Socialistas da França diante de grande responsabilidade
18 de junho de 2012François Hollande, recentemente eleito presidente francês, certamente respirou aliviado na noite do domingo (17/06). O homem que deve seu cargo ao fato de não ser Nicolas Sarkozy, conta com maioria absoluta na Assembleia Nacional e, assim, dispõe de mais poder do qualquer um de seus colegas europeus.
Nada conseguiu frear a vitória dos socialistas nas urnas. Nem o desgosto eleitoral dos franceses, que após uma campanha eleitoral insossa se abstiveram em peso do quarto turno em dois meses – com apenas 56% de participação –, nem a constrangedora briguinha das últimas semanas pelo Twitter entre a atual companheira de Hollande, Valérie Trierweiler, e sua ex-mulher Ségolène Royal.
Dez anos depois: conservadores na oposição
Para seu mandato de cinco anos, Hollande dispõe da "ampla maioria pelo presidente", como desejava. Com 300 assentos na Assembleia Nacional, os socialistas mandaram para o banco da oposição o UMP, partido do ex-presidente Nicolas Sarkozy, ocupando apenas 207 cadeiras.
E o perigo da extrema direita que pairava sobre o país também foi banido. A temida Frente Nacional, que no primeiro turno das eleições presidenciais alcançara inéditos 18% dos votos, capitulou diante do sistema eleitoral francês, que dificulta o acesso á Assembleia Nacional a partidos pequenos sem parceiros de peso.
Mesmo assim, a Frente Nacional celebra um pequeno triunfo: pela primeira vez desde 1987, o partido tem dois deputados no Parlamento: a sobrinha de Marine Le Pen, Marion – com apenas 22 anos de idade, a deputada mais jovem da Assembleia Nacional – e o popular advogado Gilbert Collard.
Responsabilidade de Hollande
O Partido Socialista detém, assim, não apenas o cargo presidencial – que é quase monárquico, na França – e a câmara baixa do legislativo, mas também a maioria no Senado, nos governos regionais, cantões e principais municipalidades do país. Porém este sucesso – um recorde desde a vitória de François Mitterrand, em 1981 – também obriga os socialista a agirem.
Os franceses querem agora ações de verdade, acentua Renault Dély, editor-chefe da revista Nouvel Observateur. "Esta série de derrotas eleitorais dos conservadores deu poder aos socialistas. Para a esquerda, trata-se de uma estreia". Para o governo e o presidente, isso significa também uma responsabilidade ainda maior de reformar o país. "Se Hollande não conseguir isso, ele não terá desculpa dentro de cinco anos, ao fim de seu mandato", observa Dély
O programa de reforma equivale a uma revisão geral do Estado. A França luta contra a redução do PIB, uma indústria enfermiça, a altíssima taxa de desemprego de 10% e o endividamento excessivo. O presidente tem que realizar um verdadeiro número de malabarismo, entre cumprir as custosas promessas da campanha eleitoral e a, apesar disso, apresentar um orçamento equilibrado em 2017.
Mais difícil para Merkel
Hollande vai poder impor os duros cortes que essa tarefa exige, sem ter que fazer concessões aos verdes ou aos radicais de esquerda. Uma plenitude de poder que já causa preocupação: "Onde estarão os contrapesos nas próximas semanas e anos? Onde está a oposição?", pergunta o ensaísta Eric Brunet. Segundo ele, a questão de quem exercerá a função de contrapeso é extremamente séria, pois "não serão os sindicatos, e tampouco a imprensa".
O primeiro ponto do plano de reformas do chefe de Estado o levará a Bruxelas e Berlim. Hollande, que na última semana fundou o assim chamado "Eixo de Crescimento Paris-Roma" junto com o premiê italiano, Mario Monti, se imporá com novo elã como porta-voz dos países do sul da Europa, em meio à crise do euro.
E Angela Merkel pode se preparar para enfrentar uma maior resistência à política alemã de austeridade por parte de seu mais importante parceiro dentro da UE. Hollande defende mais do que nunca um programa de incentivo ao crescimento. Segundo um jornal, ele quer investir 120 bilhões de euros para reaquecer a conjuntura europeia.
O presidente francês aposta nos investimentos em "redes inteligentes", energias renováveis, nano e biotecnologia. Hollande defende também um imposto sobre transações financeiras. Segundo ele, o plano deverá ser implementado com recursos até agora não utilizados do fundo de ajuda da UE e através de aumento de capital do Banco Europeu de Investimentos.
Para o comentarista François Lenglet para tal, o presidente francês vai precisar de paciência: "Nicolas Sarkozy era o representante de Merkel. Hollande, pelo contrário, fala em nome dos países do sul, ou seja, daqueles com problemas econômicos e financeiros. Agora, ele inicia uma medição de forças com Angela Merkel e alguns dos argumentos lhe dão razão. Os alemães nos dizem agora: OK, temos uma união política, mas prestem todos atenção em seus orçamentos e teremos mecanismos multilaterais de controle. Tudo isso faz parte da série de questões importantes que Hollande deverá responder nas próximas semanas", conclui Lenglet.
Autora: Carolin Lohrenz (sv)
Revisão: Augusto Valente