"Será que éramos amigos mesmo?"
12 de dezembro de 2003Os universitários Chris (Antonio Wannek) e Yunes (Navid Akhavan), este nascido no Iêmen, estão na mesma faculdade e moram juntos numa república. Conheceram-se por acaso e logo fizeram amizade — apesar de pertencerem a culturas tão diversas. À noite os dois cozinham juntos e passam horas a fio sentados à mesa da cozinha filosofando sobre todos os assuntos possíveis.
Yunes dá a impressão de ser aberto e tolerante. Ele se entende bem com a namorada de Chris, Julia (Mina Tander), e logo arruma também uma namorada, a simpática Nora (Mavie Hörbiger), bonita colega de faculdade. Quando um dia Nora beija um outro rapaz, Yunes fica arrasado e some em seguida sem deixar vestígios. Chris tenta encontrá-lo, mas nem os pais sabem onde Yunes anda. O Círculo de Trabalho Islâmico que existia na universidade também tinha encerrado suas atividades. Quando acontecem os atentados de 11 de setembro, Chris fica com uma suspeita terrível.
Conjeturas e desilusões
"A idéia de fazer o filme Fremder Freund (Amigo estranho) me veio alguns dias depois dos atentados", revela Elmar Fischer, diretor e autor do roteiro. "Na época eu encontrei um amigo da Palestina. Conversamos sobre onde estávamos no dia 11 de setembro, quando ficamos sabendo dos ataques. O meu amigo me contou então que estava junto com alguns camaradas, e que eles todos tinham ficado muito contentes. Quando ouvi isto, fiquei chocado e cheguei à conclusão de que não conhecia o meu amigo tão bem quanto pensava. Pelo menos não sabia que ele era tão radical. E pensei em fazer um filme a este respeito."
No filme, Chris também se pergunta se ele de fato conhecia bem Yunes. "É um filme privado, íntimo, com um pano de fundo político. Não quero mostrar a aproximação entre duas culturas. O que me interessa mais é a amizade entre os dois protagonistas. Sua proximidade e cumplicidade de um lado, e a traição e desilusão de outro", continua Fischer.
O que aconteceu de fato?
Em flash-backs, Chris recapitula o tempo em que conviveram. Yunes tinha mudado. Depois de passar férias no Iêmen, ele se tornara um fundamentalista convicto, deixara a barba crescer, vivia orando e não comia mais nada que fosse "impuro". Mais estranho ainda tinha sido um estágio no Paquistão. Por que ele tinha voltado de lá com o corpo mais musculoso? E por que isto não tinha chamado sua atenção antes? O filme de Fischer não fornece respostas. "Fiquei fascinado com a idéia de como foi possível existir uma república em pleno Harburg, um bairro muito alemão, muito burguês de Hamburgo, onde o pessoal planejou coisas incríveis sem que os vizinhos tomassem conhecimento. As pessoas vivem tão ocupadas com os shows da televisão e outras coisinhas do tipo, que não percebem o que está acontecendo à sua volta. Isto continua sendo incrível, e é isso que o filme deve deixar claro", esclarece o cineasta.
Fischer trabalha conscientemente com cortes abruptos, flash-backs e uma estrutura temporal complexa em Fremder Freund. Sua intenção é deixar o espectador confuso, para refletir a insegurança de toda a sociedade após os atentados contra o World Trade Center. A narrativa não linear corresponde ao estado de espírito de Chris após o desaparecimento do amigo. Com todo o esforço ele vai juntando um mosaico de lembranças, em busca de pistas desconhecidas. Mas a última pedrinha, a "prova definitiva", fica faltando.
Estréia bem-sucedida
Elmar Fischer (35 anos), formado pela Escola Alemã de Jornalistas, trabalha desde 1992 como autor, diretor e produtor para as emissoras de televisão alemãs. Com Fremder Freund, estreou como diretor de longas, depois de ter rodado o curta-metragem Echelon em 2001. O filme conquistou inúmeros prêmios, o que confirma o cineasta em sua intenção de continuar no metiê: "Idéias e roteiros prontos é o que não me falta — tudo é apenas uma questão de financiamento."