'Suborno' para terroristas
8 de setembro de 2008Uma reportagem da revista Der Spiegel acusa o governo alemão de ter tentado usar dinheiro e a oferta de uma "ficha limpa" como moeda de troca para que terroristas da Fração do Exército Vermelho (RAF) abandonassem a luta armada.
De acordo com a revista, a descoberta de novos documentos indica que, no verão de 1980, o governo da Alemanha Ocidental teria emitido doze cartas para terroristas da RAF (grupo terrorista que atuou na Alemanha Ocidental a partir dos anos 70). As cartas teriam sido entregues a simpatizantes do grupo, para que fossem levadas a seus destinatários finais. Nenhum deles aceitou a proposta.
Segundo a Spiegel, as cartas teriam saído do Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV), mas eram apresentadas como tendo sido emitidas pelo serviço de inteligência americano CIA. À época, a República Federal da Alemanha era governada pelo chanceler social-democrata Helmut Schmidt.
Alemanha Oriental
Ainda de acordo com a reportagem, o governo Alemanha Ocidental da já tinha informações desde os anos 80 sobre terroristas da RAF que viviam em clandestinidade na vizinha República Democrática Alemã (RDA). O BND (serviço secreto alemão) teria obtido as informações através do palestino Chalid Jihad, uma de suas principais fontes entre 1979 e 1983. Jihad era integrante da Frente Popular para a Libertação da Palestina e atuava no campo de treinamento militar do grupo, onde terroristas da RAF foram treinados na época.
O fato de o governo alemão não ter reagido à revelação aborreceu os funcionários do BND. Especulava-se que as razões para tal eram o temor de um acirramento das relações com a Alemanha Oriental, o que poderia restringir ainda mais a mobilidade dos cidadãos do país.
Filme deve reacender debate
A atuação da RAF promete voltar ao centro dos debates na Alemanha no fim de setembro, quando será lançado o filme Der Baader-Meinhof-Komplex, de Bernd Eichinger e Uli Edel. Segundo um crítico da Spiegel, o filme retrata os atos da RAF de forma crua e realista, e deve deslocar o foco dos debates sobre o grupo – passando do diálogo sobre suas motivações para o reconhecimento da brutalidade de suas ações.
A RAF foi responsável por 34 mortes durante seu período de atuação, além de inúmeros assaltos a bancos e explosões. Após a queda do Muro de Berlim, dez terroristas do grupo foram localizados no território da antiga RDA, e vários deles foram julgados e condenados. O grupo se dissolveu em 1998.