Sanções europeias à Rússia afetam uma economia já em dificuldades
30 de julho de 2014Mesmo antes da atual crise na Ucrânia, a economia russa já não ia muito bem. Os dias em que o Produto Interno Bruto (PIB) do país crescia num ritmo mínimo de 5% ao ano passaram a fazer parte do passado depois da crise financeira mundial. Em 2013, a economia cresceu apenas 1,3%.
Especialmente depois da adesão à Organização Mundial do Comércio, em 2011, a Rússia vem se empenhando em modernizar sua economia, pois as empresas do país são pouco competitivas em muitas áreas. É grande a dependência do petróleo e do gás, que respondem por cerca de dois terços de todas as exportações.
A Rússia precisa urgentemente de investimentos estrangeiros ou acesso a outras fontes de financiamento. Justamente nesse ponto as sanções agora impostas pela União Europeia (UE) e pelos Estados Unidos representam uma barreira.
"É claro que empresas europeias também sofrem com isso", reconhece o economista-chefe do Deutsche Bank, Stefan Schneider. "No entanto, a médio e longo prazo, as consequências negativas serão mais sentidas na Rússia. A modernização deve ficar comprometida a longo prazo."
Baixo crescimento e investimentos congelados
O Deusche Bank prevê um crescimento de apenas 0,8% para a Rússia neste ano. O Fundo Monetário Internacional (FMI) é ainda mais pessimista, tendo, na semana passada, reduzido significativamente sua perspectiva para o país. Agora, o FMI prevê um magro crescimento de 0,2% para 2014.
A Rússia passará raspando por uma recessão, prevê o FMI, e isso somente se a crise na Ucrânia for solucionada paulatinamente – o que, até o momento, não parece que vai acontecer.
O cenário sombrio se reflete no mau clima de negócios. "Investidores russos quase congelaram suas decisões de investimento", diz o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard. "A fuga de capitais é grande."
De acordo com o Banco Central da Rússia, cerca de 75 bilhões de dólares saíram do país no primeiro semestre do ano, duas vezes mais do que no mesmo período do ano passado. Para desacelerar a fuga, o Banco Central russo elevou, na semana passada, sua taxa básica de juros em meio ponto percentual, chegando a 8%.
Os investimentos diretos estrangeiros também estão "quase congelados", segundo o FMI. Além disso, se o acesso dos bancos russos aos mercados financeiros da UE for restrito, as empresas russas enfrentarão sérios problemas. "O financiamento de projetos futuros de investimento ficará difícil", avalia Alexander Abramov, da Academia Russa de Economia.
Julgamento de 50 bilhões
Nesta semana, uma decisão judicial colocou ainda mais pressão sobre a economia russa. O Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia condenou a Rússia ao pagamento de 50 bilhões de dólares aos acionistas da extinta companhia de petróleo Yukos. A empresa foi desmantelada há dez anos por ordem do presidente Vladimir Putin. O tribunal considerou que isso ocorreu por "motivos políticos" e concedeu aos então acionistas do grupo o direito a uma compensação.
Os 50 bilhões de dólares correspondem a 2,5% do desempenho econômico anual da Rússia. Moscou tem até meados de janeiro de 2015 para pagar a indenização. Caso contrário, seus ativos estatais no exterior poderão ser confiscados. O governo da Rússia chamou a decisão de "falha", "unilateral" e "politicamente tendenciosa", anunciando que vai recorrer.
O processo ainda pode se arrastar por um longo tempo. Mas as consequências já estão surgindo. "A decisão do tribunal afeta a avaliação da estabilidade financeira da Rússia a longo prazo", ressalta Aleksei Pogorelov, do banco Crédit Suisse. "Com base nisso, as agências de avaliação de risco podem rever suas classificações para a Rússia."
Além disso, o processo em Haia chamou novamente a atenção para a insegurança jurídica de investimentos feitos na Rússia. O resultado é que o país se torna tão impopular entre os investidores quanto o Irã, a Argentina e o Zimbábue, segundo a revista britânica The Economist. Com isso, ações de empresas russas são negociadas a valores bem menores do que a média dos mercados emergentes. Para a revista, a desvalorização soma 1 trilhão de dólares.