"Sentir contornos", uma mostra de arte para cegos
21 de fevereiro de 2002Tocar os contornos, apalpar os relevos, sentir o calor de um material. A arte para o tato faz parte da mostra permanente da Sala de Exposições da Central de Fomento à Profissão em Halle, leste da Alemanha. A excepcional exposição é fruto do trabalho de uma ano da instituição, a única responsável pela profissionalização de cegos e portadores de deficiências visuais no país.
"Eu nem imagino o que seja arte abstrata, mas gosto muito de pinturas antigas e esculturas", afirma Michael Kortz, que desde criança tem catarata e hoje, aos 49 anos, é totalmente cego. Limitado pela sua deficiência visual, o serralheiro não entende muito de arte, mas reconhece a sua importância: "Quem não se interessa por arte tem uma parte vazia dentro de si".
Sentir contornos explora materiais, formas, cores e tamanhos. A exposição conta com uma planta em alto-relevo, que serve como base de orientação para os visitantes. Cada ambiente está representado com a forma de um animal, que corresponde ao desenho da maçaneta da porta de acesso ao local. O prédio principal da Sala de Exposições, por exemplo, aparece em forma de um grande peixe, que os cegos reconhecem ao tocar a maçaneta da porta de entrada com o respectivo desenho. Esta planta estilizada planta do prédio foi produzida pela artista Jorinde Jentsch.
A mostra também traz esculturas em formato grande. No total, 17 artistas produziram esculturas em bronze. Bruno Raetsch reproduziu um Rei sentado em bronze, um Pégaso em ferro e uma Atenas em madeira. Já Philipp Fritsche, apostou nas cores para estimular a percepção dos visitantes. Ele criou esculturas em aço pintadas em azul, vermelho, laranja e verde. Alguns deficientes visuais têm sensibilidade a tons luminosos e conseguem, portanto, visualizar as obras parcialmente.
O pintor alemão Moritz Götze, que possui obras expostas em renomadas galerias em Nova Iorque e Amsterdã, também abusou das cores no painel criado para a mostra. Freqüentemente, o artista contribui com a Central, expondo seus trabalhos
A percepção da arte pelos cegos
Segundo Michael Kortz, o segredo da arte para os cegos está na matéria-prima dos trabalhos. Pessoalmente, ele prefere as obras feitas de metal, pedra e plástico. No entanto, relembra que para a produção de quadros em alto-relevo, a madeira é mais indicada, pois "sempre transmite mais calor".
Para ele, as diferentes superfícies, variando entre macio, duro, grosso, fino, despertam fortes sentimentos. Dessa forma, Kortz considera as formas e materiais decisivos para que um cego defina se uma obra é "bonita ou artisticamente excitante".
Futuramente, os cegos poderão não só se valer do tato para conhecer a arte. Um estudante alemão tem um projeto para criar obras que possam ser percebidas pelo olfato. Se o projeto se concretizar, todos os sentidos humanos serão solicitados frente a uma obra artística.