Rússia: oito candidatos, um vencedor certo
18 de março de 2018Quando Vladimir Putin foi eleito presidente da Rússia pela primeira vez, em 2000, concorriam 11 candidatos. Depois, nas eleições posteriores, o número diminuiu drasticamente. Segundo certos críticos, o próprio Kremlin era quem mantinha a lista assim reduzida.
Agora parece que os velhos tempos estão de volta: na cédula apresentada para as eleições presidenciais de 18 de março de 2018 constam ao todo oito nomes, o dobro do número de candidatos de 2008.
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Uma explicação usual para o grande número de candidatos é a preocupação do Kremlin com a participação eleitoral. Pois um dos candidatos se destaca: o atual presidente Putin é o grande favorito, segundo as sondagens dos institutos nacionais de pesquisa de opinião.
Os resultados apontam que 70% dos russos pretendem eleger o ex-funcionário da KGB de 65 anos como presidente, pela quarta vez. Uma taxa de aprovação tão alta faz os desafiantes, com seus parcos índices, parecerem anões.
Os russos, no entanto, não se interessam muito por eleições cujo resultado seja previsível. Já nas eleições parlamentares de 2016, a participação eleitoral caiu drasticamente. Em Moscou, por exemplo, ficou em torno de 35%.
Os observadores acreditam que, com as novas caras, o Kremlin esteja tentando tornar o pleito mais empolgante. Mas sem ameaçar a vitória de Putin, pois seu desafiante potencialmente mais forte, Alexei Navalny, não foi aceito como candidato, devido a uma condenação judicial. O oposicionista interpretou isso como uma tentativa de eliminá-lo, e convocou ao boicote das eleições.
O já idoso líder comunista Guennadi Ziuganov, que quase sempre ficou em segundo lugar em pleitos anteriores, não participará mais. Entre os candidatos encontram-se tanto políticos quase aposentados como novas figuras.
Pavel Grudinin, o iniciante
À segunda categoria pertence Pavel Grudinin. O político de 57 anos, chefe de uma empresa agrícola perto de Moscou, foi escolhido de surpresa pelo Partido Comunista da Rússia (KPRF) como seu candidato, embora ele não seja membro do KPRF. De acordo com os dados das pesquisas oficiais, ele pode receber aproximadamente 6% dos votos, ficando em segundo lugar, depois de Putin.
Outros observadores, contudo, predizem para Grudinin um resultado significativamente melhor, pois seu rosto desconhecido e suas visões moderadas parecem agradar a muitos russos. E aparentemente o próprio Kremlin teme que ele possa prejudicar a previsível vitória de Putin. Ultimamente, Grudinin vem sendo atacado com rigor especial pela mídia estatal, não por ser um admirador de Josef Stálin, mas por contas bancárias no exterior.
Vladimir Zhirinovsky, o agitador
Um dos principais concorrentes de Grudinin pelo segundo lugar é Vladimir Zhirinovsky, o candidato mais veterano destas eleições presidenciais. O líder de 71 anos do populista de direita Partido Liberal Democrata da Rússia (LDPR) se candidatou pela primeira vez à presidência do país em 1991.Apesar de pertencer formalmente à oposição, há muito tempo faz parte do establishment e está alinhado com o Kremlin.
Suas aparições públicas agitadoras, nas quais costuma ameaçar o Ocidente com bombardeios nucleares, são parte integrante dos talk-shows russos. Zhirinovsky faz com que Putin pareça moderado e sensato; não é um verdadeiro opositor e adversário para o atual presidente.
Grigory Yavlinsky, o velho liberal
Quase tanto tempo quanto Zhirinovsky, Grigory Yavlinsky também tenta se tornar presidente russo. Na política desde o início dos anos 1990, o cofundador do partido Yabloko, de direita liberal, concorreu nas eleições presidenciais de 2000, ficando em terceiro lugar, com 7% dos votos.
Yavlinsky tem a imagem de um político liberal com visões pró-Ocidente, mas que nunca conseguiu alcançar camadas amplas da população. O número de seus eleitores parece até estar diminuindo.
Boris Titov, protetor dos empresários de Putin
Com 57 anos, Boris Titov está entre os candidatos mais jovens à presidência. Nas eleições de 2000, alcançou 1,5% dos votos, e deve obter resultado semelhante desta vez.
Titov representa o jovem Partido do Crescimento, liberal de direita, que nunca desempenhou um papel significativo na política russa e que até agora nunca alcançou bons resultados nas eleições.
Titov fez carreira como homem de negócios, e desde 2012 é comissário presidencial para os direitos dos empresários russos. Nestas eleições ele tenta mobilizar as camadas pró-economia liberal.
Sergei Baburin, o nacionalista
Sergei Baburin, de 59 anos, surge nestas eleições como a sombra de um passado distante. Como vice-presidente do Parlamento, o político conservador ficou conhecido principalmente na década de 90, mas depois ficou em segundo plano no palco político.
Baburin é líder do partido minoritário União Nacional Russa, de orientação nacionalista e conservadora, que apoia Putin na política interna e externa.
Ksenia Sobchak, uma contra todos
Ksenia Sobchak, de 36 anos, é uma candidata especial nestas eleições, não apenas por ser a única mulher. Ela é filha do ex-prefeito de São Petersburgo Anatoly Sobchak, considerado um dos padrinhos políticos de Putin.
Ela começou fazendo carreira no mundo do espetáculo, tornando-se com o tempo jornalista de tendência oposicionista, mas não é política de profissão. Na campanha, promove-se como a "candidata contra todos", tentando assim conquistar os eleitores de protesto: quem não gosta dos outros candidatos, deve votar nela.
Sobchak defende um programa liberal e critica cautelosamente o chefe do Kremlin. Desde que anunciou sua candidatura, tem acesso aparentemente ilimitado à mídia, o que muitos interpretam como indício de que seria protegida pelo Kremlin. Teoricamente ela deveria atrair os simpatizantes de Navalny, insatisfeitos e, em sua maioria, jovens, porém polemiza muito e provavelmente conquistará bem poucos votos.
Maxim Suraykin, o comunista alternativo
Entre as novas caras desta eleição, está também Maxim Suraykin, de 39 anos. Ele é presidente do partido Comunistas da Rússia, fundado em 2009, que se apresenta como alternativa ao tradicional Partido Comunista da Rússia. Este, por sua vez, acusa os Comunistas da Rússia de serem um projeto do Kremlin, com objetivo de enfraquecer os velhos comunistas.
Sejam candidatos tarimbados ou principiantes, defensores de Putin ou críticos a ele, todos os desafiantes do chefe do Kremlin têm uma coisa em comum: não têm a menor chance. Desse ponto de vista esta eleição, apesar do número de candidatos, não é diferente das tantas eleições passadas, das quais Putin saiu o vencedor.
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