Refugiados sírios transformam acampamento em cidade na Jordânia
17 de outubro de 2013Um mar de contêineres brancos, que servem como moradia, e tendas coloridas se destaca sob o sol do deserto no norte da Jordânia. O acampamento de Zaatari é a estação final para cerca de 120 mil sírios em fuga da guerra civil em seu país – e, aos poucos, já ganha traços de uma pequena cidade.
O padeiro Ibrahim, por exemplo, fugiu de Daraa, no sudoeste da Síria, com a família e encontrou abrigo no acampamento. Há um ano aqui, ele já abriu seu próprio negócio.
"Quando chegamos aqui, só havia comidas prontas que eram distribuídas para os refugiados. Não havia nada para comprar, nem pão", lembra o jovem de sorriso charmoso. "Meu irmão deu a ideia de voltarmos a fazer nosso próprio pão. E então trouxemos todo o equipamento escondido para o acampamento."
Comércio em expansão
No começo, a produção de pães era feita numa barraca da agência da ONU para refugiados (Acnur), mas hoje em dia uma construção de ferro e lona protege a padaria improvisada das frequentes tempestades de areia no deserto. De um grande forno aquecido saem pães e massas que os residentes locais podem comprar tanto com moeda jordaniana como com moeda síria.
"Nós começamos com um negócio bem simples, mas agora o comércio aqui está indo bem", conta Ibrahim.
A padaria é apenas um exemplo entre vários outros do comércio que agora toma conta do acampamento – já há salões de beleza, quitandas e até pequenos restaurantes. Na avenida principal, apelidada por alguns de Champs-Élysées, há de tudo um pouco. Onde há pouco mais de um ano só havia areia, hoje em dia estima-se que haja mais de 3 mil pontos comerciais.
"Demorou um ano desde que o acampamento para os refugiados foi montado até que a atividade e o comércio entre eles transformassem o local numa verdadeira cidade temporária. No começo algumas dessas ideias eram apenas sonhos", conta o alemão Kilian Kleinschmidt, espécie de prefeito do acampamento da Acnur.
Kleinschmidt, que trabalhou anteriormente na Somália e está em Zaatari há seis meses, diz que é preciso ter cabeça fria para lidar com os problemas no local. O acampamento, onde 120 mil pessoas moram em menos de 9 quilômetros quadrados, é conhecido pela criminalidade.
A fronteira com a Síria fica a apenas 12 quilômetros dali e refugiados chegam contando experiências terríveis, o que dificulta a tentativa de manter um ambiente calmo e seguro. Mas Kleinschmidt diz que as coisas melhoraram.
"Este não é mais o mesmo lugar que eu eu encontrei há seis meses, quando as pessoas viviam com medo", afirma o alemão. Ele explica que a atitude das pessoas mudou e que, agora, elas veem o lugar com outros olhos – ou seja, como um lar provisório.
Infraestrutura básica
Normalmente trabalhadores humanitários tentam usar o diálogo para resolver problemas. "Agora as pessoas sabem porque estamos aqui, e nós também passamos a conhecer melhor os refugiados", conta Kleinschmidt. "Muitas tensões surgem de rivalidade, mas também do estresse com o qual as pessoas vivem num acampamento."
Ele explica que a expansão da infraestrutura do campo deve ajudar a melhorar o dia a dia das pessoas e a reduzir a tensão: estradas vão ser asfaltadas, sistemas de luz e água vão ser implementados, e o acampamento vai ser dividido em bairros. Os custos, porém, são altos: cerca de 500 mil dólares por dia.
Mesmo a uma velocidade agora mais lenta, o campo de Zaatari continua crescendo. "Nas últimas semanas um número bem menor de refugiados chegou aqui", conta Kleinschmidt, explicando que é difícil passar pela fronteira e que o caminho é bem perigoso. "Além disso há intensos combates a apenas dez quilômetros daqui."
Ainda não se sabe o número exato de refugiados sírios. Atualmente a Acnur registra cerca de 150 por dia, uma quantidade bem inferior aos 3 mil que chegavam à Jordânia no começo do ano. Mas nem todos os sírios que procuram abrigo no país ficam no acampamento. Muitos tentam encontrar emprego em outros lugares, e ainda há aqueles que optam por voltar para a Síria – e para a guerra civil.
Mas, apesar das melhorias, Zaatari ainda é um campo de refugiados. Na padaria, Ibrahim se concentra no trabalho, já que as esperanças de que o conflito na Síria acabe em breve são escassas. A família toda precisa ajudar. Até mesmo as crianças têm seus deveres e, por isso, não frequentam a escola do acampamento.
"Eu não penso no futuro e nem sei se algum dia eu ainda vou voltar para a Síria. Não há esperança alguma", diz.