Sarampo faz corpo "esquecer" como combater outras doenças
1 de novembro de 2019Contrair sarampo é ainda mais perigoso do que os médicos pensavam. Dois estudos publicados nesta quinta-feira (31/10) concluíram que o vírus contribui para que o sistema imunológico do ser humano "esqueça" como combater outras doenças.
A descoberta ajuda a explicar por que crianças costumam contrair outras doenças infecciosas após se curarem do sarampo, além de fazer um alerta para os perigos da crescente resistência à vacinação infantil em alguns países.
As duas pesquisas mostram pela primeira vez como o sarampo, uma das doenças mais contagiosas, redefine o sistema imunológico humano de volta para um estado imaturo como o de um bebê, com capacidade limitada de combater novas infecções.
Ambos estudos – um publicado na revista Science e outro, na Science Immunology – analisaram um grupo de pessoas não vacinadas na Holanda para descobrir os efeitos do sarampo para o sistema imunológico.
Em uma das pesquisas, os cientistas sequenciaram genes de 26 crianças, antes da infecção pelo vírus e cerca de 40 a 50 dias depois, e descobriram que anticorpos específicos que tinham sido criados contra outras doenças haviam desaparecido do sangue dos infectados.
O outro estudo descobriu que a infecção por sarampo destruiu entre 11% e 73% dos anticorpos protetores das crianças – que são proteínas do sangue que "recordam" batalhas anteriores contra diferentes vírus e ajudam o corpo a evitar infecções repetidas. Ou seja, as crianças ficaram vulneráveis a infecções às quais um dia já haviam sido imunes.
Segundo os pesquisadores, a conclusão tem implicações para a saúde pública em todo o mundo, uma vez que o declínio nas taxas de vacinação tem levado a surtos de sarampo – o que, por sua vez, pode permitir o ressurgimento de outras doenças perigosas, como difteria e tuberculose.
"Esta é uma demonstração direta em humanos do que chamamos de 'amnésia imunológica', em que o sistema imunológico esquece como responder a infecções enfrentadas anteriormente", explica Velislava Petrova, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que conduziu um dos estudos.
Por sua parte, Stephen Elledge, geneticista e pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos, que conduziu a segunda pesquisa, disse que seus resultados trazem "evidências realmente fortes de que o vírus do sarampo está realmente destruindo o sistema imunológico".
O sarampo causa tosse, feridas na pele e febre, e pode levar a complicações potencialmente fatais, incluindo pneumonia e uma inflamação no cérebro conhecida como encefalite. A doença pode ser prevenida com duas doses de uma vacina que é aplicada desde a década de 1960.
Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para um "aumento alarmante" de casos de sarampo entre pessoas não vacinadas em todas as regiões do mundo. Nos três primeiros meses do ano, o número de casos quadruplicou em relação ao mesmo período de 2018.
"O vírus [do sarampo] é muito mais prejudicial do que imaginávamos, o que significa que a vacina é muito mais valiosa", conclui o geneticista Elledge.
EK/ap/rtr/ots
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