Saída grega do euro teria custo elevado ao alemães
6 de janeiro de 2015Um incêndio incontrolável pode ser deflagrado, a zona do euro, ser erodida, a economia mundial, cair em profunda recessão. Só a Alemanha perderia mais de 130 bilhões de euros num prazo de oito anos. Tudo isso pode acontecer se a Grécia abandonar a União Monetária Europeia, segundo um estudo da Fundação Bertelsmann realizado em 2012.
Hoje, essa possibilidade não é mais um tabu, ao menos para a chanceler federal alemã, Angela Merkel. Como noticiou neste fim de semana (03-04/01) a revista Der Spiegel, ela e seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, consideram suportáveis as consequências de o país do sul da Europa, que tem 320 bilhões de euros de dívidas, abrir mão do euro.
Euro mais seguro
No que concerne o cenário de horror pintado pelos pesquisadores, Joachim Fritz-Vannahme, da Fundação Bertelsmann, explica que muita coisa mudou desde 2012. "A política e o Banco Central Europeu fizeram todo o possível para tornar mais altas e mais firmes as cercas de proteção em torno do euro. Mas, mesmo assim, não há como descartar inteiramente uma catástrofe."
Ou seja: é praticamente impossível prever como os mercados de capitais reagiriam a um colapso econômico da Grécia. A falência estatal, a mais provável causa ou consequência da saída do euro, não teria efeitos devastadores apenas para os gregos, fazendo-se notar também nas contas dos bancos alemães.
Juntos, Estado, empresas e cidadãos gregos devem mais de 23 bilhões de euros aos bancos alemães, mas a maior parte desse valor cabe ao banco estatal de investimentos KfW.
Preço alto para o contribuinte
Como a presença de capital privado alemão na Grécia vem minguando, os bancos do país não têm tanto a temer caso os gregos saiam da zona do euro, explica Vannahme.
"Já as consequências para o contribuinte alemão tendem a ser mais pesadas do que em 2012, pois as garantias estatais aumentaram sensivelmente. Então, a coisa pode ficar muito, muito cara para o contribuinte", opina.
No momento, o Estado alemão é fiador de créditos na Grécia no valor aproximado de 50 bilhões de euros. "Esse dinheiro, que está no meio do fogo, nós não vamos rever de jeito nenhum a curto prazo – na melhor das hipóteses, só a longo prazo", prevê Thomas Straubhaar, professor de Relações Econômicas Internacionais da Universidade de Hamburgo.
Quer permaneça na zona do euro, quer se retire, a Grécia não vai poder restituir suas dívidas. "Os custos para a Alemanha são gigantescos do mesmo jeito", complementa o professor.
Debate a evitar
Já o perigo de o incêndio se alastrar não é, nem de longe, tão grande quanto em 2012, quando também se especulava sobre uma saída do euro de Espanha, Portugal ou Itália, contemporizam os especialistas. Caso a Grécia dê realmente esse passo agora, o pesquisador Michael Schröder, do Centro de Pesquisa Econômica Europeia, afirma não esperar grandes abalos nos demais países europeus.
Vannahme, da Fundação Bertelsmann, por sua vez, não exclui completamente o efeito perigoso de uma saída da Grécia sobre outros membros mais fracos da União Monetária. Por isso, ele desaconselha que se reative o debate sobre a saída do euro.
"Senão vamos nos encontrar novamente diante dos mesmos argumentos que em 2012: 'Cuidado com o efeito dominó e a consequente ação recessiva sobre toda a economia mundial.'"