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Steinmeier nos EUA

Nick Amies (rr)11 de abril de 2008

Em viagem aos EUA, ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, debaterá temas como Bálcãs, Rússia e China e sondará a política externa dos candidatos à presidência. Especialista comenta a visita.

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Visita prevê encontro com representantes dos três candidatos à presidência dos EUAFoto: APTN

Entre os diversos temas a serem debatidos durante a visita do ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, a Washington, estão o conflito no Oriente Médio, o programa nuclear do Irã e a situação nos Bálcãs. Além disso, a delegação alemã pretende obter durante a viagem informações de primeira mão acerca dos futuros planos dos candidatos à presidência dos Estados Unidos no tocante à politica externa.

DW-WORLD.DE falou sobre a visita com Julianne Smith, diretora do Programa Europeu do Centro para Estratégia e Estudos Internacionais, um órgão especializado em relações bilaterais sediado em Washington.

Steinmeier viajou nesta sexta-feira (11/04) para os Estados Unidos, onde permanecerá até domingo.

DW-WORLD.DE: A visita de Steinmeier consiste, em parte, numa missão esclarecedora sobre a futura política externa dos candidatos à presidência dos EUA. Considerando a postura alemã diante de temas como Oriente Médio – incluindo as relações com o Irã –, Afeganistão, Rússia e o papel da União Européia no cenário internacional, que candidato tende a ser mais compatível com a Alemanha?

Julianne Smith: Todos os candidatos à presidência americana possuem pontos em comum com a Europa e a Alemanha. Os três querem fechar Guantánamo, os três querem fechar o cerco contra a tortura e voltar atrás com muitas das decisões políticas tomadas durante a administração de Bush e que acabaram afastando muitos dos aliados de Washington, e os três querem lançar iniciativas contra a mudança climática.

John McCain gewann die republikanische Präsidenten-Nominierung
John McCain pode representar problema para EuropaFoto: AP

No entanto, John McCain pode ser um potencial problema. Ele é um crítico mordaz da Rússia e é provável que imponha uma postura pungente nas relações bilaterias. Ele se pronunciou a respeito da expulsão da Rússia do G8, ridicularizou Putin e possui o mesmo desdém com relação a Medvedev. É provável que McCain desafie a postura alemã perante a Rússia, especialmente no que diz respeito à segurança energética. Clinton e Obama também seriam mais rígidos com a Rússia, mas não de forma tão severa quanto McCain. Nenhum dos dois pensaria em expulsar a Rússia do G8.

Também poderia haver um conflito na questão do Iraque. McCain é um defensor da guerra e acredita que a ampliação das tropas foi um sucesso, embora admita que tenha havido falhas administrativas. Se levarmos em conta a posição alemã em relação à guerra, este poderia ser um ponto de atrito.

Hillary Clinton gegen Barak Obama
Hillary e Obama: democratas mais próximos da UEFoto: AP

Clinton e especificamente Obama se aproximariam da Europa sem essa bagagem. Obama diria: "Veja, eu nunca fui a favor, nunca apoiei a guerra, mas herdei tudo isso". Clinton é um pouco menos explícita quanto a isso, como demonstraram certas aparições do começo de sua campanha, quando foi criticada por sua indefinição a respeito da guerra. Mas ambos pretendem manter um diálogo com a Europa sobre o Iraque e buscar soluções conjuntas.

Quanto ao Irã, a diferença também é grande. McCain é a favor da opção militar e está absolutamente certo de que não deveria haver conciliação ou recompensa por um compromisso por parte do Irã, enquanto os dois democratas disseram que a opção militar ainda está em debate, mas que são a favor do diálogo, especialmente Obama. Hillary é mais hesitante quanto a isso. Seja como for, ambos defendem a postura alemã de buscar o diálogo com o Irã.

Em contrapartida, os três cobrariam da Europa que aumente as sanções econômicas e utilizem seu poder, assim como a Alemanha o fez ao suspender operações bancárias em Teerã.

Steinmeier também se encontrará com a secretária de Estado Condoleezza Rice. Diante dos conflitos surgidos na mais recente cúpula da Otan em Bucareste com respeito à Rússia, aos Bálcãs e à potencial admissão de ex-repúblicas soviéticas [Ucrânia, Geórgia], o que a Alemanha pode esperar quanto à solução das questões que hoje dividem Washington e Berlim?

É muito provável que este encontro seja usado antes para reiterar as posições defendidas em Bucareste do que para tentar encontrar uma solução. Rice provavelmente tentará doutrinar a Alemanha quanto à questão da Ucrânia e da Geórgia, reiterando o desejo de Bush de que esses dois países sejam incorporados à Otan, o que poderia provocar um atrito. Há rumores de que a maneira como Bush pressionou os europeus, mesmo após estes terem deixado claro que a questão estava decidida, deixou muitos irritados. Diz-se que especialmente [a chanceler federal alemã] Merkel ficou muito aborrecida com isso. Então creio que Steinmeier aproveitará a oportunidade para reiterar a posição da Alemanha e da União Européia de forma decisiva.

USA-Reise Frank-Walter Steinmeier trifft Condoleeza Rice in Washington
Steinmeier e Condoleezza Rice: posições reiteradasFoto: AP

Os Bálcãs também estarão entre os temas abordados. Os Estados Unidos estão muito interessados em saber como funcionará a missão da União Européia no Kosovo e quais serão os detalhes desta missão. Também será discutido o escudo antimísseis dos EUA no Leste Europeu. É mais provável que a agenda inclua temas geopoliticamente mais próximos da Europa que dos EUA.

Também é provável que Steinmeier pressione Rice para obter informações sobre o andamento do processo de paz entre Israel e Palestina. Os EUA estão enviando pessoas à região já há vários meses após anunciarem planos e reivindicações um tanto ambiciosos. Steinmeier vai querer saber o que está acontecendo. Os alemães, e Steinmeier pessoalmente, estão muito interessados na solução do conflito.

Será que Rice aproveitará a oportunidade para aumentar a pressão sobre a Alemanha a respeito de seu envolvimento no Afeganistão?

Rice provavelmente deixará a questão das tropas para o secretário de Defesa, Robert Gates. Ela estará mais interessada em descobrir o que a Alemanha está planejando em virtude do encontro organizado pela França para discutir a ajuda civil e as missões no Afeganistão. Ela vai querer saber o que a Alemanha tem para oferecer e se há alguma possibilidade de ações conjuntas com os EUA.

Se a China fizer parte da agenda, qual a probabilidade de que os EUA e a Alemanha cheguem a um acordo, dada a posição mais aberta de Berlim com relação a Pequim?

Symbolbild China Wirtschaft
UE aumenta crítica com relação à ChinaFoto: DW-Montage

Embora não conste oficialmente da agenda de Rice, com a situação no Tibete e o atual debate sobre os Jogos Olímpicos pode ser que a China seja um dos tópicos discutidos. As duas nações mantêm diferentes posturas e relações bilaterais com o país e é improvável que venham a tematizá-las neste curto encontro. Os Estados Unidos têm interesses geopolíticos diferentes na China, mantendo laços fortes com Taiwan e tropas estacionadas na região, enquanto os europeus são mais focados no comércio.

Também existe a idéia de que os europeus sejam muito mais suaves ao lidar com a China do que os norte-americanos. Nos últimos anos, muita coisa realmente mudou. O déficit comercial e outras questões econômicas fizeram com que a Europa se tornasse um pouco mais tensa nas suas relações com a China, por mais que a União Européia tenha assumido recentemente uma postura mais firme. Mesmo assim, a Europa e os Estados Unidos mantêm um curso individual com relação à China e nem mesmo os laços comerciais da Alemanha serão suficientemente interessantes para que este se torne um tema a ser debatido no encontro.