados. Agora Yousof vive com a esposa e suas duas crianças em um apartamento pequeno, porém arrumado, na cidade de Amman. A família criou sua "pequena ilha de normalidade".
Como as outras pessoas no campo de refugiados, eles também têm de lutar contra as lembranças dos eventos ocorridos na Síria. Com voz baixa, o pai conta sobre as horas passadas dentro do porão em que a sua família se escondeu durante os confrontos. Para as crianças, ele tentou explicar que tudo se tratava de um jogo e que a família estava apenas acampando no porão da casa.
Rama e sua irmã de seis anos vestem as mesmas roupas: sapatos brancos com flores estampadas, calça rosa e vestido branco. Na Síria Rama tinha um amigo imaginário chamado Tamin, para quem ela contava tudo. Desde que chegou na Jordânia, não falou mais com ele. "Agora Tamin está morto", diz ela.
Soldados desertores
Diferente da família de Yousof, a maioria dos sírios na Jordânia é acomodada em campos de refugiados. Há um acampamento especial para os soldados sírios desertores, que deixaram para trás uma longa e difícil história de vida. Eles são rigorosamente separados dos civis sírios. Mas há excessões: alguns soldados não se identificam e conseguem escapar da internação.
Um desses soldados é Abdelqadar. Com um "jeitinho", ele conseguiu se mudar para um quarto em Amman. O rapaz, de 21 anos, é alto e tem um aperto de mão forte. Seu sorriso é amigável e um pouco tímido. Ele era guarda-costas de um militar de alta patente, até que um dia foi ordenado a atirar contra jovens manifestantes. Ele fugiu, mas foi apanhado.
"Assim que cheguei na prisão eles colocaram um pano na minha cabeça e me deixaram nu. E aí começaram a me torturar", contou Abdelqadar. Ele foi torturado ao longo de 15 dias. "A cada dois dias eu recebia uma caneca de água e um pão podre. Eu estava certo de que era o fim, de que eu ia morrer e pronto", contou ele, depois de um profundo trago em seu cigarro.
Após alguns meses, ele conseguiu fugir para a Jordânia com a ajuda do Exército Livre da Síria, opositor do regime. Hoje ele quer lutar novamente. "Muitos amigos meus são rebeldes. Eu preciso de um passaporte, daí vou para a Síria através da Turquia e vou lutar com eles."
Ele balança a cabeça e diz: "Eu nunca vou perdoar o que eles fizeram comigo. Eu vou me vingar, vou matá-los." Ele apaga o seu cigarro e fica em silêncio.
Direitos humanos ou hipocrisia?
O ex-deputado do Parlamento sírio Hatem Althaher também conseguiu escapar. Ele senta em um sofá em um luxuoso apartamento em Amman. "Eu incentivei pessoas a aderir à revolução. Quando isso chegou ao conhecimento de algumas pessoas, eles quiseram me prender." Althaher foi alertado e deixou o país imediatamente.
Ele chegou ao campo de refugiados com a sua esposa e seus cinco filhos. Por ter bons contatos, conseguiu um lugar para morar. Muitos de seus parentes ainda estão na Síria.
"Esse é um teste para a comunidade internacional. Ele vai mostrar se os países levam os direitos humanos realmente a sério ou se é apenas hipocrisia", frisou o político.
Autor: Felix Gaedtke (fc)
Revisão: Francis França