Sórbios versus realidade
13 de fevereiro de 2003A maior minoria alemã luta por sua identidade. Os sórbios querem manter seu idioma. "O sórbio tem de permanecer vivo no dia-a-dia", deseja Bernhard Ziesch, secretário-geral da Domowina, a Associação dos Sórbios de Lausitz, região do leste da Alemanha também conhecida em português por Lusácia. Embora garantida por lei, a preservação da língua esbarra num problema prático: nas escolas bilíngües de Lausitz faltam professores em todas as disciplinas que falem sórbio com fluência, inclusive para a matéria Língua Sórbia.
Quem são
Este povo eslavo vive há 1400 anos na região ao longo dos rios Oder e Neisse, que delimitam a fronteira alemã com a Polônia. As constituições estaduais da Saxônia e de Brandemburgo garantem a esta minoria o direito à preservação e ao fomento de sua própria identidade. Mas nem a lei pode assegurar a sobrevivência cultural de uma etnia.
As tradições dos 40 mil sórbios que vivem na Saxônia e dos 20 mil de Brandemburgo vão muito além de ovos pintados e cavaleiros enfeitados na Páscoa. Estes eslavos alemães possuem dramaturgia, literatura e música próprias, fortemente influenciadas pela religião. Mas, ao contrário de outros povos, as tendências do mundo moderno também ganharam espaço na cultura sórbia, a qual contempla hoje canções pop e raps.
Um programa na emissora pública de tevê MDR tenta ajudar a manter vivas as tradições. Mas a taxa de natalidade decrescente entre os sórbios e a crise econômica ameaçam sua sobrevivência. "O número de crianças sórbias vem diminuindo e com isto temos menos alunos", constata Jan Nuck, presidente da Domowina. Por outro lado, a falta de perspectivas de trabalho em Lausitz levam os jovens a abandonar a região para estudar e procurar emprego em cidades maiores.
Oferta tentadora em meio à crise
A crise econômica, entretanto, pode dar sua contribuição para salvar o sórbio. Diante da escassez de professores com domínio do idioma em todas as séries do ensino fundamental e médio, as autoridades de Lausitz e o movimento étnico resolveram partir para a ofensiva com um apelo tentador num país e numa região em que o desemprego atinge índices cada vez mais alarmantes.
"Estamos estimulando os estudantes a cursar Sorabística na universidade. Podemos garantir emprego a eles após a diplomação", afirma Werner Böhme, da Secretaria de Educação de Bautzen, na Saxônia.
Na Alemanha, a única universidade a oferecer graduação em Sorabística é a de Leipzig. Recentemente, uma nova opção se abriu na Universidade de Praga. "Eles nos asseguraram que estudantes alemães poderão estudar sórbio sem taxa de matrícula, tal como os colegas tchecos", relata Bozena Paulik, do projeto Witaj de revitalização da cultura da minoria étnica.
"Sórbio é o idioma que liga nosso país a nossos vizinhos poloneses e tchecos", reforça Ziesch, secretário-geral da Domowina, procurando mais uma boa justificativa para a salvação da língua e das tradições da maior minoria alemã.