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Salvos da extinção, pandas continuam ameaçados

Ruby Russell rk
26 de setembro de 2017

Pandas-gigantes foram tirados da lista de espécies sob risco de extinção em 2016. Mas um novo estudo mostra que habitat dos animais é menor que há 30 anos, e que sua população está cada vez mais fragmentada e isolada.

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Panda-gigante em floresta de bambu na China
Florestas de bambu são as principais responsáveis pela sobrevivência dos pandas- gigantesFoto: B. Li

A situação da espécie ameaçada mais querida do mundo parecia estar melhorando: a China investiu na proteção de seus preciosos pandas-gigantes, e em 2016 a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) melhorou o seu status de 'ameaçados' para 'vulneráveis'.

No entanto, um novo estudo internacional, publicado nesta segunda-feira (25/09) na revista Nature, alerta contra o comodismo causado por essa retirada dos pandas-gigantes da lista de espécies ameaçadas de extinção. Os resultados alertam que a perda de habitat, o turismo e os efeitos das mudanças climáticas representam uma pressão cada vez maior sobre os pandas.

Leia também: Como humanos, pandas escolhem parceiros

Uma equipe de cientistas usou tecnologia geoespacial e dados de detecção remota para mapear os efeitos humanos sobre as últimas florestas de bambu onde vivem esses mamíferos icônicos.

"O que meus colegas e eu queríamos saber era como o habitat do panda mudou nas últimas quatro décadas", afirma Stuart L. Pimm, um dos autores do estudo, "porque a extensão e a conectividade do habitat de uma espécie também é um fator de grande importância para determinar seu risco de extinção".

Cercados por estradas

Ao analisar imagens de satélite produzidas desde 1976 até hoje, os especialistas descobriram que o habitat do panda-gigante encolheu e se fragmentou durante os últimos 40 anos.

Pandas não correm mais risco de extinção

O grupo de pesquisa incluiu os estudiosos Jianguo Liu, da Universidade Estadual do Michigan (EUA), e Zhuyan Ouyang, da Academia Chinesa de Ciências, que estudaram a distribuição geográfica dos pandas desde 2001.

"As mudanças mais óbvias desde que o professor Liu e seu colega Zhiyun Ouyang visitaram a região habitada pelos pandas pela primeira vez, em 2001, foram o aumento e o incremento de autoestradas e de outras obras de infraestrutura [naquela área]", afirmou Pimm, professor de ecologia de conservação na Universidade de Duke, nos EUA, em comunicado de imprensa.

"Essas foram as principais causas da fragmentação do habitat. Em 2013, a densidade de estradas era cerca de três vezes maior do que em 1976", disse Pimm.

A pesquisa ainda constatou que a população restante de pandas-gigantes está dividida em 30 grupos isolados, 18 dos quais são compostos por menos de dez animais. Isso quer dizer que existe um alto risco para a extinção local dos pandas-gigantes.

Panorama complexo

O estudo também questiona os dados que levaram a IUCN a mudar o status dos pandas-gigantes para espécie 'vulnerável'. Os animais tinham sido listados como 'ameaçados de extinção' pela primeira vez em 1988.

Os dados que embasaram a decisão da organização internacional mostraram um aumento da população de pandas como um todo. O estudo publicado na Nature, no entanto, aponta que os métodos e territórios avaliados pela IUCN não foram consistentes.

Bebês pandas na base de pesquisas Chengdu, na China
Com tão poucos pandas vivendo em seu habitat natural, programas de conservação apostam na reprodução em cativeiroFoto: picture-alliance/dpa/S. Zhang

Os cientistas dizem que há um panorama complexo envolvendo a população de pandas-gigantes. Em geral, o habitat dos pandas diminuiu 5% entre 1976 e 2001. Por outro lado, áreas individuais de proteção dos animais ameaçados tiveram uma redução média de 24%.

O novo estudo constatou também que houve um pequeno aumento no território habitado pelos pandas desde 2001, após a proibição de desmatamento com fins comerciais e a criação de novas reservas naturais a partir de 1996 – o que causou impacto positivo na população dos animais.

Porém, esses pequenos ganhos não conseguiram compensar a perda de habitat dos pandas-gigantes registrado nas duas décadas anteriores.

Corredores de habitat

O aumento do turismo em áreas protegidas, mudanças na regulamentação de manejo florestal que resultam em desmatamento, bem como os efeitos das mudanças climáticas – que podem alterar a distribuição do bambu que os mamíferos usam como alimento – também ameaçam a sobrevivência dos pandas-gigantes, diz a pesquisa internacional.

Os cientistas dizem que a ação necessária mais urgente é estabelecer os chamados corredores de habitat para conectar populações vulneráveis e isoladas de pandas.

"A conservação é um processo dinâmico entre humanos e a natureza, numa constante queda de braço pela sobrevivência e pela prosperidade – então, é sempre preciso buscar novas soluções", afirma Liu.