1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Risco de apagão

Angela Göpfert (ca)7 de novembro de 2006

Um blecaute em vários países europeus pode voltar a acontecer a qualquer momento: com o aumento do comércio energético, as redes estão sobrecarregadas. Itália sugere criação de um órgão europeu de controle.

https://p.dw.com/p/9Lzq
Pane no final de semana passado afetou pelo menos dez milhões de domicílios europeusFoto: picture-alliance / dpa

Após os blecautes no nordeste norte-americano, que deixaram mais de 50 milhões de pessoas sem energia durante vários dias em 2003, foi grande a malícia européia em piadas nas quais os Estados Unidos eram apresentados como "país de Terceiro Mundo".

Comparadas com outros comentários, observações do tipo "se os eletricistas daqui montassem cabos elétricos como os colegas norte-americanos o fazem, eles deveriam entregar sua carteira de trabalho" podiam até ser consideradas simpáticas.

Efeito dominó

BdT Norwegian Pearl fährt über die ems zur Nordsee
Tudo por causa do navio 'Norwegian Pearl'?Foto: AP

"Agora temos que cuidar do próprio nariz", comenta Hermann-Josef Wagner, diretor do Instituto de Tecnologia Energética da Universidade de Bochum. Para Wagner, algo de positivo pôde ser tirado do apagão do último sábado (04/11): iniciou-se uma discussão, de fato, entre políticos e especialistas europeus sobre por que, em quase dez milhões de domicílios da Europa Ocidental, o jantar foi servido à luz de velas.

Segundo especialistas, um efeito dominó foi gerado no último sábado após a empresa de energia E.On desligar um cabo de alta tensão para a passagem do cruzeiro Norwegian Pearl em Emsland, na Alemanha.

"Quando um cabo é retirado da rede ou a rede está sobrecarregada, a mesma quantidade de energia procura, através de um número menor de linhas, o seu caminho na rede européia. Com isso, aumenta a probabilidade de que outros cabos falhem, até que se chegue ao completo blecaute", explica Gert Brunekreeft, diretor do Instituto de Energia de Bremen.

Rede energética alemã está "totalmente defasada"

Prof. Dr. Gert Brunekreeft
Professor Gert Brunekreeft do Instituto de Energia de BremenFoto: presse

Não foi coincidência que o blecaute por toda a Europa teve sua origem na Alemanha, pois a rede energética alemã é considerada como especialmente sensível a acidentes. "Aqui são fornecidas, de forma incontrolada, quantidades imensas de energia eólica às redes", salienta Brunekreeft. Além disso, devido à liberalização do mercado energético, houve um aumento notável do comércio energético para além das fronteiras do país.

E mais uma vez a Alemanha é, como também na circulação de caminhões, um país de passagem. A Polônia, por exemplo, fornece grande quantidade de energia para a Itália através da Alemanha.

Wagner afirma que, por ser "completamente defasada", a rede energética alemã não estaria preparada para essa exigência de aumento de capacidade. Existiria uma enorme necessidade de investimentos, avaliados pelo professor de Economia e Sistemas Energéticos de Bochum entre 10 e 15 bilhões de euros para os próximos 20 anos.

Críticas ao "aluno exemplar" Alemanha

Isso que a Alemanha é considerada como "exemplo de nação" quanto à segurança de redes energéticas. Ainda em fevereiro de 2006, a associação das operadoras de redes energéticas alemãs informou que as redes locais seriam as mais seguras da Europa. Enquanto na Alemanha há, em média, por ano e por consumidor, somente 23 minutos de falta de energia, na França, no Reino Unido e na Itália as panes anuais somam cerca de uma hora e chegam a quase quatro horas nos Estados Unidos.

Mas, devido às conseqüências supranacionais de uma rede energética sobrecarregada, tal diferenciação detalhada entre os diversos países seria perda de tempo. Brunekreeft adverte: "Uma pane energética como o do final de semana poderia acontecer de novo a qualquer momento".

Uma "Europa da energia" como solução?

Energie Preise Strommasten
As operadoras investem pouco em suas redes?Foto: AP

Justamente isso é o que o primeiro-ministro italiano e ex-presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, quer evitar com a ajuda de uma agência européia de redes energéticas. Enquanto o ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, se posicionou contra a proposta, o primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, também quer criar uma "Europa da energia".

Entretanto, a sugestão de Prodi pode vir a ser um gol contra para a Itália. Um órgão regularizador europeu pode se tornar um incômodo tanto para a defasada rede energética alemã como também para o deficitário número de usinas elétricas italianas.

"Faltam aos italianos o equivalente a cinco usinas elétricas", sublinha Wagner. O especialista em energia defende que o órgão regularizador europeu disponha de ampla autoridade, afirmando que "se ele pudesse exigir que a Itália aumentasse seu número de usinas, seria uma bênção necessária".