SPD vive crise de identidade pós-Schröder
12 de outubro de 2005"Eu definitivamente não farei parte do novo governo". O chanceler federal Gerhard Schröder colocou nesta quarta-feira (12/10) um fim definitivo às especulações sobre seu futuro político. "Usarei todas as minhas forças para ajudar. E isso não é bravata", afirmou, em uma reunião com líderes sindicais, em Hannover.
Com a saída de Schröder, o Partido Social Democrata (SPD) entra em uma nova fase: o grupo político agora tenta repaginar sua imagem e mostrar que ser liberal (mas não neoliberal) significa também ser jovem, olhar adiante.
Por isso, a legenda tem planos de colocar "caras novas" à frente dos oito ministérios que conquistou – e investirá especialmente na escolha do novo ministro de Relações Exteriores (que também acumula o cargo de vice-chanceler). Acertar neste cargo é essencial, na avaliação do partido. Isso porque a história mostra que a pasta é geralmente chave para uma alta popularidade.
A busca por novidades
O ocupante natural da Vice-Chancelaria seria Franz Müntefering, líder da bancada do SPD no Parlamento alemão. Entretanto, a legenda está tentando ousar na escolha e pretende encontrar um político mais jovem para o cargo – o ideal seria alguém com idade entre 40 e 60 anos.
A escolha visará o sucesso nas próximas eleições, programadas, pelo menos por enquanto, para 2009. Müntefering, embora tenha sido importante para a formação da grande coalizão – e a conquista de ministérios importantes na negociação com a aliança democrata-cristã (CDU/CSU) –, terá 69 anos daqui a quatro anos.
Outros nomes centrais do grupo social-democrata, como o atual ministro do Interior, Otto Schily, também já passaram do tempo de "se vender" como novidade (Schily tem 73 anos; o ministro da Defesa, Peter Struck, tem 62, mas sofreu um derrame e sua saúde é objeto de preocupação no SPD).
Em Berlim, a melhor opção
Por isso, o consenso é que, na medida do possível, as vagas têm de ser cedidas para "caras novas". Dentro do partido, o preferido para assumir a vice-chancelaria é Matthias Platzeck, 51 anos, que nasceu na então Alemanha Oriental e é governador do Estado de Brandemburgo.
Além disso, ele foi um dos poucos governadores do SPD que sobreviveram à série de derrotas regionais do partido e que resultaram na convocação da eleição antecipada pelo chanceler Gerhard Schröder, em maio deste ano.
Entretanto, Platzeck parece ter outras prioridades, uma vez que já recusou mais de uma vez o convite para ser o novo ministro das Relações Exteriores, pasta vista como a posição número dois no governo alemão.
Apesar da falta de ressonância nacional de Platzeck, a bancada social-democrata acredita que ele é uma boa opção para o cargo: além de ter formado um governo consistente em seu Estado, ele é apreciado pela real preocupação que demonstra em relação à difícil situação econômica do Leste alemão.
"Temos que nos posicionar para as eleições de 2009", afirmou o líder da ala de esquerda do SPD no Parlamento, Michael Müller, refletindo as preocupações da legenda com a idade de seus líderes.
Deserto de juventude
Entre os nomes que podem crescer dentro do partido nos próximos quatro anos estão Sigmar Gabriel (46 anos, ex-governador da Baixa Saxônia); Andrea Nahles (35, representante parlamentar e uma das "filhas" da ala de esquerda da legenda, embora pouco conhecida fora dela); e Klaus Wowereit (52 anos, prefeito de Berlim em aliança com o Partido de Esquerda).
O deserto de jovens políticos no SPD é visto como resultado da fidelidade de Gerhard Schröder a seus tradicionais aliados políticos – prova disso é que o gabinete do atual chanceler foi um dos que menos mudaram em comparação com todos os governos do país desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
A estratégia de estabilidade, porém, deixou uma herança problemática: atualmente, todos os principais líderes do grupo social-democrata estão em idade de aposentadoria, enquanto a cristã-democrata Angela Merkel – que tem a vantagem de ter o poder nas mãos – terá 55 anos na época da próxima eleição.