Siemens cede a críticas e anuncia ajuda a funcionários da BenQ
2 de outubro de 2006A Siemens anunciou que apoiará os cerca de 3 mil funcionários de sua antiga divisão de celulares na Alemanha, a atual BenQ Mobile, ameaçada de fechamento pelos novos proprietários. A unidade teve sua falência decretada na semana passada pela empresa taiuanesa BenQ, que a adquiriu em 2005.
A multinacional alemã anunciou a criação de um fundo de 30 milhões de euros, que será utilizado para qualificação profissional e treinamento dos funcionários desempregados.
Um aumento de 30% nos vencimentos da diretoria, que já havia sido aprovado, foi adiado por um ano. Com isso, mais 5 milhões de euros deixarão de ir para o bolso dos diretores da empresa e irão para o fundo de ajuda aos ex-funcionários.
Duras críticas
A ajuda da Siemens veio após a empresa ter sido duramente criticada pela imprensa alemã e pressionada pelo governo federal. O tablóide Bild, o jornal de maior circulação na Alemanha, classificou a elevação nos ganhos do alto escalão como o "aumento salarial mais descarado do ano".
A chanceler federal Angela Merkel salientou no mesmo jornal a responsabilidade da Siemens e exigiu da empresa que oferecesse auxílio aos ex-funcionários. Merkel ligou ainda para o presidente da Siemens, Klaus Kleinfeld, para reafirmar a responsabilidade da empresa.
O governo da Baveira também se esforça para apoiar os funcionários da BenQ Mobile, segundo declarações do secretário estadual de Finanças, Erwin Huber. O governador da Baviera, Edmund Stoiber, se encontrou com Kleinfeld na segunda-feira (02/10), com objetivo de esgotar todas as possibilidades legais para evitar o fechamento da empresa.
Sindicato: ajuda insuficiente
O sindicato IG Metall fez duras críticas à ajuda anunciada pela Siemens, considerada insuficiente. Para o sindicalista Detlef Wetzel, "dez mil euros por cabeça não substituem uma vaga de trabalho". O chefe do IG Metall, Werner Neugebauer, afirmou que o auxílio é menos do que "uma gota d'água sobre uma pedra quente".
Neugebauer considerou o auxílio pouco mais que simbólico. "Tenho a impressão de que o objetivo principal é tirar a diretoria da linha de fogo", disse.
Kleinfeld negou a acusação de que o fechamento da divisão já estava previsto quando a unidade foi vendida aos taiuaneses. Segundo declarou ao Bild, trata-se de "insinuações mal-intencionadas". A BenQ se comprometeu com a Siemens a não fechar sua divisão alemã e até mesmo a fortalecê-la, assegurou Kleinfeld. Essa promessa teria sido quebrada.
Falência programada
Nesta segunda-feira, o jornal Süddeutsche Zeitung publicou que existem indícios de que a falência da divisão alemã foi planejada pela BenQ. Há cerca de duas semanas, negociadores de Taiwan teriam requisitado à Siemens que não fizesse pagamentos pendentes de cerca de 50 milhões de euros à sua antiga divisão alemã. Em vez disso, o dinheiro deveria ser remetido diretamente para Taiwan.
Segundo o diário, os negociadores apoiaram seu pedido na má situação financeira do conglomerado BenQ. A Siemens teria concordado em adiantar os pagamentos, mas se recusou a transferir o dinheiro para Taiwan. "Depois disso, a BenQ perdeu o interesse nesse dinheiro", afirmou uma fonte ao jornal.
O pedido de falência da unidade alemã de celulares foi feito na última sexta-feira (29/09) pela BenQ. Segundo o administrador da massa falida, Martin Prager, a produção nas fábricas alemãs em Bocholt e Kamp-Lintfort é sustentável apenas até o final do ano. Para ele, seriam necessários "profundos cortes" para tentar salvar a unidade.