Supostas negociações com o Irã podem prejudicar campanha de Obama
22 de outubro de 2012Os Estados Unidos negaram que estariam em negociações bilaterais com o Irã sobre o programa nuclear do país asiático, conforme publicado pelo jornal norte-americano The New York Times no último sábado (20/10). O diário afirma que os dois países concordaram em levar adiante conversas bilaterais sobre o assunto.
Ainda de acordo com a publicação, os representantes iranianos teriam insistido em esperar o resultado das eleições presidenciais de 6 de novembro para saber com quem eles iriam negociar.
"Não é verdade que os Estados Unidos e o Irã concordaram em negociações diretas ou qualquer outro encontro após as eleições parlamentares e presidencial dos Estados Unidos", disse no último sábado o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Tommy Vietor.
Ele enfatizou ainda que o presidente Barack Obama manterá sua posição e fará o necessário para impedir o Irã de possuir armas nucleares. Para o presidente, é responsabilidade de Teerã provar que não tem o propósito de construir a bomba nuclear. Do contrário, o país estaria sujeito a novas sanções, frisou Vietor.
Questão-chave: enriquecimento de urânio
As conversas sobre o programa nuclear entre o Irã e os cinco membros permanentes do Conselho Mundial de Segurança, além da Alemanha, foram suspensos em junho.
Teerã teria sinalizado a disposição em renunciar ao enriquecimento de urânio em grau elevado se, em contrapartida, as sanções internacionais fossem revogadas e o direito do Irã de enriquecer urânio fosse reconhecido.
O principal objetivo do Ocidente é evitar o enriquecimento acima de 20% pelo Irã. A substância, a partir desse nível, pode rapidamente ser transformada em material bélico.
Os Estados Unidos e Israel acusam Teerã de desenvolver, em segredo, armas nucleares. No entanto, o Irã alega que seu programa nuclear tem somente objetivos civis. Israel tem ameaçado reiteradamente com uma ação militar contras as instalações nucleares iranianas.
Prejuízos eleitorais para Obama
Obama está sob forte pressão e tem poucos resultados para apresentar na questão iraniana. A falta de avanço no conflito com o governo em Teerã pode acabar causando prejuízos ao presidente na apertada corrida presidencial.
O republicano Mitt Romney, adversário de Obama na corrida presidencial, afirma que o fracasso das negociações, até este momento, é culpa do presidente. Romney é contra negociar com o Irã e a favor de uma política mais dura para o país.
O objetivo comum de Obama e Romney é limitar o Irã como poder geopolítico na região, afirma o especialista em Oriente Médio Michael Lüders. "O Irã é o único país da região, juntamente com a Síria, que pratica uma política anti-ocidental. Do ponto de vista ocidental, o Irã é, de certa maneira, a última ovelha negra na região."
Para o especialista, as tensões vão continuar independentemente de quem for eleito para comandar a Casa Branca.
Para o especialista em Oriente Médio, há provocadores nos dois lados: tanto no Irã quanto nos Estados Unidos e em Israel. "Até certo ponto eles precisam um dos outros para manter suas posições extremistas."
O Irã tem direito ao uso pacífico da energia nuclear, frisa Lüders. O país é um dos estados signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas Nuclear e, com isso, se compromete a passar por controle internacional.
Dessa forma, seria uma exigência irrealista de Israel querer que o Irã cesse totalmente o enriquecimento de urânio e encaminhe para fora do país todo o urânio já enriquecido. "Isso não está em conformidade com o direito internacional e não seria, naturalmente, cumprido pelo Irã. Essa é uma exigência que não pode ser tomada como requisito para uma saída negociada."
Obama teria reconhecido essa situação, opina Lüders. E ele saberia que teria que retirar essa exigência, colocada principalmente por Israel, da mesa de negociações.
Reconhecimento ou mudança de regime
O especialista em Oriente Médio não acredita que o governo do presidente Obama considere seriamente a possibilidade de uma guerra contra o Irã. "Como se sabe, as guerras no Iraque e no Afeganistão não foram um modelo de sucesso. E uma nova guerra iria desafiar seriamente a capacidade militar dos Estados Unidos."
Para o cientista político, o cerne da questão é se o Ocidente está preparado para reconhecer o Irã como um ator geopolítico no Oriente Médio ou se continuará tentando, por meio da questão nuclear, promover uma mudança de regime em Teerã.
Autor: Günther Birkenstock (fc)
Revisão: Alexandre Schossler