Rússia diz controlar Mariupol, mas ainda encara resistência
21 de abril de 2022A Rússia afirmou nesta quinta-feira (21/04) que controla a cidade portuária de Mariupol, no sudeste do país. No entanto, os próprios russos admitem que os ucranianos ainda mantêm um foco de resistência em um grande complexo siderúrgico na cidade.
"As Forças Armadas da Federação Russa e as milícias da República Popular de Donetsk libertaram Mariupol, os remanescentes das formações nacionalistas se refugiaram na zona industrial da fábrica de Azovstal", disse o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, em reunião transmitida pela TV estatal com o presidente russo, Vladimir Putin, mencionando siderúrgica onde se encontra o último foco de resistência ucraniana.
Usando a linguagem de propaganda de Kremlin, o ministro disse que mais de 2 mil soldados ucranianos e também "combatentes estrangeiros" ainda se encontram no complexo, que dispõe de numerosos túneis subterrâneos.
Shoigu disse que os soldados e milicianos ucranianos eram pouco mais de 8.100 quando culminou o cerco a Mariupol e que, deles, "mais de 4 mil foram aniquiados e 1.478 se entregaram prisioneiros".
Nesta quarta-feira, o comandante dos fuzileiros navais da Ucrânia que ainda resistem nas instalações da Azovstal fez um apelo dramático a líderes internacionais e pediu a evacuação dos soldados e civis refugiados no lugar para o território de um outro país.
"Liberação de Mariupol é um sucesso"
Durante o encontro, Putin disse ter ordenado que as tropas russas interrompam as operações para invadir a área da Azovstal. Em vez disso, disse ele, o local deve ser totalmente cercado. Putin afirmou que os soldados ucranianos que ainda resistem no local terão suas vidas poupadas, caso se entreguem.
"O fim do trabalho de libertação de Mariupol é um sucesso", disse Putin a Shoigu, também usando a linguagem de propaganda do Kremlin, que chama a invasão e conquista de território estrangeiro de "libertação". Nos quase dois meses de batalha pela cidade, os russos destruíram mais de 90% dos prédios. Autoridades locais afirmam que pelo menos 10 mil civis ucranianos morreram.
Putin também afirmou que um ataque à fábrica de Azovstal "não é apropriado" e que a área precisava ser sitiada.
"Precisamos pensar na vida e na saúde de nossos soldados e oficiais", acrescentou o líder russo, segundo o qual a área da siderúrgica deve ser cercada de tal forma que "nemuma mosca consiga mais entrar ou sair". Shoigu assegurou que as tropas ucranianas estão totalmente bloqueadas e que poderia levar três a quatro dias para tomar completamente o complexo.
O governo ucraniano apelou para que Moscou permita com urgência que civis e soldados feridos possam sair da siderúrgica. "No local, estão cerca de mil civis e 500 soldados feridos. Eles têm que ser retirados de lá ainda hoje", escreveu a vice-primetra-ministra ucraniana, Iryna Verechtchouk no Telegram.
Já o assessor presidencial ucraniano, Oleksiy Arestovych, minimizou os anúncios russos e afirmou que os defensores ucranianos seguem resistindo. "Eles [russos] fisicamente não podem tomar Azovstal, eles entenderam isso, eles sofreram enormes perdas lá", disse.
Retirada da cidade
Em entrevista coletiva concedida hoje, o prefeito de Mariupol foi questionado sobre as afirmações de Choigu sobre a tomada da cidade, o que negou.
"Mariupol é e será ucraniana", garantiu Vadym Boychenko.
O prefeito ainda afirmou que cerca de 100 mil pessoas seguem "na parte ocupada" da cidade e que, desde o início da invasão russa, outras 100 mil a deixaram por diferentes meios.
Boychenko ainda confirmou a existência de valas comuns abertas pelas tropas russas em um cemitério localizado a cerca de 20 quilômetros de Mariupol, onde estariam sendo depositados corpos.
Segundo o prefeito, o local é utilizados para ocultar "crimes de guerra".
Em meio a intensos combates em Mariupol, quatro ônibus com civis conseguiram deixar o a cidade portuária na manhã desta quinta-feira.
De acordo com o governo da Ucrânia, a retirada de civis devem continuar ao longo do dia.
Kiev propôs negociações com Rússia sobre Mariupol. O objetivo é salvar os soldados e civis que ainda estão na cidade que se encontra em grande parte em ruínas.
md (EFE, AFP, Reuters)