Resgate do Chipre é bem recebido na UE, mas indigna Moscou
25 de março de 2013O acordo para o resgate do Chipre foi recebido nesta segunda-feira (25/03) com indignação pelo governo russo e com aplausos da União Europeia (UE), capitaneados sobretudo pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel. A líder alemã disse que o resultado é correto ao responsabilizar os reais responsáveis pelo problema e ao distribuir o peso do programa de ajuda.
"O resultado encontrado é certo e também chama à responsabilidade aqueles que causaram os problemas. Assim deve ser", afirmou Merkel, que deixou claro que os cipriotas contam com a solidariedade dos demais países europeus. A solução, afirmou ela, preservará o Chipre da insolvência.
Após penosas negociações, nesta madrugada os ministros europeus das Finanças concordaram em disponibilizar até 10 bilhões de euros em créditos para o Chipre. Como pré-condição, o setor de finanças nacional deverá ser reestruturado, sem que, no entanto, ocorra a controversa intervenção nas poupanças abaixo de 100 mil euros, como previsto no plano de resgate original.
"É um programa viável o que aí se anuncia", comentou o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, em Berlim. O consenso acordado pelo Eurogrupo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o governo cipriota é, segundo ele, "do interesse do Chipre" e "do interesse da Europa, da zona do euro".
Seibert enfatizou que o pacote abre o caminho para "a necessária reorganização do setor financeiro cipriota". O país, afirmou, necessita de um setor bancário "menor, que opere de forma sustentável". Ele admitiu que, de início, isso acarretará privações, mas a longo prazo vai contribuir para o restabelecimento das finanças cipriotas.
Aprovação de bancos alemães
Representantes do setor bancário alemão mostraram-se igualmente satisfeitos com o pacote aprovado para o Chipre. "Com o pacote de resgate agora aprovado, retorna uma maior calma e estabilidade à zona do euro", declarou Andreas Schmitz, presidente da confederação de bancos privados alemães BdB.
Elogiou-se também que os credores e clientes participem do saneamento dos dois maiores bancos nacionais. "No caso do Chipre, deixou-se claro que ninguém deve contar com medidas de resgate por terceiros sem uma substancial participação própria e sem uma mudança do próprio comportamento", observou Georg Fahrenschon, presidente da confederação das caixas econômicas alemãs (DSGV). "Essa experiência será benéfica para a zona do euro e, portanto, também para os mercados financeiros."
O fato de que os correntistas menores dos bancos cipriotas serão poupados também foi avaliado como positivo. "Isso está de acordo com as diretrizes da União Europeia e é um sinal importante para os pequenos investidores", disse Uwe Fröhlich, presidente da confederação de bancos de cooperativas (BVR).
Em entrevista à agência de notícias Reuters, um representante do setor, que não quis ser identificado, disse não acreditar que os investidores do Chipre venham a transferir seu capital para as instituições financeiras da Alemanha. No caso da ilha mediterrânea, trata-se, em geral, de dinheiro duvidoso, que não poderia ser aceito em contas alemãs. Além disso, ao contrário do Chipre, o país não atrai correntistas com juros exageradamente altos, afirmou.
Perdas para a Igreja Ortodoxa
O governo grego também comentou o acordo entre o Chipre e seus financiadores, dizendo que os efeitos serão "dolorosos", porém evitarão a falência estatal e a saída do país da zona do euro, assim como o "caos" resultante. Na sexta-feira, Atenas divulgara que o grego Piraeus Bank assumiria as filiais nacionais das principais instituições financeiras cipriotas, o Bank of Cyprus e o Popular Bank (Laiki).
Entre os grandes perdedores das novas condições de taxação bancária no Chipre está a Igreja Ortodoxa. Segundo estimativas de seu líder, o arcebispo Chrysostomos, as perdas podem chegar a 100 milhões de euros.
"No entanto, a Igreja vai sobreviver", assegurou o prelado em Nicósia. Afinal, em tempos difíceis, a instituição "até vendeu o cálice da comunhão", a fim de superar crises. Por outro lado, Chrysostomos declarou-se decepcionado com a atitude da UE. "Nós havíamos acreditado numa outra Europa", no entanto, foram "os grandes e fortes" que se impuseram, criticou.
Críticas de Moscou
Falando a representantes governamentais em Moscou, o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, reagiu com indignação ao novo programa de resgate, que significará perdas substanciais sobretudo para os grandes investidores estrangeiros no Chipre: "Em minha opinião, prossegue o roubo daquilo que já foi roubado". Por outro lado, é preciso "investigar que consequências as medidas trarão para o sistema financeiro internacional", completou o premiê.
Segundo cálculos da agência de rating Moody's, os depósitos russos em instituições cipriotas alcançam um valor nominal por volta de 24 bilhões de euros. Para os que possuem depósitos acima do limite de 100 mil euros no Bank of Cyprus, o principal do país, a taxação deverá chegar a 30%, de acordo com as atuais deliberações no Chipre. Inicialmente, essas contas ficarão congeladas, para garantir a contribuição compulsória.
Recentemente fracassaram as negociações de vários dias entre Moscou e Nicósia, visando uma participação direta da Rússia no plano de resgate. Em 2011, o país concedera um empréstimo de 2,5 bilhões de euros aos cipriotas, que haviam requerido a prorrogação do prazo de devolução - de quatro e meio para cinco anos - assim como a redução dos juros para 4,5%.
Apesar das tensões entre os dois países, geradas pelas últimas decisões do Eurogrupo, nesta segunda-feira o presidente russo, Vladimir Putin, declarou haver encarregado seu governo de estudar uma possível "reestruturação" do crédito para o Estado insular. Segundo o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, o chefe de Estado considera possível "apoiar os esforços do presidente cipriota e também da Comissão Europeia". A meta, afirmou, deve ser superar a crise econômica e bancária do Chipre.
AV/dpa/afp/rtr