Energia
13 de julho de 2009Nesta segunda-feira (13/07) foi dado em Munique o sinal verde para o desenvolvimento do projeto internacional Desertec, pioneiro no âmbito das energias renováveis. A proposta é gerar energia solar e eólica nas regiões desérticas do norte da África e transportá-la através de redes de alta tensão para a Europa.
Até 2050, a energia gerada pelo projeto poderá ser responsável por até 15% do consumo energético no continente europeu. O sonho da energia obtida do sol do deserto, no entanto, divide os ânimos, numa divergência entre especialistas que elogiam e aqueles que criticam o megaprojeto.
Altos custos
Entre as críticas estão as acusações de que a ideia não é de forma alguma realista e as de que só se trata de uma estratégia de marketing. Além disso, diz-se que a realização do projeto depende não somente da vontade política de implementá-lo, mas principalmente de ideias concretas a respeito de seu financiamento, de cerca de 400 bilhões de euros.
Entre as empresas envolvidas no Desertec estão grandes grupos como a Siemens, as empresas de fornecimento de energia RWE e E.ON, a seguradora Münchner Rück, a fornecedora de energia solar Schott Solar e o Deutsche Bank, além de representantes da Fundação Desertec, autora do projeto.
Previsão realista
Entre os defensores da ideia está Robert Pitz-Paal, professor de Tecnologia Solar e diretor de Pesquisa Solar no Instituto de Termodinâmica, que faz parte do Centro Alemão Aeroespacial, que também participou do desenvolvimento do Desertec.
"A realidade é que a oferta de energia solar no norte da África e no Oriente Médio é muito melhor do que entre nós, na Europa Central. Mesmo na Espanha o sol não brilha como no norte da África. Lá há também muitas regiões inutilizadas. E bastariam, em princípio, 2% ou 3% da superfície do deserto para suprir a demanda de energia da região e da Europa", diz Pitz-Pall.
Caso o projeto realmente vingue, os responsáveis acreditam que, até o ano de 2050, a Europa poderia realmente ter 15% de seu consumo energético suprido pela energia obtida nos desertos da África. Essa é uma previsão realista, garante Pitz-Pall. O importante é a cooperação entre os parceiros, afirma o especialista.
Vantagem mútua
Para Amal Haddouche, diretora do Centro de Incentivo às Energias Renováveis do Marrocos, o projeto é uma parceria na qual os dois lados devem tirar proveito. "Não podemos ser somente um país de trânsito. O Marrocos tem também grandes problemas de abastecimento; 95% do nosso consumo vem de nossos fornecedores. No que diz respeito à segurança de abastecimento, temos as mesmas preocupações que a Europa", diz Haddouche.
Dentro do Ministério marroquino de Energia, no entanto, há vozes que alertam para o perigo de que o país possa se deixar colonizar novamente: do ponto de vista energético e pelos grandes grupos empresariais alemães.
O ceticismo frente ao projeto Desertec vem também da França. Possivelmente porque Paris certamente preferiria fornecer ao Marrocos a tecnologia para usinas nucleares e não para energia solar.
Briga de lobbies
O presidente da Federação de Energia do Marrocos, Abdellah Alaouivê, também vê vantagens no uso de energia atômica, principalmente devido a seus baixos custos. "Contamos que, até 2020 ou 2025, teremos dois reatores nucleares. Especialistas marroquinos e estrangeiros estão examinando os melhores locais para posicioná-los. Mas também avaliamos se realmente precisamos da energia nuclear", diz Alaoui.
Da vizinha Espanha, a discussão é acompanhada com um olhar crítico. Lá a satisfação não seria grande caso o Marrocos passasse a dispor de usinas atômicas. Isso faz com que o tema seja visto com extrema sensibilidade, num contexto em que os lobbies energéticos disputam a cooperação do país. A corrida está aberta. E, na ex-colônia francesa, a antiga metrópole pode acabar levando vantagem.
SV/dw
Revisão: Alexandre Schossler