Saber é poder: a importância da educação no mundo
7 de maio de 2012A percepção de que saber é poder data de quatro séculos. O filósofo inglês Francis Bacon estabeleceu com esta e outras de suas teses o fundamento filosófico do Iluminismo. E sua tese não perdeu em nada desde então em termos de atualidade e importância: saber é poder.
E a educação é o pré-requisito elementar para o desenvolvimento político e econômico, para a democracia e para a igualdade social. Isso pode ser comprovado diariamente, e de maneira especialmente impressionante durante os movimentos árabes de protesto e reformas, desencadeados pela Revolução de Jasmim na Tunísia, há cerca de um ano e meio.
Primavera árabe: os derrotados se tornam vencedores
Os protestos no mundo árabe foram conduzidos pela parcela bem educada da população e pela classe média, sobretudo pelos mais jovens, com idades entre 20 e 35 anos, ainda estudantes ou com formação superior, que se sentiam enganados por seus governos.
Eles – médicos, engenheiros, jornalistas – lutaram, de Rabat a Riad, por maior liberdade, maior participação e pelo acesso livre ao mercado de trabalho. E principalmente por perspectivas reais. Trata-se de uma batalha longa, que precisa ser agora fortalecida por eleições e por instituições democráticas.
A educação dá poder e propicia maior participação – algo que os governantes árabes possivelmente subestimaram. Sem o fortalecimento dos sistemas de ensino fundamental, médio e superior nos países árabes, durante os últimos 20 anos, este movimento não teria acontecido.
O Relatório de Desenvolvimento Humano aponta que os países árabes deram início, há duas décadas, à ampliação sistemática do acesso à educação – com resultados visíveis.
O ex-presidente tunisiano Ben Ali também era um reformista em termos de educação. Com isso, um número crescente de pessoas passou a obter formação escolar, sem contudo, mais tarde, poder desfrutar dos seus efeitos, permanecendo sem emprego, sem perspectivas, sem participação. Pois no país tudo já estava, como sempre, dividido entre os mesmos clãs. De tal forma que o desemprego na Tunísia antes dos protestos chegava a 40%.
Ditadores como Ben Ali não teriam investido de maneira tão decidida em educação, caso tivessem tido, desde o começo, consciência dos efeitos emancipatórios desta medida.
Acesso à educação: direito humano elementar
A comunidade internacional já reconheceu que não há desenvolvimento sem educação e fez desta constatação uma exigência política. A segunda meta do milênio das Nações Unidas determina que todas as pessoas do mundo devem ter a possibilidade de obter uma educação básica.
Os avanços neste sentido existem, embora sejam lentos e regionalmente distintos. O percentual das crianças que frequentam uma escola subiu apenas 7 pontos percentuais entre 1999 e 2009, chegando a 89%.
Recentemente, o ritmo do progresso nesse sentido até mesmo diminuiu. Em diversas regiões da África e da Ásia, a meta não será alcançada até o ano de 2015. Nas regiões em desenvolvimento, apenas 87% das crianças concluem os primeiros quatro anos do ensino fundamental.
Em muitos países pobres, 40% das crianças deixa a escola antes da quarta série. As crianças do interior e as que vivem em regiões de crise têm menos chances no que diz respeito à educação. E as meninas são desfavorecidas em quase todo o mundo. Ou seja, ainda há muito a ser feito.
Desenvolvimento humano: impossível sem educação
Apesar disso, há aspectos positivos: os gigantes asiáticos, como a Índia e a China, provam que a educação traz claras vantagens econômicas. A Coreia do Sul, por exemplo, encontrava-se há 50 anos em um estado pior que o de muitos países africanos hoje. Investimentos em uma educação igualitária entre os gêneros, além de uma boa assistência à saúde e o acesso a métodos anticoncepcionais contribuíram para a redução da taxa de natalidade e para a prosperidade econômica do país.
O acelerado crescimento econômico da China pode ser explicado pela fome de saber no país: para quase todo chinês abaixo de 25 anos, a educação é um tema relevante, que determina a vida dos jovens. Mas a China é também um exemplo de que ainda há regimes que possibilitam uma melhor educação à população, sem contudo oferecer maior liberdade. Estes modelos só vão continuar funcionando enquanto forem apoiados por uma maioria.
Mais educação leva a maior participação
A longo prazo, nenhum regime não legitimado democraticamente irá resistir a uma maioria com boa formação escolar. Quando esta existe, aumentam as chances de mudanças democráticas, de maior participação e poder de determinação. Isso ocorre, por exemplo, em nações como a Rússia ou a China e nos países do mundo árabe – mesmo que ainda de forma incipiente.
Mais difícil é a situação em países como Zimbábue, Afeganistão e Coreia do Norte. Pelo menos enquanto a maioria da população continuar na pobreza, cercada pela propaganda estatal.
Pelo menos enquanto esta maioria continuar, por falta de formação escolar, sem parâmetros de comparação e sem acesso à informação independente, e em consequência disso sem possibilidades de criar redes e trocar informações. Enquanto tudo continuar assim, os ditadores e usurpadores poderão se sentir seguros.
Uma boa razão para lutar com determinação pelo direito fundamental à educação.
Autora: Ute Schaeffer (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer