Roteiro de três dias em Weimar
Localizada no estado alemão da Turíngia, a cidade ficou conhecida pela época chamada Classicismo de Weimar (Weimarer Klassik), que corresponde à regência da duquesa Anna Amalia (1739-1807) e seu filho duque Carl August (1757-1828).
Há 200 anos, esses governantes trouxeram para Weimar importantes personalidades da época, como os poetas Goethe, Schiller, Wieland e Herder. Conhecido como Era Dourada (Goldenes Zeitalter), esse período marcou a cidade como nenhum outro.
Em 1998, o conjunto de prédios e parques da Weimar Clássica no centro histórico (Altstadt) e arredores foi elevado a Patrimônio Mundial da Humanidade. Entre eles, estão a Casa de Goethe, a Casa de Schiller, a Biblioteca Anna Amalia, o Parque no rio Ilm e o Palácio Belvedere.
Mas Weimar não se resume ao seu passado clássico. Foi ali que nasceu a Bauhaus, principal escola de arquitetura e design do século 20, e foi também na cidade da Turíngia onde foi proclamada a República de Weimar, como ficou conhecido o período da primeira democracia parlamentar na Alemanha.
E bem próximo do centro da cidade também se encontra um testemunho do capítulo mais difícil da história alemã: o antigo campo de concentração de Buchenwald, transformado hoje em centro de documentação e memorial em homenagem às vítimas do terror nazista e da posterior ocupação soviética.
Aqui vão sugestões para um roteiro de três dias na cidade de Goethe e Schiller.
1° Dia: Centro histórico – Weimar Clássica
A maioria das atrações de Weimar se encontra no centro histórico, que é pequeno e pode ser percorrido a pé ou de bicicleta. Inicie seu primeiro dia na antiga capital do Grão-Ducado de Saxe-Weimar-Eisenach na Praça do Teatro (Theaterplatz), pois nada como o monumento em homenagem aos poetas Goethe e Schiller para começar seu tour no berço do Classicismo alemão.
O monumento foi inaugurado em 1857 em frente à entrada principal do teatro fundado em 1791, como símbolo do trabalho frutífero dos dois poetas em Weimar. Goethe dirigiu o antigo Hoftheater até 1817. Foi ali que Schiller encenou muitas de suas peças.
E foi no Deutsches Nationaltheater (Teatro Nacional Alemão), em Weimar, onde se reuniu a Assembleia Nacional (Nationalversammlung) para a criação da República de Weimar, período em que a Alemanha vivenciou sua primeira democracia parlamentar. O atual prédio neoclássico foi inaugurado em 1908.
Sob as árvores do movimentado calçadão Schillerstrasse, siga em direção à Casa de Schiller (Schillers Wohnhaus), residência do poeta que deu nome à via. Construída em 1777, Schiller comprou a casa em 1802 para ele e sua família, que morou ali até a morte de Charlotte von Schiller, em 1826.
Móveis e objetos que pertenceram ao poeta permitem ao visitante uma visão sobre sua vida e o cotidiano em Weimar no início do século 19. Em seu gabinete de trabalho, ele escreveu peças como Guilherme Tell. No mesmo prédio, também funciona o Museu Schiller (Schiller-Museum), com três grandes salas de exposições.
Continuando na Schillerstrasse e dobrando à direita na Frauenhofstrasse, você vai chegar à praça Frauenplan.
Ali se encontra a Casa de Goethe (Goethes Wohnhaus), onde o poeta e naturalista alemão Johann Wolfgang von Goethe viveu durante 50 anos, marcando como nenhum outro a cidade da Turíngia.
Ela foi construída em estilo barroco em 1709. Goethe mudou-se para lá em 1782, permanecendo até sua morte, em 1832. Além do mobiliário original, nos 18 aposentos abertos ao público, são mostrados objetos pessoais e inúmeros itens de todas as coleções de Goethe: desenhos, pinturas, esculturas, bronzes, cerâmicas, moedas e medalhões.
Seguindo pela Seifengasse, você vai passar pela casa de Charlotte von Stein, amiga íntima e amante (aos menos platônica) de Goethe, e seguir até a Praça da Democracia (Platz der Demokratie). No centro da praça está a estátua equestre de Carl August (1757-1828), grão-duque de Saxe-Weimar-Eisenach. Na parte sul, a Fürstenhaus (antiga residência real e sede governo) é hoje a Universidade de Música Franz Liszt (Hochschule für Musik Franz Liszt).
No lado da praça que dá para o Parque no rio Ilm (Ilmpark), você logo vê o prédio barroco da Biblioteca Anna Amalia. Não precisa gostar de literatura para fazer uma visita à famosa instituição, pois a beleza de sua Rokokosaal (sala rococó) é de tirar o fôlego. Fechado às segundas, o prédio vende somente 70 tíquetes por dia para visitantes individuais (cada pessoa só pode adquirir quatro entradas). Assim, é melhor comprar com antecedência.
A Biblioteca Duquesa Anna Amalia foi uma das primeiras bibliotecas principescas abertas ao público na Alemanha e mantém os livros que Wieland, Goethe, Herder, Schiller e muitos outros usaram para o seu trabalho.
Sua história remonta a 1552, em 1691 foi alojada em três salas do palácio real (Residenzschloss). No entanto, ela só conseguiu obter maior impacto público ao se mudar para um prédio separado disponível a partir de 1766, convertido pela duquesa Anna Amalia em biblioteca. O edifício possui no primeiro andar um salão representativo de livros com duas galerias no estilo rococó.
Ao norte da Praça da Democracia, você logo vê o Palácio de Weimar (Stadtschloss ou Residenzschloss), antiga residência dos duques de Saxe-Weimar-Eisenach. Depois de um incêndio, o prédio foi reconstruído no final do século 18, com exceção da torre e do pequeno edifício na entrada, remanescentes do castelo renascentista.
O palácio abriga hoje o Schlossmuseum, um museu histórico-artístico com destaque para pinturas dos séculos 16 ao 19, entre elas, obras de Albrecht Dürer, Lucas Cranach, Rodin e Monet.
Continue o seu passeio pela Herderplatz, com o monumento em homenagem ao poeta alemão Johann Gottfried Herder, que viveu em Weimar de 1776 até sua morte, em 1803. Ali também se encontra a principal igreja de Weimar, a Stadtkirche St. Peter und Paul (Igreja Municipal de São Pedro e Paulo), também chamada de Herderkirche.
Reconstruído após a guerra, o atual edifício remonta a uma construção do gótico tardio do final do século 15. Considerada uma das principais obras da arte alemã no século 16, o tríptico do altar é de autoria de Lucas Cranach, o Jovem.
Depois desse passeio pelo Classicismo alemão, desça pela Kaufstrasse e termine seu dia na praça Markt, onde você pode comer a tradicional salsicha da Turíngia (Thüringer Bratwurst), olhando para o belo prédio neogótico da prefeitura (Rathaus) e para a Casa de Cranach (Cranachhaus), onde viveram os pintores renascentistas alemães Lucas Cranach, o Velho, e seu filho, Lucas Cranach, o Jovem.
2° Dia: Bauhaus e Parque no rio Ilm
O legado da mais importante escola de arquitetura e design do século 20 está presente em Weimar na Universidade Bauhaus e no Museu da Bauhaus (Bauhaus Museum).
Assim, você pode iniciar seu segundo dia com uma visita ao prédio que abrigou a famosa escola, na Geschwister Scholl-Strasse, e onde hoje funciona a sede da atual Universidade Bauhaus, projetada pelo arquiteto belga Henry van de Velde. Em 1908, ele fundou a Escola de Artes e Ofícios de Weimar (Kunstgewerbeschule Weimar).
Com o início da Primeira Guerra Mundial, a instituição dirigida por Van de Velde foi fechada. Sob a direção do arquiteto alemão Walter Gropius, ela reabriu somente em 1919, com o nome Bauhaus. O centenário de fundação da renomada escola vai ser comemorado com a inauguração do novo Museu da Bauhaus (Bauhaus Museum Weimar), em abril de 2019.
Próximo do novo Museu da Bauhaus na praça Stéphane-Hessel-Platz, encontra-se também o Neues Museum (Novo Museu), fundado em 1869. A partir de 2019, ele passará a fazer parte do Quartier der Moderne (Bairro da Modernidade).
Como parte das comemorações do centenário da Bauhaus, a exposição Van de Velde, Nietzsche e a Modernidade em torno de 1900 (Van de Velde, Nietzsche und die Moderne um 1900) vai ser aberta no Novo Museu, com obras do realismo, impressionismo e art nouveau. Ambos os museus se situam no norte do centro histórico, a algumas quadras da Estação Central (Hauptbahnhof).
Mas bem perto do prédio da Bauhaus na Geschwister Scholl-Strasse, encontra-se na Marienstrasse a casa onde viveu e trabalhou o compositor Franz Liszt. De 1848 a 1861, ele morou em Weimar com a princesa Carolyne von Sayn-Wittgenstein. Esses foram os anos mais produtivos de sua vida artística. Em 1869, ele voltou a viver na cidade, dando aulas durante os meses de verão, na residência em que hoje funciona o museu Casa Liszt (Liszt-Haus).
Por trás da Casa Liszt se encontra o Park an der Ilm, ao longo do rio que corta a cidade, entre o Stadtschloss e o bairro de Oberweimar. O parque foi instalado no século 18 com a participação de Johann Wolfgang Goethe. Desde então, sofreu poucas alterações e é hoje um dos conjuntos paisagísticos mais bem preservados do Classicismo e do Romantismo.
Além de um passeio mais do que agradável, o parque abriga diversas atrações, como a Parkhöhle (Caverna do Parque), um sistema de túneis subterrâneos a uma profundidade de 12 metros. Uma escadaria perto da Casa Liszt leva ao túnel que termina no chamado Nadelöhr (buraco da agulha), um portão de pedra criado artificialmente no Ilm.
Como todo bom parque romântico, há também ruínas artificiais, como as por trás do Monumento a Shakespeare (Shakespeare-Denkmal), mas também ruínas verdadeiras, como a do espaço de eventos Tempelherrenhaus, bombardeado na Segunda Guerra. Não muito longe da Casa de Liszt há também o Monumento a Liszt (Liszt-Denkmal).
Com suas colunas jônicas, a Casa Romana (Römisches Haus) foi construída sob orientação de Johann Wolfgang Goethe entre 1791 e 1798 nas encostas íngremes do parque no Ilm, como refúgio para o duque Carl August von Sachsen-Weimar e Eisenach. Ela é um dos primeiros edifícios neoclássicos da Alemanha.
Antes de terminar seu tour no parque, vá à casa de campo de Goethe (Goethes Gartenhaus), onde o poeta e naturalista realizou experimentos botânicos e abrigou sua coleção de minerais. Hoje, o jardim está como na década de 1820, mas os antigos canteiros de verduras foram substituídos por gramados.
E logo no fim do Parque do rio Ilm (Park an der Ilm), Weimar lhe reserva uma agradável surpresa: o Museu Alemão da Abelha (Deutsches Bienenmuseum), com loja de mel e restaurante regional, localizado na rua Ilmstrasse. Quem for lá em dezembro pode também desfrutar sua Feira de Natal alternativa.
Caminhe pelo parque até a rua Am Horn, um "showroom" da arquitetura racionalista, construída em 1923 a fim de atrair investidores para um projeto habitacional a ser construído no estilo Bauhaus, um projeto só se tornou realidade 80 anos depois.
E, para os que ainda têm fôlego, bem ao norte do Parque no rio Ilm, na rua Jenaer Strasse, encontra-se o Arquivo Goethe e Schiller (Goethe-und Schiller Archiv), o mais antigo e mais tradicional arquivo literário da Alemanha, abrigando o legado de escritores, filósofos, compositores, como Goethe, Schiller, Wieland, Herder, Liszt e Friedrich Nietzsche.
3° Dia: Buchenwald e Belvedere
Aproveite o seu último dia para conhecer, a poucos quilômetros do centro de Weimar, um dos locais do capítulo mais trágico da história alemã: o Memorial Buchenwald, inaugurado em 1958, sob o governo da então Alemanha Oriental, no local onde funcionou o campo de concentração de mesmo nome. Com a tomada de Weimar, no fim da guerra, os Aliados levaram os habitantes da cidade para ver as atrocidades praticadas em seus arredores.
Hoje, exposições informam os visitantes sobre o campo de concentração e sua história. A maior delas documenta os destinos dos prisioneiros de um dos maiores campos de concentração em solo alemão, onde foram mortas pelo regime nazista mais de 55 mil pessoas.
A segunda exposição informa sobre o campo especial soviético após o fim da Segunda Guerra, e a terceira fala da apropriação política do Memorial pelo SED, então partido único da Alemanha de regime comunista.
Uma visita a Buchenwald pode não ser fácil, mas é, certamente, muito educativa. Aproveite o resto do dia para relaxar no Palácio e Parque Belvedere (Schloss und Park Belvedere), considerado por muitos o mais belo de Weimar. Há ruínas artificiais, fontes e uma orangerie.
Localizado no sul da cidade, o palácio barroco foi construído entre 1724 e 1748 como residência de verão do duque Ernst August von Sachsen-Weimar e Eisenach.
Desde 1923, o prédio abriga um museu de artes aplicadas do século 18. Ao lado do palácio, também se encontra uma escola de música (Musikgymnasium).
No verão, não deixe de escutar o canto dos pássaros ou os ensaios dos alunos da escola de música do Palácio Belvedere. No outono, um passeio pelo parque nebuloso pode catapultar você para épocas passadas e longínquas. Do centro, são somente dois quilômetros, mas você também pode pegar a linha de ônibus 1 e descer no Belvedere.
Como visto, Weimar é pequena, mas ali não faltam atrações. Se for passar mais dias, não deixe de subir na torre da igreja Jakobskirche; de visitar o Arquivo de Nietzsche, na casa onde o filósofo passou os últimos anos de sua vida; ou mesmo visitar o cemitério histórico de Weimar (Alter Friedhof) com a Fürstengruft (cripta dos príncipes), onde se encontram os restos mortais das grandes personalidades do Classicismo de Weimar ao lado do túmulo de membros da nobreza.