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Suspensão de ataque dos EUA fortalece radicais no Irã

21 de junho de 2019

O abate de um drone americano foi encarado como um sucesso pelos militares do Irã e celebrado por parte da população. Porém, membros da linha dura fazem aposta arriscada de que Trump não deseja uma guerra

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Radicais iranianos, especialmente o aiatolá Khamenei (foto), acreditam que Trump não começará uma guerra, diz analista
Radicais iranianos, especialmente o aiatolá Khamenei (foto), acreditam que Trump não começará uma guerra, diz analistaFoto: ILNA

Faltando apenas dez minutos para o seu início, o presidente americano, Donald Trump, cancelou abruptamente um ataque que os EUA realizariam contra o Irã em retaliação ao abatimento de um drone de vigilância americano.

Os aviões já estavam no ar e navios em posição para atacar três locais, mas não houve nenhum disparo. Em mensagem no Twitter, Trump afirmou que as 150 mortes esperadas pelos militares americanos seriam "desproporcionais" em comparação com o abate do drone. 

"Parece que o governo americano tem dúvidas ou não sabe como responder às provocações na região do Golfo", disse a jornalista Farzaneh Roostaei em entrevista à DW. Ela vive há sete anos em exílio na Suécia e é considerada uma especialista em assuntos militares e armamentos na região do Golfo.

"O secretário de Estado dos EUA [Mike Pompeo] disse há um mês que Washington reagiria com determinação militar a qualquer ataque", frisou Roostaei. "Agora, eles hesitam, e esta hesitação reforçou a posição dos adeptos da linha dura do regime no Irã."

O Irã abateu um drone de reconhecimento dos EUA nesta quinta-feira (20/06). "Ele foi abatido quando invadiu o espaço aéreo iraniano perto do distrito de Kuhmobarak", contou Hossein Salami, comandante da Guarda Revolucionária do Irã. Teerã diz ter "provas irrefutáveis" de que seu espaço aéreo foi violado pelo drone americano.

Por outro lado, Trump salientou que "estava cientificamente documentado" que o drone estava em curso no espaço aéreo internacional. Tanto o Irã quanto os EUA podem estar corretos em suas avaliações, diz Jame Clapper, ex-coordenador de inteligência dos EUA sob a administração Barack Obama.

Em entrevista à emissora americana CNN, ele apontou que o Estreito de Ormuz é relativamente estreito e que o drone poderia ter entrado no espaço aéreo iraniano por um curto período de tempo e, ao ser abatido, ter regressado ao espaço aéreo internacional. O especialista em inteligência também destacou que "os primeiros relatórios nunca são precisos".

"Há notícias que me deixam orgulhoso. Por exemplo, que um drone de espionagem americano foi abatido após violar o espaço aéreo iraniano", escreveu Jamileh Kadivar, política oposicionista pró-reformas e ex-parlamentar no Twitter.

Kadivar não é o único usuário iraniano de redes sociais que está "orgulhoso" das capacidades militares do Irã. Muitos internautas que criticam os EUA estão torcendo nas redes sociais pelo "triunfo" da Guarda Revolucionária do Irã.

De acordo com o seu fabricante Northrop Grumman, o drone americano Global Hawk pode voar 30 horas em altitudes elevadas e transmitir imagens em alta resolução de áreas extensas em tempo quase real. Ele é considerado o maior sistema de drones do mundo e é particularmente caro.

Ele foi especialmente desenvolvido para ser pouco vulnerável mesmo ao operar em altitudes elevadas. De acordo com o comandante da Guarda Revolucionária do Irã, a capacidade de abater tal drone é "um sinal claro" para os EUA.

"Esses ataques também são um sinal interno claro", explicou Kamran Matin, professor de relações internacionais da Universidade de Sussex, na Inglaterra. "Os adeptos da linha dura no Irã querem apresentar à sua base a resistência contra os EUA e, ao mesmo tempo, deixar claro aos seus vizinhos na região quais capacidades que possuem."

Oficialmente, o Irã não quer uma guerra contra os EUA. O secretário do Conselho de Segurança Iraniano, Ali Shamchani, afirmou nesta quarta-feira (19/06) que "não há razão alguma para guerra, porque as insinuações americanas contra outros países são uma tática mundialmente conhecida dos EUA para exercer pressão política."

Já Hossein Salami, da Guarda Revolucionária do Irã, destacou que não se deseja um conflito militar no Golfo Pérsico, mas também "não hesitaria por um segundo" para defender suas fronteiras "contra ataques americanos irracionais". O Irã anunciou que irá denunciar à ONU o "uso agressivo de drones" pelos EUA.

"Os adeptos da linha dura no Irã, especialmente o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, acreditam firmemente que o governo dos EUA sob Donald Trump não começará uma guerra faltando um ano e meio para as eleições", afirmou Kamran Matin, da Universidade de Sussex.

Ele disse também que os adeptos da linha dura parecem esperar que Trump não seja reeleito e que o próximo presidente esteja pronto para negociar com Teerã. Dessa forma, eles querem manter sua resistência contra os EUA neste próximo um ano e meio.

Mas as provocações do Irã podem levar países ocidentais a mudar sua posição em relação a Teerã. Isso daria aos EUA mais margem de manobra para implementar sua política de "pressão máxima sobre o Irã", ou seja, para impor mais sanções ou, até mesmo, realizar ações militares.

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