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Rússia condena dois à prisão por declamar poesia antiguerra

29 de dezembro de 2023

Artyom Kamardin, 33, e Yegor Shtovba, 23, tiveram penas de sete e cinco anos e meio. Para a Justiça, dupla "incitou o ódio" e "ameaçou segurança do Estado". Quase 20 mil já foram detidos por criticar invasão da Ucrânia.

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Policiais russos durante julgamento dos ativistas Artyom Kamardin (à esq.) e Yegor Shtovba (à dir.), que aparecem ao fundo atrás de um vidro de proteção
Os ativistas Artyom Kamardin (à esq.) e Yegor Shtovba (à dir.) durante o julgamento em Moscou: condenados por declamar poesia anti-guerra.Foto: Alexander Nemenov/AFP/Getty Images

Em mais uma ofensiva autoritária da Rússia contra opositores da guerra na Ucrânia, um tribunal de Moscou condenou nesta quinta-feira (28/12) dois homens à prisão por recitarem versos críticos ao conflito durante um protesto no ano passado.

Artyom Kamardin, de 33 anos, recebeu uma sentença de sete anos por recitar um poema; já Yegor Shtovba, de 23 anos, teve pena de cinco anos e meio por participar da declamação. A ação foi realizada dias após o presidente Vladimir Putin convocar 300 mil reservistas para a guerra.

Para a Justiça, os dois "incitaram o ódio" e "instigaram atividades que ameaçam a segurança do Estado".

O julgamento transcorreu em uma sala de audiências fortemente vigiada, diante da presença de apoiadores da dupla.

Antes de ser sentenciado, um sorridente Kamardin recitou outro poema em que classificava a poesia como algo "dilacerante" e frequentemente malquisto por "pessoas acostumadas à ordem".

Antes, em um canal no Telegram, o ativista escreveu que não era um herói. "Ir para a prisão por causa das minhas convicções nunca esteve nos meus planos."

Ativista denunciou abuso policial

Preso em setembro de 2022 após recitar um poema autoral e criticar o imperialismo russo em uma praça de Moscou onde dissidentes se reúnem desde a era soviética, Kamardin disse ter sido estuprado por policiais e obrigado a filmar um pedido de desculpas enquanto sua mulher, Alexandra Popova, era ameaçada pelos agentes.

Aos juízes, ele afirmou que não sabia da ilegalidade de suas ações e pediu misericórdia.

Shtovba também insistiu na sua inocência: "O que eu fiz de ilegal? Ler poesia?" O rapaz também se dirigiu à mãe: "Mãe, sei que você, mais que ninguém, acredita na minha inocência. [...] Sinto muito por como as coisas aconteceram, [por] deixar você e papai sozinhos."

Após a leitura da sentença, parte da plateia reagiu aos gritos de "vergonha!"; alguns foram posteriormente detidos pela polícia fora do prédio do tribunal, segundo a agência de notícias AFP.

Em uma entrevista no ano passado ao mesmo veículo, Popova afirmou ter sido ameaçada de estupro pelos policiais ao ser presa com o companheiro, além de ter apanhado e tido cola aplicada nas bochechas e nos lábios.

Manifestações contrárias à guerra levaram à prisão de quase 20 mil 

Ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock condenou a decisão do Judiciário russo, acusando o Kremlein de "permitir a asfixia da liberdade de expressão".

A prisão de opositores da guerra é algo comum na Rússia, onde o dissenso tem sido duramente combatido. Entre fevereiro de 2022, quando teve início a invasão em larga escala do território ucraniano, e o início de dezembro deste ano, quase 20 mil pessoas foram detidas no país por se manifestarem contra o conflito – dessas, 784 estão sendo processadas criminalmente. Os números são da OVD-Info, um grupo de direitos humanos que combate a perseguição política no país.

Um desses casos é o da artista Alexandra Skochilenko, condenada em novembro a sete anos de prisão por trocar etiquetas de preço em um supermercado em São Petersburgo por slogans críticos à campanha militar russa na Ucrânia.

A repressão é amparada por uma lei introduzida dias após a Rússia enviar tropas para a Ucrânia, e que efetivamente criminalizou qualquer expressão pública sobre a guerra que se desvie da narrativa oficial.

A maioria dos opositores de destaque na Rússia ou fugiu do país ou foi presa, como aconteceu com Alexei Navalny.

ra (AFP, AP)