Rodada decisiva na briga pelo orçamento da UE
16 de dezembro de 2005A rodada decisiva de negociação do orçamento da União Européia para o período de 2007 a 2013 foi marcada por uma "certa movimentação", uma boa dose de especulações e nenhum resultado concreto, até o início da noite desta sexta-feira (16/12). Até as 21 horas (horário europeu), o resultado ainda era imprevisível.
"As conversações são literalmente muito difíceis", desabafou a chanceler federal alemã Angela Merkel, antes de um encontro com o premiê britânico Tony Blair. O Reino Unido exerce a presidência rotativa da UE e tem papel decisivo nas negociações.
Assuntos como as subvenções agrárias, o "cheque britânico" e a transferência de recursos para os novos países-membros do bloco foram discutidos exaustivamente, mas no início da noite ainda persistiam divergências em vários pontos.
Segundo informações de diplomatas, em conversas individuais com os chefes de Estado e governo, Blair teria se mostrado disposto a reduzir o benefício de cerca de 10,5 bilhões de euros anuais obtido pelos britânicos, através do chamado "cheque britânico". Trata-se de um mecanismo que, desde 1984, compensa financeiramente o Reino Unido pelo pouco uso da Política Agrícola Comum (PAC).
Essa proposta foi considerada a "principal movimentação do dia", antes mesmo de ser oficialmente confirmada, por ser vista como chave para resolver o impasse. A França, Alemanha e Polônia haviam pedido um corte de 11 bilhões de euros no "cheque britânico" para o período de 2007 a 2013.
"Diplomacia do bloco de cheque"
A outra novidade foi a sugestão de Merkel de aumentar o orçamento de 2007-2013 de 849 bilhões de euros (proposta britânica) para 862 bilhões de euros, o que ainda seria menos do que o governo luxemburguês havia proposto no início deste ano (871 bilhões de euros).
Ao apelar para a "diplomacia do bloco de cheque", Merkel, sem querer, se viu na função de mediadora do conflito em Bruxelas. Ao mesmo tempo, a chefe do governo alemão não deixou dúvidas de que "a Alemanha, em primeiro lugar, também precisa defender seus próprios interesses. E, como grande contribuinte da UE, precisamos usar o dinheiro com parcimônia", disse.
O ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw, falou no mesmo tom: "A solidariedade é importante, mas todos os países-membros precisam pensar também em seus interesses nacionais."
O presidente da Comissão Européia, José Manauel Barroso, conclamou os participantes da cúpula a mostrarem "ambição e responsabilidade. Todos precisam se movimentar, não só os britânicos. Os custos de um fracasso seriam muito altos".
Condenação do anti-semitismo
Embora a briga pelo dinheiro fosse o principal assunto em pauta, os líderes europeus aproveitaram o encontro de Bruxelas também para condenar o anti-semitismo do presidente iraniano, manifestado pelos recentes ataques verbais a Israel e pela negação do Holocausto.
Além disso, mostraram-se preocupados com o programa nuclear do Irã e denunciaram a "onda de assassinatos" no Líbano, após um relatório da ONU ter apontado o envolvimento dos serviços de inteligência libanês e sírio" no assassinato do ex-premiê libanês Rafic Hariri.