Steinmeier visita Brasil, Argentina e Chile
27 de abril de 2006O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, fará uma viagem de seis dias na próxima semana (30/04 a 05/05) à América Latina. Ele manterá conversações políticas com os governos dos principais parceiros da Alemanha na região – Brasil, Argentina e Chile – e vai preparar a cúpula União Européia-América Latina e Caribe, que acontece de 11 a 13 de maio em Viena.
No Chile (1º e 2/5), terá encontros com a presidente Michelle Bachelet e o ministro das Relações Exteriores Alejandro Foxley. Também visitará um memorial às vítimas da ditadura Pinochet (1973-1990), período em que Bachelet viveu alguns anos exilada na ex-Alemanha Oriental.
Na Argentina, reúne-se no dia 5 com seu colega de pasta Jorge Taiana e o presidente Néstor Kirchner. A agenda em Buenos Aires inclui ainda um encontro com a comunidade judaica e uma visita à fábrica da Volkswagen.
Em Brasília, conversa nos dias 4 e 5 com Lula e Celso Amorim. Em função das relações tradicionalmente boas, a viagem aos três países é considerada "uma visita a amigos", disse o porta-voz de Steinmeier, Martin Jäger. Mas o ministro fará publicidade para a Alemanha não só em função da Copa do Mundo, que tem como lema "o mundo entre amigos".
Novos investimentos no Brasil?
Steinmeier será acompanhado por 15 empresários dos setores de tecnologia, energia e meio ambiente. Embora os investimentos em cerca de 1,2 mil empresas alemãs que operam no Brasil tenham sido da ordem de 21,7 bilhões de dólares em 2005, o governo brasileiro espera mais engajamento do capital alemão.
Em Brasília, tenta-se atrair firmas alemãs para a construção de dez hidrelétricas no valor de US$ 9,4 bilhões e a modernização de 3080 quilômetros de estradas federais (investimentos de US$ 3,1 bilhões) planejados para 2006. Alguns desses projetos poderiam ser realizados através de Parcerias Público-Privadas (PPPs), com participação dos cofres públicos brasileiros.
No setor de energia, onde já existe uma estreita cooperação teuto-brasileira há décadas, abrem-se novas perspectivas de negócios. Enquanto os alemães querem vender tecnologia de energias renováveis ao Brasil, o governo brasileiro busca o apoio de Berlim para exportar etanol ao mercado alemão e europeu.
Assuntos internacionais
Segundo informações do Itamaraty, Lula e Amorim pretendem abordar vários assuntos bilaterais e multilaterais com Steinmeier, entre eles a reforma do Conselho de Segurança da ONU, proposta pelo G-4. Serão trocadas também avaliações sobre os desafios à paz mundial no Oriente Médio e a questão do programa nuclear iraniano. Brasil e Alemanha pretendem também discutir um projeto de cooperação trilateral para resolver a crise no Haiti, informou o Itamaraty.
A inclusão da questão do Irã na pauta é no mínimo curiosa, visto que o Brasil iniciou há poucos dias o enriquecimento de urânio em Resende (RJ) – antes o material era enviado para enriquecimento na Europa e reimportado. Como o país é considerado inofensivo e não se situa numa região em conflito, o fato não gerou protestos da comunidade internacional.
Cúpula de Viena e fair play na OMC
O principal assunto das conversações em Brasília serão os preparativos da próxima cúpula União Européia-América Latina e Caribe. Para o encontro em Viena (11 a 13/05) estão previstas negociações sobre a conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), prevista para julho. O Itamaraty tenta viabilizar também uma reunião de Lula com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, na capital austríaca.
Enquanto as relações bilaterais teuto-brasileiras são consideradas harmoniosas, há divergências entre Berlim e Brasília na questão do comércio mundial. A Alemanha e a UE querem mais abertura do mercado brasileiro para produtos industrializados e serviços. O Brasil, como líder do G-20 (grupo de países em desenvolvimento), pede o fim dos subsídios agrícolas da UE e melhor acesso para seus produtos agrícolas ao mercado europeu.
O Brasil é o principal parceiro comercial da União Européia na América do Sul. Em 2005, as exportações do país para a UE somaram US$ 26,5 bilhões, dos quais U$ 5 bilhões foram para a Alemanha. As importações brasileiras oriundas da UE foram de US$ 18,2 bi, dos quais US$ 6,1 em produtos alemães.
Desviando de problemas internos
Lula já deu por encerradas as "negociações técnicas" da Rodada Doha e disse que vai cobrar em Viena decisões políticas dos chefes de Estado e de governo europeus. Para ele, a visita de Steinmeier e a cúpula na Áustria, logo em seguida, também são oportunidades bem-vindas para desviar a atenção de problemas políticos internos.
Quatro dias após o retorno de Steinmaier à Alemanha, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pretende decidir, no dia 8 de maio, se dá início ou não ao processo de impeachment contra Lula. Como ele ainda dispõe de 38% de popularidade, até mesmo a oposição no Congresso admite que não será fácil derrubá-lo.
Steinmeier encontrará no Brasil um país em clima de Copa e um governo com imagem arranhada por escândalos de corrupção. Enquanto Lula talvez já sonhe com a conquista do hexa pelo Brasil como ajuda à sua campanha à reeleição, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, não descarta uma outra possibilidade: "Quem sabe, se a Alemanha ganhar a Copa do Mundo, fará concessões na OMC", disse recentemente, em reunião com 150 investidores alemães em Frankfurt.