UE-Rússia
21 de dezembro de 2006O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank Walter Steinmeier, criticou a situação dos direitos humanos na Rússia e pediu a apuração dos assassinatos de adversários do Kremlin antes de se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin na tarde desta quinta-feira (21/12) em Moscou.
Steinmeier não revelou detalhes da conversa com Putin, mas disse que a Rússia conhece a posição do governo alemão. "Críticas à situação interna significam também que a Europa se vê como parceira da modernização da Rússia", afirmou o ministro.
Ele acrescentou que o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya e do ex-agente do serviço secreto russo (KGB) Alexander Litvinenko "podem arranhar profundamente a imagem da Rússia no Ocidente. Por isso, a Rússia deve ter interesse num esclarecimento rápido dos dois casos".
Politkovskaya foi assassinada em outubro passado. Litvinenko morreu em novembro, em decorrência de envenenamento com a substância radioativa polônio 210. Ambos eram críticos do governo russo.
Acordo UE-Rússia
Na quarta-feira à noite, Steinmeier apresentou a representantes russos os planos da presidência alemã da União Européia e do grupo dos oito países mais industrializados do globo (G-8) para o primeiro semestre de 2007. Ele também convidou o presidente russo para participar da conferência internacional sobre segurança em fevereiro do próximo ano em Munique.
Steinmeier deixou claro que, apesar das dúvidas quanto à situação interna russa, o governo alemão continua apostando numa estreita parceria de Moscou com a Europa. A meta é negociar um novo acordo de cooperação UE-Rússia, o que atualmente é bloqueado pela Polônia.
Ele lamentou que, devido a divergências entre Moscou e Varsóvia, a Rússia continue fazendo restrições à importação de carne européia. O novo acordo UE-Rússia deve dar continuidade à parceria iniciada em 1997, com o objetivo de "ancorar" a Rússia na Europa e servir de base também para a cooperação na área de energia.
Intromissão em assuntos internos?
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, advertiu contra "ingerências externas na questão dos direitos humanos". Ele acusou a mídia ocidental de usar os casos dos assassinatos para dificultar as negociações entre a Rússia e a UE.
"Para a solução de vários conflitos internacionais, não podemos prescindir da Rússia", disse Steinmeier. Ele citou as negociações para definir o futuro status do Kosovo, o conflito nuclear com o Irã e a crise no Oriente Médio. Houve consenso entre Stenmeier e Lavrov de que o chamado quarteto do Oriente Médio, formado pela UE, ONU, Estados Unidos e Rússia, deve se reunir o quanto antes.
O ministro alemão reiterou, porém, que as questões da democracia e dos direitos humanos continuarão em pauta no diálogo com Moscou. Steinmeier encontrou-se também com representantes da oposição e da sociedade civil na capital russa. Organizações não-governamentais e oposicionistas denunciaram que sua atuação está sendo extremamente dificultada por órgãos estatais.
Encontro a portas fechadas
No caso Litvinenko, Lavrov disse que alguns países ocidentais tentam incriminar a Rússia, usando categorias da guerra fria. "Os rastros do polônio espalharam-se por toda a Europa. Por isso, todos os países têm interesse na apuração", afirmou.
O encontro com o presidente russo foi o principal compromisso na agenda de Steinmeier em Moscou. Mas como a imprensa teve de ficar do lado de fora, não se sabe exatamente o que foi conversado nem se o ministro alemão ainda pôde tirar proveito da estreita amizade entre Putin e o ex-chanceler federal alemão Gerhard Schröder, do qual Steinmeier foi chefe de gabinete.
Na opinião de analistas alemães, Steinmeier tem um discurso mais distanciado de Putin do que teve a seu tempo Schröder. "Ele abordou diretamente alguns assuntos incômodos para o Kremlin, mas não deixou dúvidas sobre a importância das boas relações com Moscou – por diversos motivos", resumiu o jornal Süddeutsche Zeitung.