Steinmeier: teste do outro lado do oceano
29 de novembro de 2005O ministro das Relações Exteriores da Alemanha passa, nos Estados Unidos, por uma difícil prova: talvez nenhuma tarefa seja tão complicada como lidar com Washington. O debut de Steinmeier em solo norte-americano aconteceu na segunda-feira (28/11), quando encontrou o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan.
No encontro, assegurou que a Alemanha permanecerá um parceiro engajado e fiel da ONU e que o país dará continuidade à sua política externa. "Nos baseamos em princípios multilaterais para depois agirmos", comentou. Pertence à continuidade referida por Steinmeier o pleito por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança.
Influências do passado
Durante os sete anos em que o antecessor de Frank-Walter Steinmeier, Joschker Fischer, esteve frente ao cargo, as relações entre alemães e norte-americanos teve altos e baixos, devido, principalmente, à posição do chanceler Gerhard Schröder em não participar da invasão do Iraque.
Enquanto Schröder ficava do outro lado do Atlântico, era Fischer quem se encarregava de discutir com o Departamento de Estado e a Casa Branca. Hoje, tarefa de Steinmeier.
Seguindo este raciocício e na condição de braço direito do ex-chanceler, o novo ministro é fiel defensor da posição de Schröder em relação aos Estados Unidos. O que poderá ser mal interpretado por opositores em Washington.
Iraque ainda é tema
Mesmo depois da troca de poder nas duas nações, como aconteceu com Colin Powell, que foi substituído por Rice, o principal assunto ainda é um velho conhecido: o Iraque.
Apesar da divergência de opiniões, Steinmeier anunciou que se esforçará em melhorar as relações com os Estados Unidos. "Não fazer nada não é um bom conselho", comenta sobre o que é um dos principais pilares da política externa alemã: manter bom contato com os norte-americanos.
Isso não significará a mudança de posicionamento frente à questão envolvendo o Iraque. Para Steinmeier, solucionar problemas antigos poderá ser tão desafiador quanto evitar novas situações complicadas para o país.
Leia a seguir: vôos secretos e meio ambiente
Diplomacia com o Irã
A questão da "ambição nuclear" do Irã pode provocar diferença de opiniões. Condoleezza está cética quanto aos esforços europeus em resolver a crise de forma diplomática. Ela recentemente reiterou a disposição de levar Teerã ao Conselho de Segurança da ONU.
A Alemanha, entretanto, tenta encaminhar o tema com cautela e paciência, juntamente com a França e o Reino Unido. Apesar de buscar apoio norte-americano, para a Casa Branca não há mais tempo. É preciso que haja sanções mais cedo do que tarde.
Na lista de espera: vôos secretos da CIA
O novo ministro das Relações Exteriores revelou antes de iniciar sua viagem aos Estados Unidos que tinha a intenção de colocar em pauta temas ligados ao clima, assunto que poderá causar algum desconforto no futuro.
Outro tema tabu que Steinmeier disse comentar durante as reuniões em Washington são as denúncias de que aviões do serviço secreto norte-americano utilizaram o espaço aéreo europeu para transportar suspeitos de terrorismo até prisões da CIA em países do Leste Europeu.
Reação da União Européia
O comissário de Justiça da União Européia afirmou que, caso sejam verdadeiras as informações, o país (integrante da UE) que tenha abrigado uma das prisões clandestinas poderá ter o direito de voto suspenso. Situação complicada também para a Romênia, que tenta ingressar no bloco.
"A suspensão dos direitos de voto seria justificada se for descoberto que um país tenha desrespeitado os princípios de direitos humanos, democracia e a lei, fundamentais para a UE", explicou Franco Frattini.
Confirmação que poderá ser dada durante a visita de Steinmeier, já que os Estados Unidos se recusaram a confirmar ou negar o "boato".